quinta-feira, 22 de julho de 2010

47. Se o assunto é Manezês: Vô ti dizê pra ti, oh!


Mô Quiridu,

Quéj aprendê máj sobre o Manezêj?
Então tenj qui conhecê o “Dicionário da Ilha – Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina”, de Fernando Alexandre com ilustrações de Andréa Ramos. http://www.dicionariodailha.blogspot.com/

Dá um banho!

Traduzindo.....

Meu Querido,

Queres aprender mais sobre o Manezês?
Entâo tens que conhecer o“Dicionário da Ilha – Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina”, de Fernando Alexandre com ilustrações de Andréa Ramos.
É sensacional!

terça-feira, 20 de julho de 2010

46. Cachorro de Troia

Mô Quiridu,

Onti a Joaquina tava de neversário. A idade dela Ô nô posso dizê, sinão ela mi suicida, rapaj. O qui interessa, nissu tudu, é qui nój fizemu uma baita duma fextança, pra ela. Côsa linda,oh!
Tinha deversoj prato típicu, nô farto pexe frito, pirão di nailo, tainha no fejão, carderada e bolinho de siri, quiridu. Cumemo a migueli i deu di todu mundo si impanziná.

Máj vô ti dizê uma côsa para ti. Pra Joaquina, o qui interessa mesu é aj pessoa qui foro, lá im casa, dá um abraçu nela. Tinha gente a reveria. É claro, a Clokirida apareceu pur lá, afinali elaj são unha i carni. Deu trêj minute i aj duaj começaru a matracá.

Ô nô sô di inxcuta cunvéussa duj otrô, máj fiquei ali, dixfaussanu i di bituca nu qui elaj falava:

Clokirida: Nega, tu táj cada vêj máj nova, tua pele parece um pêxco. Mi conta o segredo, pra mim, sua degranida!
Joaquina: Dicerto é o Ixtepô, ele nô mi dá sussegu aquele atentado. Só podi di sê aj cumida afrodizia cô faço pra ele, Nega.

Aj duaj si riru toda i entraru nunj delati co nô vô nem ti falá. Inda máj cô nô goxto di contá vantagi , rapaj. Tem outra, a cunveuça delaj tomo rumo deferente bem rapidinho.

Clokirida: Joaquina, tu sabej como ô ti quero bem i qui te apreceio muito, né Nega?
Joaquina: Até parece qui tu nô mi cunhece. Claro qui o sei, sua tola!
Clokirida: Intão! Prá prová o quanto goxto de ti, Ô queria ti dá di presenti o cô tenho di maj precioso nessa minha vida.
Joaquina: Nô vai mi dizê, pra mim, qui tu vaj me dá o........
Clokirida: É issu mesu! Ô tô aqui pra ti dá di presente, pra ti, o meu cachorrinho Mandrião.
Joaquina: Ô nunca nô imaginei qui argúem, além do Ixtepô, mi amava tanto assim, ma quirida.

Vê só! A Clokirida até podi amá a Joaquina, máj deve di mi odia, a malina. Afinali, o guapeca que ela tava danu di presenti é um imprestavi, papa-ovo, um baita dum ordináriu, pamonha i pançudo. O preguiçoso foi criado com jacuba, só comi i dormi o dia inteiro aquele desinfelix. Acho qui nem lati, o poia sabe.

Na minha cabeça, Ô carculei qui a ela só tava fazenu aquilu pra mi atentá, a degranida. Ô si sigurei, maj nô deu di ficá sem sortá o cô tavu pensanu:

Ixtepô: Ói-ói-ó! Clokirida, tá na hora di nój começá a quebra oj pratu da Joaquina, tudo. Nô tem?
Clokirida: Ô nô intendi! Intendesse?
Ixtepô: É qui si o presenti é di grego, a fexta também tem qui sê. Né oh!

Traduzindo.....

