terça-feira, 8 de dezembro de 2009

36. Um Presente dos Anos 80

Mô Quiridu,

Dôj mili novi tá si acabanu i a Joaquina já ta si acendenu toda prój perparativo daj fexta di finali di anu, rapaj! Adjaôj, ela si alevanto-se maj cedo, pegô o gravadori , uma fita K7 da Baxfi, perparô o som i ligô no volume bem arto, quiridu. Tive di pulá da cama inxcutanu; “Hoji é um novo dia dum novo tempu.....” Vô ti dizê pra ti qui o curpadu dissu tudo sô Ô, rapaj. Afinali, fui Ô meso que dí o apareio i agravei a tali da fita, pra ela, in oitenta i trêj. Nô tem!
Maj é sempre ansim, ôh! Nessaj épuca, a Joaquina cumeça a me atizaná, caj atividade di anu novo.
De dia é a tal da baita faxina i a arrumação di Dezembre . Ela ergue aj côsa, bota tudo di ponta cabeça, barre daqui i dali, liga o expirado umaj trêj a quatru vêj por dia, passa arco com jornali naj janela, lava aj ropa di cama, ferve i bota tudo a quará. Credo!
Di noiti ela dá di fazê bolacha di Natal. Esse cuxtume ela pegô cá Dona Alemoa, a mulhé do Badejo, que veio lá de Blumenau. A duaj si ajuntu i pau noj córno, si atraco a assá bolachinha in forma de árve di natal, Papai Noeli, reina, ixtrela, laço, pexinhu i tudo, com deversaj massa, infeitado com cobertura di açúcra colorido. Pior que fico goxtosa i bonita aj bolacha. Quéj vê oj bonecu di neve côj zóinho de bago di fejão. Côsa maj linda!
Nissu tudo, o que minerva nô são aj bolacha i a faxina. São oj inzagero dela, intendesse? De premero ela inxvazia todaj aj partelera, limpa tudo i abre inxpaço. Depôj pega oj vrido, aj lata de margarina, aj bombona i entulha aj partelera tudo caj bolachinha. Pra ti tê uma idéia, é tanto bixcoito natalino qui nój fiquemo cumenu, aquilo, até depôj da Páxcua. Ansin nô dá né oh!
Sabe quiridu, daj vej Ô fico meio infesado cô essaj côsa qui a Joaquina apronta. Maj nô dá di dexá di dizê o quantu a gente si goxtemo, rapaj. Além dissu, ela sempre pensa em mi fazê um agradinho. Teve um Natal qui ela mi deu di presente, pra mim, uma camiseta do Magaiv, aquele da Profissã Pirigu, o único pograma di TV cô assistí.
Vô ti dizê pra ti qui Ô botei a camiseta i si senti o Magaiv todinho, nô tem! Fui até a cozinha, peguei duaj bombona di bolacha, um gaufo, uma faca e saí rumo ao mar. Nisso a Joaquina mi pergunto:

Joaquina: Váj cumê essa montuêra di bolacha naondi, nego?
Ixtepô: Ô nô vô cumê nehuma, quirida! Tô indo consertá o furo no caxco do mô barco.
Joaquina: Caj bolacha?
Ixtepô: Cô que haverá di sê? Si no premero empisódiu, da séria, o Magaiv parô um vazamento numa osina nucleari usanu duaj barra di chocolate. Imagina o que da di fazê co essa missidadi di bolacha, quirida!

Traduzindo.....

