sexta-feira, 24 de julho de 2009

22. O Rodízio


Mô Quiridu,

Adjaôj, Ô i o Crébe passemo a tardi todinha joganu dominó lhá na Praça XV, ôh. Ele é o mô baita amigo, máj o pióri parcero qui arguém podi di tê no dominó. Nô tem? Máj dissu tudo, o qui importa meso é qui esse foi o dia di sorte do Crébe i nój ganhemo a nossa premera partida junto. Na verdadi nój abafemo no jogo, rapaj. Ele si emociono-se todo i mi convidô pra fextejá, nossa vitória, num rodizo de pizza. Ô nem sabia o que era o tali do rodizo dereito, máj fui cheio do orguio...

Ixtepô: Só tu meso para me trazê num rextorante chiqui desse, mô quiridu!
Crébe: Ãh-ãh-ãh! Tu me desse a alegria máj grandi da minha vida! Ô tinha qui ti trazê num lugari di categoria, quiridu.
Ixtepô: Tu váj deixá unj pila aqui, isso deve di se caro. Vê só, essej baita quejão dipindurado no teto, aj carni adefumada, aj toaia xadreza náj mesa. Qui finura é essa, rapaj!
Crébe: Tu nô visse nada, aqui elej seve prá máj di duzentaj e trinta e sete qualidade de pizza.
Ixtepô: Táj dizenu qui dá di cume a miguéli, é isso que tu ta dizenu?
Crébe: Então, então! Si cabê, tu podij cumê um pedaço ou máj, di cada uma delaj. Dá di si impanziná. Entendesse?
Ixtepô: Côsa linda!
Crébe: Ixtepô! Pára di botá reparu in tudo, rapaj.
Ixtepô: É ca agora cô intendi, qué côj garçom ando arrodiando pela aí, ôh. Issu qui é o tali do rodizo!
Crébe: Então, pronto prá começá?
Ixtepô: Qué cô faço?
Crébe: É só virá esta bolachinha de prástico pro lado verdi. Isto qué dizê qui nój queremo cumê. Se virá pro lado vermeio é sinali qui já tamo cheio. Entendesse?
Ixtepô: Côsa fina meso, Crébe! Vô dá o sinali então...

Foi Ô virá a bolachinha i oj garçon começaru a chegá inguali pexe no engodo. Aquilo era um cardumo preto i branco i cada um delej quiria largá um pedacinho nu mô prato. No deu cinco minute i Ô já tinha comido dizoito fatia di pizza. Ô pensei qui tinha qui aceitá tudo qui elej mi oferecia, né ôh! Máj ô ví qui o Crébe tava deixanu passá argumaj, daí perguntei prá ele:

Ixtepô: Crébe, tu nô mi dissésse ,prá mim, virá a bolachinha si nô quizesse cumê, mô quiridu?
Crébe: Disse.
Ixtepô: Máj tu táj neganu argumaj i nô vira o sinali.
Crébe: Nô é ansim, sô tanso! Só si muda o sinali pro vermeio quanu acabá di cume.
Ixtepô: Rapaj, Ô sô um abobado meso, né ôh! Ô tava achanu qui issu era inguali sinalera: Verde-quero, vermeio –nô quero, verde-quero, vermeio –nô quero....
Crébe: Daí era bom di tê um sinali amarelinho, ansin : ATENÇÃ, mô quiridu, tô quagi empanzinado.
Ixtepo: Éj um atentado né ôh! Vamu pará de ixtória i continuá cumenu.
Crébe: Tá bom. Qui tali uma ceuvejinha prá acompanhá?
Ixtepo: Adiscurpa, máj Ô queru um daquelej refrigeranti qui derrete tudo qui encontra pelaj frenti.
Crébe: Vamo de Soda Cola, então?
Ixtepô: Máj da normali i cum limão galego! Nô mi vem co aquelaj coisa meia alambicada di laiti o zéru!

Rapaj, no qui engoli a Soda Cola, si abriu-se um buracu no mô inxtâmagu i Ô cumi máj setenta i trêj pedaço. Foi pizza di presunto, tomato, palmitu, brócoli, champinhão, lingüiça, portuguesa, quatro quejo, cinco quejo, sêj quejo, i óia cô ainda nô ti falei, pra ti, dáj doce. Tinha di chocolate cô morangue, melância cô melado i di souveti . A cumilança foi tão grandi cô fiquei cum ixtremiliqui i tive di virá a bolachinha. O Crébe viu cô tava numa situaçã difíci i si arriô-se em mim:

Crébe: Azulasse mô quiridu!
Ixtepô: Isso é farinha poca pro mô pirão, sô abobado! Ô até cumia máj unj cinco o sêj pedaçu só qui nô tem do sabori cô goxto.
Crébe: Tenj tempo né, oh! Duzentaj e trinta e sete qualidadi deferente de pizza e nô tem a qui tu goxtaj.
Ixtepô: Então dá só uma oiadinha no cardápe. Se tu achá pizza de tainha, Ô continuo cumeno, até amanhã, mô quiridu.

Traduzindo.....

Meu Querido,

Hoje, eu e o Kléber passamos a tarde jogando dominó lá na Praça XV. Ele é o meu melhor amigo, mas o pior parceiro que alguém pode ter no dominó. O que importa mesmo é que este foi o dia de sorte do Kléber e, pela primeira vez, nós ganhamos uma partida juntos. Na realidade nós jogamos muito. Ele ficou todo emocionado e me convidou para comemorar, nossa grande vitória, em um rodízio de pizzas. Eu não sabia direito o que era o tal rodízio, mas aceitei o convite muito satisfeito......

