terça-feira, 8 de dezembro de 2009

36. Um Presente dos Anos 80

Mô Quiridu,

Dôj mili novi tá si acabanu i a Joaquina já ta si acendenu toda prój perparativo daj fexta di finali di anu, rapaj! Adjaôj, ela si alevanto-se maj cedo, pegô o gravadori , uma fita K7 da Baxfi, perparô o som i ligô no volume bem arto, quiridu. Tive di pulá da cama inxcutanu; “Hoji é um novo dia dum novo tempu.....” Vô ti dizê pra ti qui o curpadu dissu tudo sô Ô, rapaj. Afinali, fui Ô meso que dí o apareio i agravei a tali da fita, pra ela, in oitenta i trêj. Nô tem!
Maj é sempre ansim, ôh! Nessaj épuca, a Joaquina cumeça a me atizaná, caj atividade di anu novo.
De dia é a tal da baita faxina i a arrumação di Dezembre . Ela ergue aj côsa, bota tudo di ponta cabeça, barre daqui i dali, liga o expirado umaj trêj a quatru vêj por dia, passa arco com jornali naj janela, lava aj ropa di cama, ferve i bota tudo a quará. Credo!
Di noiti ela dá di fazê bolacha di Natal. Esse cuxtume ela pegô cá Dona Alemoa, a mulhé do Badejo, que veio lá de Blumenau. A duaj si ajuntu i pau noj córno, si atraco a assá bolachinha in forma de árve di natal, Papai Noeli, reina, ixtrela, laço, pexinhu i tudo, com deversaj massa, infeitado com cobertura di açúcra colorido. Pior que fico goxtosa i bonita aj bolacha. Quéj vê oj bonecu di neve côj zóinho de bago di fejão. Côsa maj linda!
Nissu tudo, o que minerva nô são aj bolacha i a faxina. São oj inzagero dela, intendesse? De premero ela inxvazia todaj aj partelera, limpa tudo i abre inxpaço. Depôj pega oj vrido, aj lata de margarina, aj bombona i entulha aj partelera tudo caj bolachinha. Pra ti tê uma idéia, é tanto bixcoito natalino qui nój fiquemo cumenu, aquilo, até depôj da Páxcua. Ansin nô dá né oh!
Sabe quiridu, daj vej Ô fico meio infesado cô essaj côsa qui a Joaquina apronta. Maj nô dá di dexá di dizê o quantu a gente si goxtemo, rapaj. Além dissu, ela sempre pensa em mi fazê um agradinho. Teve um Natal qui ela mi deu di presente, pra mim, uma camiseta do Magaiv, aquele da Profissã Pirigu, o único pograma di TV cô assistí.
Vô ti dizê pra ti qui Ô botei a camiseta i si senti o Magaiv todinho, nô tem! Fui até a cozinha, peguei duaj bombona di bolacha, um gaufo, uma faca e saí rumo ao mar. Nisso a Joaquina mi pergunto:

Joaquina: Váj cumê essa montuêra di bolacha naondi, nego?
Ixtepô: Ô nô vô cumê nehuma, quirida! Tô indo consertá o furo no caxco do mô barco.
Joaquina: Caj bolacha?
Ixtepô: Cô que haverá di sê? Si no premero empisódiu, da séria, o Magaiv parô um vazamento numa osina nucleari usanu duaj barra di chocolate. Imagina o que da di fazê co essa missidadi di bolacha, quirida!

Traduzindo.....

Meu Querido,

Dois mil e nove está chegando ao fim e a Joaquina inicia os preparativos para as festas de final de ano. Hoje ela se levantou mais cedo, pegou o gravador, uma fita K7 da Basf, preparou o som e ligou em volume muito alto. Pulei da cama escutando; “Hoje é um novo dia de um novo tempo...” . Vou confessar que o culpado disto sou eu mesmo. Afinal fui eu quem a presenteou com o aparelho e gravou a fita para ela em mil novecentos oitenta e três.Mas é sempre assim! Nessa época, a Joaquina começa a me incomodar com as atividades de ano novo.
De dia é a tal da limpeza e organização para Dezembro. Ela levanta os móveis, coloca tudo de pernas para o ar, varre aqui e ali, liga o aspirador de três a quatro vezes por dia, passa álcool com jornal nas janelas, lava a roupa de cama, ferve e põe tudo a quarar no sol.
A noite ela tem de preparar as bolachas de Natal. Este costume ela adquiriu com a Dona Alemoa, esposa do Badejo, que veio lá de Blumenau. As duas se juntam e começam a assar bolachinhas em forma de árvore de natal, Papai Noel, renas, estrelas, laços, peixinhos e tudo com diversas massas, enfeitadas por cobertura de açúcar colorido. E as bolachas ficam gostosas
e bonitas. Tens que ver os bonecos de neve com olhos feitos de grãos de feijão. Coisa linda!
Nisto, o que me deixa nervoso não são as bolachas ou a limpeza. São os exageros dela, me entende? Primeiro ela esvazia as prateleiras, limpa tudo e abre espaço. Depois, pega os vidros, as latas, os galões e entope as prateleiras com as bolachinhas. Para teres uma idéia, é tanto biscoito natalino que nós ficamos comendo até depois da Páscoa. Assim não dá!
Sabe, querido, as vezes eu fico um pouco irritado com o que a Joaquina apronta. Mas não dá para dizer o quanto a gente se gosta. Além disto, ela sempre esta pensando em me agradar. Houve um Natal que ela me presenteou com uma camiseta do McGiver, aquele do programa Profissão Perigo, o único programa de TV que eu assisti.
Vou te dizer que foi colocar a camiseta e eu me senti o próprio McGiver. Fui até a cozinha, peguei dois galões de bolacha, um garfo e uma faca e saí, rumo ao mar. Nisto a Joaquina me perguntou:

Joaquina: Vais comer toda esta quantidade de bolachas aonde, nego?
Ixtepô: Eu não vou comer nenhuma, querida! Estou indo consertar o casco do meu barco.
Joaquina: Com as bolachas?
Ixtepô: Com o que haveria de ser? Se no primeiro episódio, da série, o McGiver estancou o vazamento de uma usina nuclear usando duas barras de chocolate, imaginas o que dá para fazer com esta imensidão de bolachas, querida!