Meu Querido,

Dois mil e nove está chegando ao fim e a Joaquina inicia os preparativos para as festas de final de ano. Hoje ela se levantou mais cedo, pegou o gravador, uma fita K7 da Basf, preparou o som e ligou em volume muito alto. Pulei da cama escutando; “Hoje é um novo dia de um novo tempo...” . Vou confessar que o culpado disto sou eu mesmo. Afinal fui eu quem a presenteou com o aparelho e gravou a fita para ela em mil novecentos oitenta e três.Mas é sempre assim! Nessa época, a Joaquina começa a me incomodar com as atividades de ano novo.
De dia é a tal da limpeza e organização para Dezembro. Ela levanta os móveis, coloca tudo de pernas para o ar, varre aqui e ali, liga o aspirador de três a quatro vezes por dia, passa álcool com jornal nas janelas, lava a roupa de cama, ferve e põe tudo a quarar no sol.
A noite ela tem de preparar as bolachas de Natal. Este costume ela adquiriu com a Dona Alemoa, esposa do Badejo, que veio lá de Blumenau. As duas se juntam e começam a assar bolachinhas em forma de árvore de natal, Papai Noel, renas, estrelas, laços, peixinhos e tudo com diversas massas, enfeitadas por cobertura de açúcar colorido. E as bolachas ficam gostosas
e bonitas. Tens que ver os bonecos de neve com olhos feitos de grãos de feijão. Coisa linda!
Nisto, o que me deixa nervoso não são as bolachas ou a limpeza. São os exageros dela, me entende? Primeiro ela esvazia as prateleiras, limpa tudo e abre espaço. Depois, pega os vidros, as latas, os galões e entope as prateleiras com as bolachinhas. Para teres uma idéia, é tanto biscoito natalino que nós ficamos comendo até depois da Páscoa. Assim não dá!
Sabe, querido, as vezes eu fico um pouco irritado com o que a Joaquina apronta. Mas não dá para dizer o quanto a gente se gosta. Além disto, ela sempre esta pensando em me agradar. Houve um Natal que ela me presenteou com uma camiseta do McGiver, aquele do programa Profissão Perigo, o único programa de TV que eu assisti.
Vou te dizer que foi colocar a camiseta e eu me senti o próprio McGiver. Fui até a cozinha, peguei dois galões de bolacha, um garfo e uma faca e saí, rumo ao mar. Nisto a Joaquina me perguntou:

Joaquina: Vais comer toda esta quantidade de bolachas aonde, nego?
Ixtepô: Eu não vou comer nenhuma, querida! Estou indo consertar o casco do meu barco.
Joaquina: Com as bolachas?
Ixtepô: Com o que haveria de ser? Se no primeiro episódio, da série, o McGiver estancou o vazamento de uma usina nuclear usando duas barras de chocolate, imaginas o que dá para fazer com esta imensidão de bolachas, querida!

sábado, 28 de novembro de 2009

35. O vestido de noiva

Mô Quiridu,

O mô grandi amigu Crébe vai se casá. Côsa linda, nô tem! Nój temo acompanhanu oj perparativu, tudo, dêj du cumeçu i sabemu qui vai sê um casamento abençoado por Deus. Agora, daj vêj, da di vê côj noivo ficu neuvoso, afinali tem qui aprerpará uma muntuera di cosa, é conveuçá cô Paxtô, é arrumá a ixgreja, a fexta. I o vextido da rapariga então? Exte sim deu pano pra manga, o menoj foi o qui ele mi falô pra mim numa conveuça, ansim:

Crébe: Ixtepô, mô quiridu! Tu nô sabej a corriria qui nój andemo, nô tem?
Ixtepô: Pelu um acauso Ô sô cego, so abobado.
Crébe: Então, então! Já tamu até meio acachapado de tanto corrê pela ai, apercuranu o vextido di noiva, rapaj.
Ixtepô: Oióió! Vaj me dizê, pra mim, qui nô deu di incontrâ nada do agradu, é issu qui tu váj mi dizê?
Crébe: Nô minerva, rapaj! Claro qui nòj incontremo, maj ô é tudo oj zóio da cara. Intendesse?
Ixtepô: Maj a tua noiva é piquininha, no é? Então o vextido tem qui saí barato, afinali sô percisa uma nisquinha di panu pra fazê!
Crébe: Sô tanso! Oj inxtilixta cobru pelo desenho e pelo feitiu, ixto é o maj caro.
Ixtepô: I tu já pensasse em alugá o vextido pra ela, ia sê bem maj baratu.
Crébe: É maj tu mexmo sabej que ela é pequininha, vai sê impossíve encontrá um vextido di noiva do tamanho dela.
Ixtepô: Ô tenho uma idéia!
Crébe: Disimbucha, to neuvoso.
Ixtepô: Si não dá di alugá um vextido di noiva, então dexa qui alugo pra ela um vextido di daminha e dote de presente, quiridu!

Traduzindo.....