Ixtepô: Só tu mesmo para me trazer num restaurante chique destes, meu querido!
Kléber: Ixtepô , hoje tu me destes a maior alegria da vida! Eu tinha que te trazer num lugar de categoria.
Ixtepô: Tu vais gastar um nota preta aqui. Olha só, estes queijos enormes pendurados no teto, carne defumada, as toalhas xadrezes, o que é isto?
Kléber: Tu não vistes nada, aqui eles servem duzentas e trinta e sete variedades de pizzas. Se tu conseguires, podes comer um pedaço , ou mais, de cada uma delas.
Ixtepô: Então eu posso comer muito mesmo?
Crébe: Se couber pode comer um ou mais pedaços de cada uma. Dá para se empanzinar comendo.
Ixtepô: Maravilha!
Crébe: Ixtepô, tu não para de olhar para tudo, rapaz!
Ixtepô: Agora entendi o que os garçons estão fazendo rodando por ai. Isto é o tal do rodízio.
Kléber: Vamos começar?
Ixtepô: Como é que eu faço?
Kléber: É só virar esta bolachinha de plástico para o lado verde. Isto significa que a gente está comendo. Quando virarmos para o lado vermelho indica que não queremos mais.
Ixtepô: A coisa é fina mesmo, meu querido. Vou dar o sinal então...

Foi eu virar a bolachinha e os garçons começaram a chegar igual peixe na isca. Era um cardume preto e branco e cada um queria deixar um pedaço no meu prato. Em menos de cinco minutos eu já tinha comido dezoito fatias de pizza. Eu pensei que tinha que aceitar todo o sabor que eles ofereciam mas, percebi que o Kléber estava recusando alguns e perguntei:

Ixtepô: Kléber tu não disseste que quando nós não quiséssemos mais, deveríamos virar a bolachinha?
Kléber: Disse.
Ixtepô: Mas você está recusando algumas e não vira o sinal.
Kleber: Não é assim! A gente só muda o sinal para vermelho quando acabar.
Ixtepô: Rapaz, eu sou tolo mesmo, achei que o negócio funcionava igual semáforo: Verde-quero, vermelho–não quero, verde-quero, vermelho –não quero....
Kleber: Daí era bom um amarelo dizendo: Atenção já estou quase cheio.
Ixtepo: Bobalhão! Vamos continuar comendo.
Kleber: Tá bom. Que tal uma cervejinha para acompanhar?
Ixtepo: Desculpa meu querido, mas eu quero um daqueles refrigerantes que derrete tudo que encontra pela frente.
Kléber: Vamo de Soda Cola, então?
Ixtepô: Mas da normal e com limão galego! Não me vem com aquelas frescuradas de Light ou Zero!

No que tomei a Soda Cola, abriu-se um espaço no meu estômago e eu comi mais setenta e três pedaços. Foi pizza de presunto, tomate, palmito, brócolis, champignon, calabresa, portuguesa, mignom, 4 queijos, 5 queijos, 6 queijos, sem falar das doces. Tinha até de chocolate com morango, melancia com melado e de sorvete . A comilança foi tamanha que me deu um tremor e eu tive de virar a bolachinha. O Kléber que ainda estava comendo, me olhou, riu e soltou outra piadinha:

Kléber: Se entregou meu querido!
Ixtepô: Isto não é nada para mim! Eu até comia mais uns cinco ou seis pedaços, mas não tem do sabor que eu gosto.
Kléber: Tu estás brincando! Duzentas e trinta e sete qualidades diferentes de pizza e não tem o sabor que tu gostas.
Ixtepô: Então dá uma olhadinha no cardápio, querido. Se tu encontrares pizza de tainha, eu continuo comendo até amanhã.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

21. O Boi-de-Matisse

Mô quiridu!

A Joaquina sempre gostô muitcho de cunversá i agora, cô Neto moranu cá gente, ela tem quem azucriná caj ixtória dela. Ô já conheço todaj bem dereitinho, de tráj prá frente i no guento máj. Bom, onti nój tava sentado na frente di casa, depôj da janta, quanu o Neto se atraco-se a falá qui tava inxtudanu oj grande Pintori da Humanidade. Aquilo é otro qui parece qui tem cósca na língua, ôh! Ele disse qui percisava fazê um trabaio da inxcola, contanu arguma côsa deferente da vida dum delej. A Joaquina nô se aguento-se e tomô conta do assunto:

Joaquina: Neto, tu táj inxtudano oj grande Pintori, nô táj? Pelum acauso tu já ouvisse falá do Victor Meirelles, mô quiridu?
Neto: Bah, claro que sim, vó! Ele é um grande ícone.
Joaquina: Íncuni, táj tolo táj? Ele era um manézinho, isso é qui ele era, sô tanso! Na verdadi ele nasceu aqui, quanu Florianópoij inda si chamava Nossa Senhora do Desterro.
Neto: Vó, esta foi triboa. Eu quero dizer que o Victor Meirelles é um símbolo da arte de Florianópolis, do Brasil e do Mundo.
Joaquina: Agora intendi ! Entendesse?
Neto: E daí vó, tu conhece algum fato especial da vida dele? Tô triafim de saber. Conta aí, enquanto eu tomo este chima.
Joaquina: Então nô sei! Maj Ô vô ti contá, pra ti, otra hora. Agora tu váj sabê é da temporada qui o Matisse passô aqui in Florianópij.
Neto: Bah, tchê! Tu tá falando do Henri Matisse, o famosos pintor francês, vó?
Joaquina: É claro rapaj! Di quem havéra di sê?
Neto: E quando foi que o Matisse visitou Florianópolis?
Joaquina: Pôj então! Foi na épuca da segunda guerra mundiali.
Neto: Bah, vó tu não é fácil. Eu também li que o Matisse pensou em vir morar no Brasil, durante a guerra. Inclusive ele tava pronto para a viagem, já tinha até passaporte o carinha. Mãs, espera um pouco. Como tu sabe disto, andaste lendo a respeito?
Joaquina: Nô sêje abobado, rapaj! Foi a minha mãe qui me contô, pra mim, quando Ô ainda era rapariga piquena.
Neto: Este é do tempo do epa, vó! Mãs eu to pronto para ouvir o causo todo.
Joaquina: Tu ta mi danu linha, né oh! Bom, disse a mãe qui ele chegô por aqui muitcho intristecido i só ca roupa do corpo.
Neto: Mãs, onde ele ficou em Florianópolis?
Joaquina: Aquilo andô por aqui e por ali, máj si encantou-se com a luj do soli i da lua na nossa Lagoa da Conceição. Então, decidiu morar aqui na Barra da Lagoa por um tempo.
Neto: Conta mais vó, to tricurioso.
Joaquina: Ele nô era di muitcha falaçã, tinha um sotaqui meio inxtranhu i goxtava de saí pro mar côj pexcadô. Máj ninguém nô sabia nem o nomi do degranido. Todo mundo chamava ele di “O Francêj”.
Neto: E ele pintou muito, enquanto esteve aqui?
Joaquina: Vô ti dizê qui não. A mãe disse que só ficaru sabenu qui ele era artista na úrtma semana, poco antij dele vortá pra França.
Neto: Como assim?
Joaquina: Tava na épuca do folguedo de boi-de-mamão e o meu pai convidô o Francêj pra assisti a apresentaçã do grupe dele.
Neto: Bah, nada a vê vó! Matisse em festa de Boi-de-mamão?
Joaquina: Nô impomba, deixa Ô falá, rapaj ! O Francêj foi na fexta, goxtô daj música, daj cori i doj movimento. Si encanto-se i toda hora sortava um tali di “ Cefantastic”.
Neto: Vó, teu causo ta tribom, mãs eu ainda não consegui entender como descobriram que ele era o artista plástico Henri Matisse.
Joaquina: O cô sei é qui ele tava ali, todo atolexmado assistino o boi, sentado numa cadeira de paia. Bem do ladinho dele, tinha uma menininha brincanu cunj pedaço de papeli, uma tesourinha i unj vrido di tinta guache. Ele nô si aguanto-se i pegô unj papeli, pintô di guache e começô a corta i colá umaj figura.
Neto: Vai me dizer que ele criou alguma obra com recorte aqui em Floripa.
Joaquina: Uma obra, tu quéj dizê um quadro? Qui nada, rapaj! Ele fêj foi a séria “ boi-de-Matisse” todinha. I tem máj, deu aj obra tudo di presente pro pessoali qui organizô a fexta. Aqueles trêj quadro lá na sala são dele. Nô tem?
Neto: Valeu vó, meu trabalho vai ficá tri bagual! Vou até tirar umas fotos dos quadros.
Joaquina: Tu anotasse tudo o qui Ô falei, no bróco, nô anotasse?
Neto: Claro! Mãs me conta a verdade, a criancinha brincando com a tinta, a tesourinha e os papéis era tu, não era vó?
Joaquina: Sêje bobo rapaj, Ô nô vô dizê pra ti. Tu querej é sabê a minha idade,né sô confiado?

Traduzindo.....

A Joaquina sempre gostou muito de conversar e agora, com o Neto morando com a gente, ela tem para quem cotar e recontar as velhas histórias, das quais, eu conheço a grande maioria. Ontem, nós estávamos sentados em frente a nossa casa, depois do jantar, quando o Neto resolveu falar que estava estudando os grandes pintores da humanidade. Aquele é outro que fala sem
parar. Disse, ainda, que precisava fazer um trabalho, para a escola, tratando de um fato inusitado na vida de um deles. Neste ponto, a Joaquina tomou as rédeas da conversa e começou a tagarelar:

Joaquina: Neto, meu querido! Se tu estás estudando os grandes pintores, provavelmente já ouviste falar no Victor Meirelles.
Neto: Claro que sim, vó! Ele é um grandes ícone.
Joaquina: Que ícone, menino? Ele é um manézinho, isto sim. Na verdade nasceu aqui, quando Florianópolis ainda se chamava Nossa Senhora do Desterro.
Neto: Eu sei disto, vó. Eu quero dizer que ele simboliza a arte de Florianópolis, do Brasil e do Mundo.
Joaquina: Agora entendi!
Neto: E daí vó, tu sabes algum fato diferente sobre a vida dele. Conta ai, enquanto eu tomo este chimarrão.
Joaquina: Então não sei! Mas eu te conto outra hora. Hoje eu quero te falar sobre a estada do Matisse em florianópolis. Quer fato mais inusitado que este?
Neto: Vó, tu estas falando do Henri Matisse, o famosos pintor francês?
Joaquina: É claro que estou! Que outro seria?
Neto: E quando foi que o Matisse visitou Florianópolis?
Joaquina: Pois então! Foi na época da segunda guerra mundial.
Neto: Tu não és fácil, vó. Eu também li que o Matisse pensou em vir morar no Brasil, durante a guerra. Inclusive ele já tinha até passaporte pronto para a viagem. Mas, espera um pouco. Como tu sabes disto, andaste lendo a respeito?
Joaquina: Claro que não. Foi minha mãe quem me contou, tudinho, quando eu ainda era menina.
Neto: Mas agora és tu quem vai me contar esta história toda, vó.
Joaquina: Disse a mãe, que ele chegou por aqui muito entristecido só com a roupa do corpo.
Neto: E onde ele ficou em Florianópolis?
Joaquina: Ele andou por aqui e por ali, mas se encantou com a luz do sol e da lua, relfetidas em nossa Lagoa da Conceição.
Então, decidiu morar aqui na Barra da Lagoa, por um tempo.
Neto: Conta mais vó.
Joaquina: Ele falava pouco, com um sotaque meio estranho e gostava de sair para o mar com os pescadores. Mas nem o nome dele as pessoas sabiam, todos o tratavam como “ O Francês”.
Neto: E ele pindou muito, enquanto esteve aqui?
Joaquina: Pois tu sabes que não. A mãe disse que só ficou sabendo que ele era artista na última semana, ates dele partir.
Neto: Como assim?
Joaquina: Era época de folguedo de boi-de-mamão e o meu pai convidou o Francês para assistir a apresentação de seu grupo. Neto: Nada a ver vó. Matisse em festa de Boi-de-mamão?
Joaquina: Calma menino, deixa eu falar! O Francês foi à festa, gostou muito da música, das cores e do movimento. Ficou
maravilhado e a todo momento soltava um tal de “ C’est Fantastique”.
Neto: Vó, tá muito boa a sua história, mas ainda não consegui entender como descobriram que ele era o artista plástico Henri Matisse.
Joaquina: Dizem que ele estava ali maravilhado, assistindo o boi, sentado em uma cadeira de palha. Ao seu lado, uma menininha brincava com pedaços de papel, uma tesourinha e alguns vidros com tinta guache. Certo momento ele pediu parte do papel, pintou com guache e começou a recortar e a colar figuras.
Neto: Vai me dizer que ele criou alguma obra aqui!
Joaquina: Que nada! Ele fez foi a série “ boi-de-Matisse” todinha e pesenteou os organizadores do folguedo. Aqueles três
quadros lá na sala são dele.
Neto: Valeu vó, o meu trabalho vai ficar muito bom! Vou até tirar umas fotos dos quadros.
Joaquina: Anotastes o que eu falei?
Neto: Claro. Mas me conta a verdade. A criancinha brincando com a tinta, a tesourinha e os papéis era tu, não era?
Joaquina: Não vou dizer. Tu queres é saber a minha idade,não é seu abusado?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