Meu Querido,

Ontem, a Joaquina estava de aniversário. A idade dela eu não posso falar, senão ela me mata, rapaz. O que interessa, nisto tudo, é que nós fizemos uma grande festa para ela. Coisa linda!
Havia diversos pratos típicos, não faltou peixe frito, pirão de náilon, tainha no feijão, caldeirada e bolinho de siri, querido. Comemos de mais e todos se fartaram.

Mas vou te dizer uma coisa. Para a Joaquina, o que importa mesmo são as pessoas que foram lá em casa abraçá-la. É Claro que a Clokirida esteve lá, afinal elas são a unha e a carne. Em poucos minutos as duas começaram a conversar. Eu nunca fui de escutar conversa alheia, mas fiquei ali, disfarçando e na espreita para ver o que elas falavam:

Clokirida: Tu estás cada vez mais jovem, tua pele parece um pêssego. Me conta o qual é segredo, desgraçada!
Joaquina: Deve ser o Ixtepô, ele não me dá sossego. Isso só pode ser por conta da comida afrodisíaca que eu faço para ele.

As duas riram e entraram em detalhes que não quero falar. Ainda mais que não sou de contar vantagens, rapaz. E tem outra, a conversa delas tomou um rumo diferente bem rápido.

Clokirida: Joaquina, tu sabes o que te quero bem e que te aprecio muito, não é?
Joaquina: Parece que tu não me conheces. Claro que eu sei, sua boba!
Clokirida: Então! Para provar o quanto eu gosto de ti, eu gostaria de te presentear com o que tenho de mais precioso
Joaquina: Não diga que vais me dar o .......
Clokirida: É isto mesmo! Vou de dar de presente, o meu cachorrinho Mandrião.
Joaquina: Eu nunca imaginei que alguém, além do Ixtepô, me amasse tanto assim, querida.

Veja só! A Clokirida pode até amar a Joaquina, mas deve me odiar a malvada. Afinal, o vira-latas, que ela estava dando de presente, é um impretável, sem pedigree, um grande ordinário, bobalhão e barrigudo. O preguiçoso foi criado com pirão de água fria, come e dorme o dia todo o infeliz. Acho que nem latir o tonto sabe.

Calculei que ela estava fazendo aquilo para me agredir. Me segurei , mas não pude evitar e soltei o que estava pensando:

Ixtepô: Olha só! Clokirida, já esta na hora de começarmos a quebrar os pratos da Joaquina. Não está?
Clokirida: Não entendi! Entendestes?
Ixtepô: É que se o presente é de grego, a festa também tem de ser!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

45. Natureza Morta 2 - Adivinha esta:

Mô Quiridu,

O que qui é um pontinhu pretu vixto do soli?
Prá sabê a repoxta é só virá a tela do teu computadori caj pata pra cima i inxpia ali no cantinho, nô tem!

Traduzindo......

O que é um pontinho preto visto do sol?
Para saber a resposta basta virar a tela do seu computador e espiar ali no cantinho.



quarta-feira, 14 de julho de 2010

44. Natureza Morta 1 - Peixe Palhaço

Mô Quiridu,

Todu mundo fala cô sô um baita dum presepero, contadori di inxtória i até mintiroso. Vo ti dizê pra ti, qui Ô nô sei menti. Nô tem? Ô goxto é di contá umaj passagi da minha vida i ti digo maj: Quaji tudu é verdade.
Ô sempre goxtei de pexcá imbarcado . O que argumaj pessoa nô sabi é cô fazia merguio di apinéia , quando era rapaj novo. Pra matá unj pexiho di pedra. Intendesse? I vô ti dizê pra ti, no tinha pra ningém, oh! Ô chegava a ficá dibaxo dágua di trêj a dizesej minute.
Num merguio dessi, Ô avixtei uma cosa qui nô dava di acreditá. Credo! Uma missidade de xepa de cigarro, na verdadi uma montuera de bagana. Ô cheguei perto para retirar aquela poluiçã toda e levá pra um lixo em terra. Nu cô si aproximei, um pexinho paiaço saiu di atraj daj bituca e começo a me fazê sinal.
Deu di intendê qui o bichinho tava querenu si comunicar-si cumigo. Ele ia, vinha, arrodiava, sartava, vortava, corria di cá, corria di lá. Foi quanu Ô si liguei, qui ele tava percuranu arguma cosa. Afinal Ô no so tanso, né oh!
Maj tu sabej cumé qui é pexe paiaço. Vévi perdenu aj cosa, principarmente oj filho, intendesse!
Então ô começei a fazê umaj preguntinha pro nabinha atravéj doj sinai:

- Pexinho tu taj percuranu arguma cosa?
Ele abalançô a cabecinha e disse que sim!
- Pexinho tu taj percuranu um amigo?
Ele abalançô a cabecinha e disse que não!
- Pexinho tu taj percuranu teu filho?
Ele abalançô a cabecinha e disse que não!
- Pexinho tu taj percuranu NEMU, é issu que tu taj percuranu?
Dinovo, ele abalançô a cabecinha e disse que não, maj com uma expressã toda inraivada, o ixtepô!

Foi quanu o pexe puxô uma bituca de cigarro infiô na boca e ampontô pra dita cuja. Ele tava era percurando fogo, aquele malino!
Ô disse pra ele qui era impossivi consegui fogo naquelaj condiçã, inda maj cô nem fumo rapaj. Daí, o bicho simfezosse todo e me disse uma missidade di disaforo, atravej da língua doj sinal. Nô dá nem di repeti o que aquele abobado me disse pra mim.
Bom, Ô chamei ele di paiaço, virei aj coxta e si fui imbora.
Agora uma cosa Ô tenho que ti dizê pra ti, Mô Quiridu:
Paiaço ,mesu, é quem joga bituca e otraj porcaria no mar.

Traduzindo.....

Meu Querido,
Todo mundo fala que sou um contador de histórias e mentiroso. Vou te dizer que eu nem sei mentir. Eu gosto é de contar umas passagens de minha e quase tudo é verdadeiro.
Eu sempre gostei de pescar embarcado. O que algumas pessoas não sabem é que eu fazia mergulho de apnéia, quando era jovem, para caçar uns peixinhos. E vou te dizer que não tinha para ninguém. Eu ficava de três a dezesseis minutos submerso. Num mergulho desses, eu avistei algo inacreditável. Uma imensidão de xepas de cigarro, na verdade um monte de bitucas. Cheguei perto, para retirar aquela
poluição toda e levá-la para o lixo, em terra. No que me aproximei, um peixinho
palhaço saiu de trás do lixo e começou a fazer sinais.
Entendi que o bichinho queria se comunicar comigo. Ele vinha, rodava, voltava, corria daqui e dali. Foi quando percebi que ele estava procurando algo. Afinal eu não sou bobo.
Mas tu sabes como são os peixes palhaços. Vivem perdendo suas coisas, principalmente os filhotes.
Então comecei a fazer perguntas, para ele, através de sinais:


- Peixinho tu estas procurando alguma coisa?
Ele balançou a cabeça e disse que sim.
- Peixinho tu estas procurando um amigo?
Ele balançou a cabeça e disse que não.
- Peixinho tu estas procurando o teu filho?
Ele balançou a cabeça e disse que não.
- Peixinho tu estas procurando NEMO?
Novamente ele balançou a cabeça e disse que não, mas agora com uma expressão de raiva.


Foi quando ele puxou uma bituca de cigarro, a colocou na boca e apontou para ela. O peixinho estava procurando fogo.
Eu disse que era impossível conseguir fogo naquelas condições e além disto, eu não
fumo. O bixo ficou nervoso e me disse uma enormidade de desaforos, através da linguagem dos sinais. Não dá para repetir o que ele me disse.
Bom, eu chamei ele de palhaço, virei as costas e fui embora.
Agora, eu preciso te dizer uma coisa, meu querido:
Palhaço, mesmo, é quem joga bituca e outras porcarias no mar.