Meu Querido,
O meu grande amigo Crébe vai se casar. Coisa linda. Temos acompanhado os preparativos desde o início e sabemos que será abençoado por Deus. Contudo, dá para perceber que os noivos estão um pouco nervosos, afinal, tem de preparar muitas coisas. É conversar com o Pastor, acertar as questões da Igreja, a festa, etc. E o vestido da noiva então? Este sim está dando trabalho, ao menos foi o que ele me falou em uma conversa que tomou o seguinte rumo:

Crébe: Ixtepo, meu querido!
Tu sabes a correria que estamos, não sabes?
Ixtepô: Por acaso eu não enxergo seu tolo?
Crébe: Então! Já estamos meio desanimados de tanto procurar vestido de noiva.
Ixtepô: Olha só! Vais me dizer que não encontraram nada do gosto de vocês, é isto?
Crébe: Não me deixa mais nervoso! Claro que encontramos mas é tudo muito caro.
Ixtepô: Mas a tua noiva é pequeninha, não é? Então o vestido tem que ser barato, afinal precisa de pouco tecido para confeccionar.
Crébe: Seu tolo! O estilistas cobram pelo modelo e feitio, isto é o mais caro.
Ixtepô: Já pensaste em alugar o vestido para ela? Ia sair muito mais barato.
Crébe: Sim, mas tu mesmo sabes que ela é bem pequena, vai ser impossível encontrar um vestido de noiva do seu tamanho.
Ixtepô: Eu tenho uma idéia!
Crébe: Fala estou ansioso.
Ixtepô: Se não dá para alugar um vestido de noiva, então deixa que eu alugo um vestido de daminha e dou de presente, quiridu!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

34. Uma foto três por quatro


Mô Quiridu!

Ô já ti falei pra ti qui o Capitão Tainha e o Rapaj Berbigão elegero o Neto pra sê o retratixta oficiali delej, nô tem? Pôj então rapaj, na semana passada nój visitemu o Diário Catarinense, pro o Neto oferecê umaj foto, doj Herói Manézinho , pra elej apubricá. Nój fomo muito bem recebido peloj jornalixta. Tamém, já saímo até na coluna do Cacau Menêj, né oh! O redatori do jornali quij logo vê aj foto i saiu apreguntanu:

Redator: Meus caros vocês tem muitas fotos do Capitão e do Berbigão?
Ixtepô: Si temo quiridu! É foto delej trenando oj gorpe, aperparanu aj inxtratégia di ataque, comenu um pexinho frito com pirão di nailo, até foto duj dôj nadanu na Lagoa, nój temo. Entendesse?
Redator: Mas então me deixem ver as fotos.
Neto: Bah, carinha! Eu até posso te deixá vê elas mãs, na boa, eu vim aqui pra te oferecer uma foto tri especial.
Redator: E o que ela tem de especial?
Neto: Tipo assim, não é uma foto em que aparecem somente o Capitão Tainha e o Rapaj Berbigão, é bem mais que isto.
Redator: Mas então vamos vê-la.
Ixtepô: Pode pará pelai sô mandrião. Premero nój percisemo aceutá oj preço.
Redator: E o que vocês estão pensando?
Ixtepô: Nój tamu querenu quinhentus reau por herói qui aparecê no retrato.
Redator: Tá feito.
Ixtepô: Como ansim ta feito? Tu nô vaj pechincha nadinha, quiridu?
Redator: Não! O Negócio está fechado.

O Neto mi oiô pra mim cô rabo du zóio i deu di apercebê qui Ô tinha fazido cagada i cobrado raso di barato. Ô tentei arrevertê a situaçã, amoxtrei a foto pro redatori i disse:

Ixtepô: É doj mil reau, quiridu.
Redator: Perai, Ixtepô! Você disse que eram quinhentos reais por herói. Aqui eu só vejo o Tainha, o Berbigão e o Luciano Hulk. Então eu lhes devo apenas um mil e quinhentos reais.
Ixtepô: Pelum acausu nô taj querenu levá o Homi Invisive di graça, taj?

Traduzindo.....