20. Se pode, pode...

Mô Quiridu!

Despôj di cinco ano, o Deca está de vorta a Florianópij. Ele é o filho máj novo do Badejo i si criô-se aqui, na Barra da Lagoa. Ô mi a lembro qui ele nô goxtava di pexcá i vivia cum livro dibaxo du braço. Nô é qui o rapaj inxtudo, si formo-se, viajô i vortô Dotô, lhá do Avaí. Entendesse? Onti ele teve, cá família dele, jantanu lhá em casa. Nój falemo muitcho máj, Ô tenho que ti contá, pra ti, o menuj uma parte da cunversa:

Deca: ... Eu estava com saudades desta comidinha gostosa da Dona Joaquina.
Joaquina: Brigada, nego! Máj tá tão,tão,tão simprizinha!
Ixtepô: Nô sêje tansa, má quirida! Ô vô ti dize, pra ti, qui nô inzixti uma tainha no feijão, inguali a tua, im nehum otro lugari do mundo.
Joaquina: Goxtasse meso, Deca?
Ixtepô: Nô percisa mem priguntá, o rapaj já tá empanzinado di tanto qui comeu, ôh!
Deca: E esta farinha, fina e saborosa, então.
Ixtepô: Isso é herança açoriana, mô quiridu.
Deca: Por falar em açorianos. Vocês sabem que eles tiveram presentes no Hawaii e deixaram suas marcas por lá?
Ixtepô: O rapaj atentado! Dexa di dizê bobage, Deca.
Deca: Eu não estou brincando com vocês. Eles estiveram por lá sim.
Ixtepô: Então, então! Elej deixaro muitchas marcas?
Deca: Nem tanto, quanto aqui. Mas a frase estampada na camiseta que trouxemos, só pode ser açoriana.
Ixtepô: Dexa Ô lê! IF CAN, CAN. IF NO CAN, NO CAN.
Deca: E então?
Ixtepô: Deve di sê arguma côsa do tipe: Quéj, Quéj. No quéj, dij!
Deca: É mais ou menos por ai.
Ixtepô: Côsa linda, quiridu! Arrombassi com esse presente,ôh.

Nisso, o Neto se alevantou-se e foi correndo oiá a frase, na enternet. O rapaj é ligero qui é uma côsa. Em dôj toque achô até um saiti vendeno aj tali daj camiseta . Pra tu nô dizê qui é mentira, mô quiridu, vêje no indereço:

http://store.localkinehawaii.com/ifcacaifnoca.html
Quéj, Quéj. No quéj, dij! ou,
Se pode, pode. Se nô pode, nô pode!

Traduzindo.....

Passaram-se cinco anos e o Deca está de volta a Florianópolis. Ele é o filho mais novo do Badejo e cresceu aqui, na Barra da Lagoa. Eu lembro que ele não gostava muito de pescar com o pai e vivia sempre com um livro na mão. Pois o rapaj estudou, formou-se, viajou e voltou Doutor, lá do Hawaii. Ele e a família foram jantar, em nossa casa, ontem. Nós conversamos bastante e eu tenho que te contar parde desta conversa :

Deca: ... Eu estava com saudades desta comidinha gostosa da Dona Joaquina!
Joaquina: Mas é tão simples!
Ixtepô: Não sejas boba
Joaquina. Uma tainha no feijão não se encontra em qualquer lugar não.
Deca: E esta farinha, fina e saborosa, então.
Ixtepô: Isto é herança açoriana, meu querido.
Deca: Por falar em açorianos. Vocês sabem que eles tiveram presentes no Hawaii e deixaram suas marcas por lá?
Ixtepô: Tu é um gozador! Para de brincadeira, meu querido.
Deca: Eu não estou brincando com vocês. Eles estiveram por lá sim.
Ixtepô: E a influência deles na cultura foi muito grande?
Deca: Não foi tão marcante, quanto aqui. Mas a frase estampada na camiseta que trouxemos, para vocês, só pode ser
açoriana.
Ixtepô: Deixa eu ler! IF CAN, CAN. IF NO CAN, NO CAN.
Deca: E então?
Ixtepô: Deve ser o equivalente ao nosso: Quéj,
Quéj. No quéj, dij!
Deca: É mais ou menos por ai.
Ixtepô: Adorei meu querido, eu não podia ganhar nada melhor.