Meu Querido,

Eu já te falei que o Capitão Tainha e o Rapaz Berbigão elegeram o Neto para ser o ftógrafo oficial da dupla. Pois então, semana passada fomos visitar o Diário Catarinense para oferecer algumas fotos dos Heróis Manézinhos para eles publicarem. Lá, fomos muito bem recebidos pelos jornalistas. Bem, nós até já saímos na coluna do Cacau Meneses. O redator, do jornal, quis logo ver as fotos e foi logo perguntando:

Redator: Meus caros vocês tem muitas fotos do Capitão e do Berbigão?
Ixtepô: Se temos, querido! È foto deles treinandos os golpes,
preparando as estratégias de ataque, comendo peixe frito com pirão de nylon, até foto dos dois nadando na Lagoa nós temos.
Redator: Mas então me deixem ver as fotos.
Neto: Bom! Eu até posso deixar vê-las, mas eu vim aqui pra te vender uma foto muito especial.
Redator: E o que ela tem de especial?
Neto: Não é uma foto em que aparecem somente o Capitão Tainha, o Rapaj Berbigão é bem mais que isto.
Redator: Mas então vamos vê-la.
Ixtepô: Espere um pouco. Primeiro temos que acertar os preços.
Redator: E o que vocês estão pensando?
Ixtepô: Queremos quinhentos reais por cada herói que aparece na fotografia.
Redator: Tá feito.
Ixtepô: Como assim tá feito? Não vais pechinchar nada?
Redator: Não! O Negócio está fechado.

O Neto me olhou com o canto dos olhos e eu percebi que tinha feito porcaria e cobrado muito
barato. Tentei inverter a situação, mostrei a foto para o redator e disse:

Ixtepô: São dois mil reais, querido.
Redator: Perai, Ixtepô! Você disse que eram quinhentos reais por herói. Aqui eu só vejo o Tainha, o
Berbigão e o Luciano Hulk. Então eu lhes devo apenas um mil e quinhentos reais.
Ixtepô: Por acaso não estás querendo levar o Homem Invisível grátis, estás?

sábado, 7 de novembro de 2009

33. O Super-Herói da Ilha

Mô Quiridu,

Todo mundo véve falanu da violença e recramanu qui aj cidade tá ficanu cava vej máj inxculhanbada, nô tem! É invasã di morro aqui, droga ali, henlicópi arvejado acolá. Ansin nô dá, né oh? Vô ti dizê pra ti, qui pudia sê muito pio, nô fosse arguns cidadão dextemido que arrixco a vida pelo bem comum, daj pessoa i doj ser homanu.. São oj verdadero herói, aquelij qui nój devemo chamá di pauladinho maxcaradu, quiridu. Pior é qui muitaj vej nój nem ficamu sabenu qui elej inzéxti. Tu sabiaj qui Florianópij é cuidada, di dia, di noite i até di madrugada, por um herói anoinho? Nô sabiaj? Maj é quiridu, ti juro pra ti! I Nô vô revelá a indentidadia secreta dele, até pruque nô sei, máj nô posso deixá di ti falá dele pra ti. Entendesse?
Aj premera notiça di aparença dele foi lá prój lado da Barra da Lagoa. Sabe cumé qui é boato, né quiridu. Unj dizia qui tinha vixto bruxa, otroj assombraçã, até hixtória di lobisômi inventaru. O pobrema é qui ninguém tinha inxpricaçã pro vurto qui, andava aparecenu im cima daj casa, noj beco i naj servidã. Oj pessoal já andava tudo assuxtado i infesado querenu sabê quem ia pagá aj telha quebrada, rapaj.
Pru oto ladu, o povo começô a peucebê qui aquelij furtinho qui acontecia, vorta i meia, pararo de supetão. Nunca maj bifaro aj carçola da Dona Neca, ninguém maj mexeu noj ovo do Seu Dirço, qué dizê daj galinha do seu Dirço, i aj rede do Galego começaru a aparecê carregada di pexe dinovo, quiridu.
Degavazinho oj pessoal começaru a ligá aj côsa. Nô tem? A mesa assombraçã qui andava arrodiando a Barra, tomém tava inxpantanu oj ladrão. Foi quanu a poliça devurgô, no DC, o mixtério doj meliante cá boca cheia di inxcama.
Rapaj, já fazia uma muntuêra di semana qui oj policial encontrava arguns mau elemento, conhecidu, caj mão i coj pé amarrado i ca cabeça meia atolejmada. Elej diziu qui levaru uma biaba na boca, dum Homi pexe, qui si sumiu-se maj rápido do qui veio. Depôj acordaru meio tanso, com goxto i chero di pexe cru noj beiço inchado. O maj importante é cáj apariçã do maxcarado começaru a acontecê por toda a Ilha i oj excomungado doj marginarzinho dero di disaparecê oj poço.
Pôj esse maxcarado tem nome, quiridu! Ele si chama-se CAPITÃO TAINHA e nô age sozinho. Ele tem um parceiro qui oxilia in todoj oj caso, o seu amigo e fiel tarrafeiro, O RAPAJ BERBIGÃO.
Cumé cô sei dissu? Ve só, uma noite dessaj o Neto foi na casa do Badejo pra tirá umaj foto daj criança dele. Quanu vortava pra casa, ouviu um baita ixcarcéu num terreno baldo ali perto. Nô deu outra, nego. Lhá tava um mandrião amarrado, cá boca toda inxcangalhada. Ele chegô perto pra vê o qui era, nissu uma baita sombra se projeto-si im cima dele. Éru elej dôj: TAINHA E BERBIGÃO.
Achaj qui elej deru uma camassada di pau no Neto? Só pro teuj córno meso.
Elej pidiru foi pro Neto sê fotógrafo oficialli delej. O rapaj aceitô i tiro uma missidade di retrato. Tá tudo lá in casa.
Tamu até pensanu im mandá argumaj pro Cacau Menêj.