Nisso, o Neto levantou-se e foi correndo verificar a frase, na internet. O rapaz é ligeiro! Até encontrou um site vendendo as tais camisetas . Para tu não dizeres que esta, também, é história de pescador. Dê uma olhadinha no site:

http://store.localkinehawaii.com/ifcacaifnoca.html

Se queres, queres. Se não queres, diz!
Se pode, pode. Se não pode, não pode!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

19. Cada pote no seu lugar

A Joaquina nunca si encarnô-se cô arrumação da casa. Ô vô ti dizê, pra ti, qui ela nem liga muitcho prá isso. Entendesse? Maj, Ô nunca nô intendi é a mania qui ela tinha di comprá tapiuéri. Isso si iniciô-se lhá peloj ano 80, quanu ela i umaj amiga si ajuntavu prá fofoca i tomá um cafézinho cô mixtura, dizenu qui era “Runião do Grupe di Tapuéri”. Elas vendia i comprava potinho di prástico, uma daj otra, num inxquema qui até aparecia a “Pirâmida do Tapiuéri”. Nô tem? Tu nô imaginaj qui ela tinha tapuéri prá guardá tapuéri dentro. Cumé qui pode né, ôh! Maj o tempo passô-se, aj runião fôro ficanu insossa i o inxquema do tapuéria si acabo-se. Ô achava qui daquelaj época só tinha sobradu, la im casa, o jeito qui a Joaquina arrumava oj potinho. Mô filho, eles ficava tudo empiado naj partelera, na marra, só inxperanu prá caí. Maj, adjaôj di tardezinha, a Joaquina chegô im casa toda facera, cheia di novidadi i falanu ansim:

Joaquina: Ixtepô, tu nô sabej onde Ô tive o dia todo!
Ixtepô: Ô nô sô vidente, ná quirida! Claro que não sei, indamáj qui Ô cheguei du mar e tu já nô tavaj.
Joaquina: Então, então! A Clokirida passô aqui i nój descemo pro centro.
Ixtepô: Ó, ió, ió. Fizesse compra de certo?
Joaquina: Pió qui nô fizemo gradej compra! Maj corremo aquela Conselhero Mafra, de cima prá baxo, todinha.
Ixtepô: Como ansim?
Joaquina: Ora rapaj, entremu em tudo quantu é lojinha, fomo na casa do Artesão, no Mercado Público i na vorta, deu tempo prá nój entrá na loja Mili Dôj.
Ixtepô: Tu tenj tempo, né ôh!
Joaquina: Pôj então, i elej tinha oferta di tapuéri, num balaio! Tu sabej cô nô rezixto um potinho, né mô quiridu? Inda máj si é originali.
Ixtepô: Que qué isso! Nô váj me dizê, pra mim, qui tu comprasse tapuéri dinovo, váj?
Joaquina: Para nego! Ô só comprei dôj pote piqueno, prá guardá a sobra do pirãozinho di nailo cô vô fazê pra ti, mô quiridu.
Ixtepô: Nô vem mingambelá, cô nô sô tanso! Tu sabej qui essa missidade di pote vai inxtorvá aqui im casa. I tem máj, prástico nô é degradáv.
Joaquina: Vô ti fala, prá ti, qui o Neto chegô da inxcola, falanu dessaj côsa. Nô tem?
Ixtepô: O rapaj tá inxtudanu. Aquilo nô prega, prego, sem ixtopa!
Joaquina: Máj será qui o prástico perjudica tanto meso?
Ixtepô: O pobrema maióri é como aj pessoa joga oj prástico fora.
Joaquina: Inxprica isso rapaj, cô já tô meia neuvosa.
Ixtepô: Ô tenho vixto côsa má quirida. Já vi ilha di prástico boianu mar a fora, já tirei uma montuera di garrafa pet derretida noj coxtão i até tartaruga engaxgada cô sacolinha di sumercado Ô já vi. Essaj côsa, tudo, começa dentru daj casa da genti.
Joaquina: Tu tenj razão, mô quirido.Temo qui sê oj premero a preseuvá, afinali semo daqui. Mi ajuda a separá oj tapuéri, aj sacola i aj garrafa di prástico. Bota tudo na Kombi qui nój vamu levá prá recicrage.

Vô ti dizê, prá ti, cô fiquei todo orguioso da Joaquina. Máj quanu Ô puxei o premero potinho da partelera i oj otro cairu, tudo, im cima di mim... Ô tive qui contá até trêj, porque a minha vontadi era di dá um chute i fazê tapiuéri avuá prá tudo quantu é lado.
Inda bem qui foi a úrtma vêj!

Traduzindo.....
A Joaquina não é nehuma fanática por organização, na verdade ela não presta muito atenção nisto. Eu não entendo é a mania que ela tinha de comprar tupperware. Isto começou lá nos anos 80, quando ela e algumas amigas se juntavam para fofocar e tomar um bom café da tarde, usando como pretexto a reunião do grupo de tupperware. Elas vendiam e compravam potinhos plásticos umas das outras em um esquema que parecia a Pirâmide do Tupperware. Para tu teres uma idéia, ela tinha tupperware para guardar tupperware dentro. Os tempos passaram, as reuniões deixaram de ocorrer e o esquema de venda, boca- a-boca, de pote plástico acabou. Eu acreditava que daquela época só havia sobrado, lá em casa, a maneira de guardar os potinhos. Eles ficavam amontoados, uns sobre os outros, formando uma pilha pronta para cair a qualquer momento. Mas hoje à tardinha, a Joaquina chegou toda alegre, cheia de novidade e falando assim:

Joaquina: Ixtepô, tu nem sabes onde estive hoje o dia todo!
Ixtepô: Não sou vidente, claro que não sei! Eu cheguei do mar e tu já não estavas em casa.
Joaquina: Pois é, a Clokirida passou aqui e nós fomos ao centro.
Ixtepô: Foram comprar algo?
Joaquina: Nada especial, mas corremos aquela Conselheiro Mafra toda, para cima e para baixo.
Ixtepô: Como assim?
Joaquina: Ora, entramos em tudo que é lojinha, fomos à casa do Artesão, ao Mercado Público e na volta, ainda deu tempo
para entrar na loja Mil e Dois.
Ixtepô: Tu tens tempo mesmo!
Joaquina: E o melhor de tudo é que eles tinham oferta de tupperware, num balaio. Tu me conheces e sabes que eu não resisto a um potinho, ainda mais se for original.
Ixtepô: Esta não Joaquina, tu vais começar a comprar tupperware novamente?
Joaquina: Não meu nego! Eu só comprei estes dois potes pequenos, para guardar o que sobrar do pirão que eu estou indo preparar para ti.
Ixtepô: Não adianta me enrolar, tu sabes que esta imensidão de pote vai incomodar aqui em casa. E tem mais, o plástico não é biodegradável.
Joaquina: Vou te dizer que o Neto chegou, da escola, falando a mesma coisa.
Ixtepô: Pois o Neto está estudando e sabe o que fala!
Joaquina: Mas será que o plástico é mesmo tão prejudicial?
Ixtepô: Eu tenho visto coisa Joaquina. Já vi ilhas enormes de objetos plástico boiando mar a fora, já retirei kilos de garrafa pet
derretidas em costão e até tartaruga engasgada com sacola eu já vi. Isto tudo começa dentro das nossas casas.
Joaquina: Tu tens razão. Ainda mais que nós somos daqui, temos que ser os primeiros a preservar. Me ajuda a separar os
tupperwares e este monte de sacolas e garrafa que eu guardo em casa. Bota tudo na kombi e vamos levar para a usina de reciclagem.


Eu fiquei todo orgulhoso da Joaquina. Mas quando eu puxei o primeiro potinho da prateleira e os outros cairam, todos, em cima de mim....Eu contei até três, porque a minha vontade era de dar um chute e fazer tupperware voar para tudo que é lado.
Ainda bem que esta foi a última vez!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

18. A chegada na lua

Mô quiridu.

Ô inxpiei pela janela i vi o Neto arriado na areia da praia oiando pro céu. Aquela image mi fej alembrá di quanu Ô era raraj piqueno i mi assentava ali co mô pai. Ele me insinava, pra mim, tudo que sabia do mar, do vento, do céu, da lua i da vida. Ô me mocionei-me todo i fui lhá, na berinha d’água, falá co ele.
Ixtepô: Ó, ió, ió! Que táj fazenu aqui, mô quiridu?
Neto: Oi vô! Tô aqui observando este céu tri maravilhoso que Deus criou.
Ixtepô: Côsa linda mejmo né Neto?
Neto: Bah, carinha! É tri lindo.
Ixtepô: Então, então! Vêje esse ancho céu, o brio daj ixtrela, essa lua alumiando a noite, côsa máj linda.
Neto: Bah! E dizer que o homem já esteve lá, carinha.
Ixtepô: Lá naondi, quiridu?
Neto: Ora aonde, vô! Na lua.
Ixtepô: Nô sêje abobado, rapaj! O homem nunca teve na lua, isso é tudo uma baita duma balela.
Neto: Dá um tempo né vô! Todo mundo sabe que o homem chegou na lua dia 20 de julho de 1969. Inclusive, agora em 2009, estamos comemorando os 40 anos daquele “ grande passo para a humanidade”.
Ixtepô: Ô vô tê qui ti pedi descurpa pra ti, maj neste mejmo dia, Ô tô comemoranu 40 ano cô nô acredito nessa bobage.
Neto: Vô tu é tri radical, carinha! E se eu te disser que não acredito que tu és descendente dos primeiros açorianos a chegarem aqui na Ilha.
Ixtepô: Pópara ai rapaj, nô mixtura aj côsa! O avô do mô trisavô chegô aqui em 06 de Janeiro de 1748. Ele foi o premero açoriano a deixá oj péj marcado naj areia da Ilha de Santa Catariana. Então respeito, porque tu já éj a oitava geraçã açoriana aqui em Florianópij. Si bem qui nój temos qui adixcontá essa tua parte meia agauchada.
Neto: Na boa vô, eu tô brincando.Vamos voltá pro começo.
Ixtepô: Disimbucha, sô nabinha!
Neto: Carinha, tu aprendeu um monte com a vida, só de olho na natureza e nas pessoas. Mas não dá para negá o que a ciência e a tecnologia têm feito em nossa sociedade. Dá uma olhada no motor do teu barco, o remédio da tua pressão alta, o celular da vó, e aí vai.
Ixtepô: Nô mi alembra daquele celurari.
Neto: Vô, tu tem que te lembrá que, tipo assim, a mãe também é cientista, tche! Se formou na UFSC, tem Doutorado pela UCLA e Pós-Doc. pela URGS.
Ixtepô: Ô lembro i tenho um baita orguio daquela rapariga. Então vamo dizê qui tu tenj razão i o homi foi a lua di verdade.
Neto: Fala vô!
Ixtepô: Em qui fase da lua ele chegou lá?
Neto: Nada a vê, vô! O que isto importa?
Ixtepô: Ô vo te dizê uma côsa pra ti, si o homi chegô lá, só pode tê sido na lua cheia, rapaj.
Neto: Porque vô?
Ixtepô: A minguante é tão piquena qui nô ia dá nem di inxtacioná o fuguete!


Traduzindo.....