Vai qui ele pubrica.

Traduzindo .....

Meu Querido,

Todo mundo fala da violência e reclama que as cidades estão ficando cada vez mais descuidadas. É invasão de morro por aqui, drogas ali, helicóptero alvejado por lá. Assim não dá! Mas vou te dizer que poderia ser pior, não fosse por alguns cidadãos destemidos que arriscam a vida pelo bem comum, pelas pessoas e pelos seres humanos também. São os verdadeiros heróis, aqueles que poderíamos chamar de paladinos mascarados. O pior é que por muitas vezes não sabemos de sua existência. Sabias que Florianópolis é guardada de dia, a noite e até de madrugada por um herói anônimo? Não sabias? Mas é, te juro! Eu não revelo a identidade secreta dele, até porque eu não a conheço, porém não posso deixar de te falar sobre ele. Entendeste?
A primeira notícia de aparição dele foi lá na região da Barra da Lagoa. Mas sabes como é boato. Alguns diziam ter visto bruxa, outros assombração, até história de lobisomem houve. A questão é que não havia explicação para um vulto que aparecia sobre as casas, nos becos e nas servidões. O pessoal estava assustado e bravo pois queria saber quem pagaria as telhas
quebradas.
Por outro lado o povo começou a perceber que os pequenos furtos, que aconteciam vez por outra, pararam repentinamente. Nunca mais roubaram as calcinhas de Dona Neca, não mexeram mais nos ovos do Seu Dirço, melhor nos ovos das galinhas dele e, as redes do Galego começaram a aparecer carregadas de peixes, novamente.Aos poucos as pessoas começaram a ligar os fatos. A mesma assombração que rondava a Barra estava espantando os ladrões. Foi nesta época que a polícia divulgou, no DC, o mistério dos bandidos com a boca cheia de escamas.
Rapaz, fazia tempo que os policiai vinham encontrando alguns maus elementos, já conhecidos, com mãos e pés amarrados, e com a cabeça zonza. Eles afirmavam que haviam sido golpeados na boca por um homem peixe, que sumiu tão rápido, quanto apareceu. Mais tarde acordaram tontos, com gosto e cheiro de peixe cru na boca. O mais importante é que as aparições do mascarado se tornaram freqüentes na ilha e os infelizes dos marginais foram desaparecendo aos poucos.
Pois este mascarado tem nome, querido! Ele se chama CAPITÃO TAINHA e não atua sozinho. Tem um parceiro que o auxilia em todos os casos, o seu amigo e fiel tarrafeiro, o RAPAJ BERBIGÃO.
Como eu sei disto? Bom, uma noite destas o Neto foi à casa do Badejo para fotografar as crianças dele. Quando voltava ouviu
uma barulheira em um terreno baldio ali por perto. Foi tiro certo, lá estava um malandro amarrado, com a boca toda machucada. O Neto se aproximou para ver o que era e nisto uma sombra enorme o emcobriu. Eram eles dois: TAINHA E
BERBIGÃO.
Pensas que eles agrediram o neto? Claro que não.
Eles pediram foi para o Neto ser o fotografo oficial deles. O rapaz aceitou e fez uma enorme quantidade de fotos dos dois. Está tudo lá em casa.
Estamos até pensando em enviar algumas para o Cacau Menezes.