Eu olhei pela janela e vi o Neto sentado na areia da praia contemplando o céu. Aquela cena me fez voltar à infância, quando eu sentava ali mesmo com o meu pai e ele me ensinava o que sabia sobre o mar, o vento, o céu, a lua e a vida. Eu me emocionei e fui à beira do mar, falar com o menino.
Ixtepô: Oi ! Que tu estás fazendo aqui meu querido?
Neto: Oi vô! Eu estou aqui observando esta maravilha de céu que Deus criou.
Ixtepô: Que lindo não é Neto?
Neto: Bah, vô ! É super lindo.
Ixtepô: Pois é, veja a enormidade do céu, o brilho das estrelas a beleza da lua iluminando a noite!
Neto: Muito legal! E dizer que o homem já esteve lá.
Ixtepô: Lá aonde?
Neto: Ora aonde, vô! Na lua.
Ixtepô: Não sejas bobo, menino! O homem nunca chegou na lua, é tudo mentira.
Neto: Assim não dá né vô! Todo mundo sabe que o homem chegou na lua dia 20 de julho de 1969. Inclusive, agora em
2009, estamos comemorando os 40 anos daquele “ grande passo para a humanidade”.
Ixtepô: Desculpa Neto , mas neste mesmo dia estou comemorando os 40 anos que eu não acredito nisto.
Neto: Vô tu és muito radical! Eu se eu te disser que não acredito que tu és descendente dos primeiros açorianos a chegarem aqui na Ilha.
Ixtepô: Degavar ai rapaz, não mistura as coisas! O avô do meu trisavô chegou aqui em 06 de Janeiro de 1748. Ele foi o primeiro açoriano a deixar os pés marcados nas areias da Ilha de Santa Catariana. Então respeita isto menino, porque tu já és a oitava geração açoriana aqui em Florianópolis. Se bem que nós temos que considerar esta tua parte meio agauchada.
Neto: Tá certo vô, eu estou brincando. Mas vamos voltar à conversa inicial.
Ixtepô: Diga!
Neto: Vô, tu aprendestes muito com a vida, observando a natureza e as pessoas. Mas não dá para negar o que a ciência e a tecnologia têm feito em nossa sociedade. Veja o motor do teu barco, o remédio para tua pressão alta, o celular
da vó, e aí vai.
Ixtepô: Nem me fala daquele celurar!
Neto: Além de tudo, a mãe também é cientista, tche! Se formou na UFSC, tem Doutorado pela UCLA e Pós-Doc. pela URGS.
Ixtepô: Isso é verdade e eu tenho muito orgulho dela. Então vamos supor que tu tenhas razão e o homem, realmente, foi a lua.
Neto: Fala vô!
Ixtepô: Em que fase da lua tu achas que ele chegou lá?
Neto: O que isto importa, vô?
Ixtepô: Eu vou te dizer que se ele realmente chegaram lá, só pode ter sido em lua cheia.
Neto: Porque vô?
Ixtepô: Por que na minguante não daria nem para estacionar o foguete.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

16. Enlata a Velha


Mô Quiridu!
Tu sabej cô nô gojto de oiá televisã, não tem! A Joaquina é qui véve assistinu os pograminha i aj novelinha dela. Quéj vê si o Fabo Juno tá, então, aí quéla vê. Entendesse? Um sábado desse, ela tava oianu um pograma qui amojtrava a reforma duma Kombi se raigando de véia. Uma côsa medonha! Ô nô quij dá confiança e nem si assentá prá oiá o pograma cô ela, máj Ô disfaucei i puxei cunversa:

Ixtepô: Antij que má li prigunte, Jaoquina! Que qué issu qui tá danu na televisa, ôh?
Joaquina: Ãh, ãh, ãh! Váj mi dizê qui tu nô sabej? É o Panelão do Incrive Luciano Ruqui.
Ixtepô: Me dij uma cosa pra mim, má quirida: Qué qui Panelão tem a vê cum Kombi?
Joaquina: Sô tanso, este é o quadru Enlata a Véia!
Ixtepô: Enlata a Véia? Côsa Tola!
Joaquina: Nô ixtróva, oh! Dexa Ô oiá o pograma, rapaj.
Ixtepô: Táj ca macaca, má quirida? Ô só quiria sabê como fonciona o quadru. Entendesse?
Joaquina: É ansin oh! O Incrive Luciano Ruqui, manda botá lataria nova no teu carro véio e ele fica cosa máj linda.
Ixtepô: Aí tem! Ele faj issu di graça?
Joaquina: Então, Então! É claro qui é di graça, rapaj. Tu só tenj qui mandá uma carta e adejpôj, pagá uma prenda, o vivo, no pograma.
Ixtepô: Que tipo de prenda?
Joaquina: No úrtmo Enlata a Vèia, o rapaj qui ganhô a reforma dum Opala, teve de imitá o Sidney Mingau, cantanu e se arrebolando-se todo. O rapaj deu um banho, ôh!
Ixtepô: Eles invento cada côsa!

Cumé qui póde né ôh! Ô comecei a sonhá acordado e de repente tava lá, o vivo, no Enlata a Véia. Dava di vê a minha Kombi toda ajeitada, um biju, do jeitinho qui Ô quiria, não tem! Os pineu novinho, os ário cromadu, capa de veludo no volante, mãozinha qui dá tchau no parabriso. I vô ti contá prá ti! Tava toda pintadinha e inxcrita com poesia de amor prá Florianópij, inguali fazia o sô Frankolino CajCaj. Daí, o Incrive Luciano Ruqui me chamo no parco i mi amostro a Kombi bem di pertinho. Foi quanu uma luj se acendeu-se, bem em cima de mim ,e ele falô ansim oh:

Incrível Luciano Hulk: Loucura! Loucura! Loucura! Ixtepô, e agora, prá levá a Kombi novinha pra casa é só tu imitá o Fabo Juno.
Ixtepô: Imitá o Fabo Juno, ai não dá né ! Perdi minha Kombi!!!
Foi ansim que o meu “ Sonho se Acabô-se”.