Vai que ele publica.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

32. Que exame é este?

Mô Quiridu,

A idade vem cheganu, i apesari da inxperiênça, junto vem umaj incomodaçãozinha tomém, né oh! Oj zóio já nô inchergo como antij, aj junta fico um poco emperrada, aj idéia atolexmada. I aj tarefa maj simplej, tipo governá um pexinho, si tornu-se impossívi, quiridu.
O pióri é oj monti di inxame qui percisemu fazê. Tem di consurtá praj vixta, coraçã, pressã arta, colexteroli, diabétia, sixtema neuvoso, isso si nô fumaj. Né quiridu! Si fumá ainda tem pineumolosgistica. Tenho di ti dizê prá ti qui esse nô é o mô caso.
A quextã é qui o mô Gernriata mi indicô, pra mim, um tar de Unrologista, rapaj. É qui além dessa montuera di inxame cô faço anuarmente, agora tenho di fazê um que Ô nunca nô fij. Intendesse! Inxami di próxta, quiridu.
O Dotori, inxplicô, inxplicô i Inxplicô o inxami pra mim umaj déj vêj, nô tem? Ô fiquei cabrêro i fij quextã di nô intendê o quele tava querenu mi dizê pra mim. Ô tive di oiá bem dentro duj zóio dele i aí dizê:
- É capaj meso cô vô dexa fazê uma cosa dessa im mim! Mi dixcurpa maj Ô nô sô desse tipe di omi, rapaj. O dotozinho deve di tá me confundinu cum argúem deferente. Vai percurá seuviço, vai.
O Degranido si assusto-se i ficô branco cá minha gritaria, rapaj. Máj ô nô sei cumé qui pode né, oh. Ele consiguiu mi acarmá i moxtrá u quantu a prevençã é importante pra evitá aj duença.
Ô mi convenci i disse pra ele qui ia marcá unrologista prun dia desse quarqué. Ele levantô o telefonio i ligo pra um médicu amigo dele. O malino mi marcô consurta pra duaj hora maj tarde.
Lhá fui Ô, cheio di pensamento tolo na cachola, visitá o tar du médicu. Maj Ô tavu cum baita medo era di chegá lá i o Dotori sê daquelêj omi giganti, quiném jogadori di baxqueti. Já imaginasse?
Cheguei no consurtório i mi apresentei-me prá recepcionixta. Sentei na sala di ixpera i comecei a sua frio, imaginanu qui o Oxcar, aquele da seleçã Brasilera, ia mi recebê di aventali branco, sorriso amarelo i uma bola alaranjada, pra gente fazê umaj cextinha antij do procedimento, quiridu.
Foi quanu a moça me chamou e disse pra Ô passá na sala do médicu. Ô Si levantei trenendo i me dirigi pra armação, agora nô tinha maj vorta. Pra ti vê, quanu abrí a porta do consurtório, lá tava ele sentado caj mão no borso. O dotori era bem piquininho, praticamente um anãozinho. Nô tem?
Ô pensei qui ixcapá di grandi, maj isto só até ele inxtendê a mão pra mi cumprimentá, quirido. Aj mãozinha dele pareciu duaj raqueta di tenij.
Ai nô dá né oh!

Traduzindo.....

Meu Querido,

A idade vem chegando e, além da experiência, vêm também alguns probleminhas. Os olhos não enxergam como antes, as juntas endurecem, a mente cansa. As tarefas simples, como limpar um peixe, podem se tornar imossíveis.
O pior é a quantidade de exames aos quais somos submetidos. Temos que consultar o especialista dos olhos, da pressão, do coração, colesterol, diabetes, sistema nervoso e isto se não fumamos. No caso dos fumantes ainda tem o pneumologista. Deste mal não sofro.
A questão maior é que meu geriatra me indicou um urologista. É que além de todos os exames rotineiros, devo me submeter a um que ainda não fiz. Exame de próstata.
O doutor me explicou o exame por várias vezes. Eu não fiz questão de entender nenhuma delas. Mas precisei olhar no fundo dos olhos dele e dizer:
É bem capaz que eu deixarei alguém fazer uma coisa dessas comigo. Me desculpa, mas não sou deste tipo de homem. O doutor deve estar me confundindo com outra pessoa. Vá procurar o que fazer!
Ele se assustou com minha gritaria, porém conseguiu me acalmar e provar o quanto a prevenção é importante para evitar as doenças.
Me convenci e disse que marcaria consulta com urologista um dia destes. Ele pegou o telefone e ligou para um médico amigo. O malvado marcou consulta pra duas horas mais tarde.