Traduzindo.....

Tu sabes que eu nunca fui muito de assistir televisão. A Joaquina é que gosta de ver alguns programas e novelas, principalmente se o Fabio Júnior estiver presente. Más um sábado destes, ela estava assistindo um programa que tratava da reforma de uma Kombi muito velha, horrível. Eu não quis dar o braço a torcer e nem sentar para assistir com ela, mas disfarcei e puxei conversa:

Ixtepô: Joaquina, que programa é este?
Joaquina: Vais dizer que tu não sabes! É o panelão do incrível Luciano Hulk.
Ixtepô: Me diz uma coisa: O que o panelão tem a ver com esta Kombi?
Joaquina: Este é o quadro Enlata a Velha!
Ixtepo: Enlata a velha? Que sem graça!
Joaquina: Não incomoda, me deixa ver o programa!
Ixtêpo: Estás nervosa? Me conta como funciona o programa.
Joaquina: É assim oh! O incrível Luciano Hulk manda colocar lataria nova no teu carro velho e deixa ele novinho. Entendeu?
Ixtepô: Não sei não! E ele faz isto de graça?
Joaquina: Sim! É claro que ele faz de graça. Tu só tens que enviar uma carta e depois cumprir um desafio, ao vivo, no programa.
Ixtepo: Que tipo de desafio?
Joaquina: No último Enlata a Velha, o rapaz que ganhou a reforma do carro teve que imitar o Sidney Mingau, cantando e rebolando. Ele foi muito bem.
Ixtepô: Eles inventam coisa!

De repente, eu comecei a sonhar acordado e estava lá, ao vivo no Enlata a velha. Dava para ver a minha Kombi toda reformadinha, do jeito que eu queira. Pneus novos, aros cromados, proteção de veludo no volante, mãozinha que dá tchau no pára-brisas. E o melhor, ela estava inteiramente pintada com letreiros e poesias exaltando Florianópolis, como fazia o seu Franklin Cascaes. Então, o Incrível Luciano Hulk me chamou no palco, me mostrou a Kombi bem de perto, uma luz foi acesa sobre mim e ele me propôs o desafio:

Incrível Luciano Hulk: Loucura! Loucura! Loucura! Ixtepô, e agora, para você levar a Kombi novinha para casa, é só imitar o Fábio Júnior.
Ixtepô: Imitar o Fabo Júnior, ai não dá né oh! Perdi a Kombi !!!
Foi aí que o meu sonho acabou.

15. Celular ao mar

Mô quiridu!
A Joaquina me incomodô tantu qui o di um celulari pra ela. Ô nô sabia é qui tava arrumanu pra minha cabeça. Ela vivia mi liganu, rapaj. Até quanu Ô tava in casa ela me ligava pra mim, não tem! Máj o pióri aconteçô um dia cô tava ali, sentado no bacio, i ela me ligô prá sabê sô percisava de papeli hingênico. Ai não dá né oh! Ô fiquei todo infezado, peguei o mô barco, caniço, linha di nailo, anzóli, ijca i saí pra matá um pexinho. Deu unj minutinho e ela ligô:


Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô Ixtepô, tu táj naondi, mô quiridu?
Ixtepô: Joaquina, má quirida, eu tô pexcanu e tu váj inxpantá os pexinho. Tchau!
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Tá danu pêxe nego?
Ixtepô: Só cocoroca!Joaquina, para de azucriná, adejpôj te ligo.
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô, adivinha quem é?
Ixtepô: Quem havéra de sê? Joaquina não força ôh! Tchau!
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Ixtepô: Que tu quéj Joaquina?
Joaquina: Sô malcriado! Só ti telefonei pra ti avisá qui Ô vô ti ligar, pra ti, daqui unj déj minuto, não tem! Até máj, mô quiridu.
Deu déj minuto cravado e lhá tava ela:
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........

Ô minervei todinho, agarrei o celulari i antij qui ela falassi, Ô disse premero:

Ixtepô: Má quirida para di enchê o saco e vai lhá falá cáj bolhinha, vai.
Nisso, “ sem querê “, o mô celulari caiu na água e só deu di ovi: glub, glub, glub, glub,glub.........



Traduzindo.....

A Joaquina insistiu tanto que eu acabei comprando um celular para ela. Eu não sabia é que isto iria me causar o maior incomodo da minha vida. A todo o momento ela me ligava, até mesmo em casa eu recebia ligações da Joaquina. Mas a pior situação ocorreu em um dia que eu estava no banheiro e ela me ligou para saber se eu precisava papel higiênico. Não agüentei, peguei meu barco, um caniço, linha, anzóis, isca e sai para pescar.

Demorou pouco e ela estava me ligando novamente.
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô Ixtepô! Onde tu estás meu querido?
Ixtepô: Jôaquina, minha querida, eu estou pescando e tu vais espantar os peixes. Tchau!
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô. Está dando peixe?
Ixtepô: Só cocoroca! Máj, me deixa em paz. Depois te ligo.
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô, adivinha quem é?
Ixtepô: Ora quem é! Joaquina não incomoda. Tchau!
Tlim tlim, tlim tlim ,lim, tlim tlim tlim........
Ixtepô: O que tu queres Joaquina?
Joaquina: Mal educado. Só liguei para te avisar que eu vou te ligar daqui há uns dez minutos! Tchau querido.
Deu dez minutos cravados e lá eu ouvi:
Tlim tlim, tlim,tlim tlim, tlim tlim tlim........

Fiquei nervoso, peguei o telefone e antes que ela falasse qualquer coisa eu disse:

Ixtepô: Minha querida deixa de encher o saco e vai falar com as bolhinhas.
Nisto o meu telefone caiu “ sem querer “ na água. Só deu para ouvir os: glub, glub, glub, glub,glub.........