Lá fui eu, cheio de fantasias na cabeça, visitar o tal do médico. Mas o medo que eu tinha era de chegar lá e o doutor ser um homem gigante, tipo um jogador de basquete. Já imaginou?
Cheguei no consultório e me apresentei à recepcionista. Sentei me, na sala de espera, e comecei a suar frio. Estava imaginando o Oscar, aquele da seleção Braslileira, me recebendo de avental branco, sorriso amarelo e uma bola
alaranjada, para a gente fazer umas cestinhas antes do procedimento.
Foi quando a atendente me chamou e pediu para eu passar ao consultório. Me levantei tremendo e me dirigi ao abatedouro, pois não tinha mais volta. Quando abri a porta, lá estava o médico sentado, com as mãos no bolso. O doutor era muito
pequenino, quase um anãozinho.
Pensei que tinha me dado bem, mas isto só até o momento emque ele estendeu a mão para me cumprimentar.
As mãos dele pareciam duas raquetes de tennis.
Daí é difícil!!!!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

31. Um canto que encanta

Mô Quiridu,

Ô nô to querenu si inzibi nem contá vantage . Intendesse? Agora, vô ti dizê uma cosa pra ti! Curió bom inzéxti uma montuêra, maj inxpetacularí só tem um. O Fabojuno! Aquilo é um monxtru , arromba, dá um banho. O bichinho canta muito i nô importa o lugari, podi di sê lá em casa, na rua, nu curiódemo. Sêje ondi sêje, o degranido moxtra a fibra qui tem. Nô tem!
O Fabojuno já ganho tudo quantu é competiçã aqui in Florianópij, em São Paulo, no Rio de Janeiro. Bom, nój já andemo muito por ai e sempre vortemo do memo jeito. Ô cá gaiolha em cima da mão exparmada i ele meio carcundinha de tanta medaia apendurada no pexcoço.
Só prá ti tê uma idéia di comé qui ele é, vô ti contá uma cosa pra ti! No úrtimo concurso qui nój fumo, o Fabojuno cantô tanto, tanto, tanto, qui oj otro passarin, além di corrê da briga, botaru aj asa im cima da cabeça pra tapá aj oreinha i nô da di oví o Fabo.
Oj dono doj passarin ficaru abobadu co show do Curió da Barra da Lagoa. I nô deu outra, né quiridu! Choveu propoxta pelo mô curió. Oferecero uma camioneta quatru pru quatru, um sítiu im Paratí, um apartamento na Bera Mar. Vô ti dizê pra ti, qui Ô nem tentado fiquei. Arrecuzei todaj aj propoxta qui elej fizéro, maj oj atolejmado continuaru mi incomodanu. Ah pára né ,oh! Quanu elej viru qui nô ia di dá negóciu, um delej apregunto:
- I prá acasalá o Fabojuno com uma fêmiazinha, quanto tu quéj Ixtepô?
Cumé qui podi né, oh! Ô nunca nô tinha pensado naquilo. Máj pra vê aquelij degranido bachá a crixta, ô chutei o pau da barraca i falei:
- Déj mil reau por cruza, môj quiridu.
Me arrombei todo , rapaj! Tinha unj vinti i trêj criadori querenu um filhote do mô curió, ansin memo, credo! Ô pensei rápido i omentei a propoxta pra cinqüenta mil reau. Ningém correu! Então ô disse que aquela missidade di fêmia ia se demaj até pro Fabojuno. Ansim, si oj pessoal nô si importassi, o Fabojuno ia tê di inxcolhé a parcerinha di amor. Todo mundo concordô.
Bom, fizêmu uma baita roda com aj vinte e trêj gaiolha di fêmia i coloquemo a gaiolha do Fabojuno bem no meio, ainda coberta. Foi tirá a proteçã di pano i o bichinho enveredô a cantá dum jeito, qui nój nem prextemo maj atençã naj fêmia. Só dava Fabojuno, quiridu.
Foi quanu uma rapariga piquena falô pro pai:
- Porque aquele passarin tá cantanu pruma monturea di gaiolha vazia in vorta?
Só ai qui nój vimo qui aj passarinha tinho tudo dexmaido di emoçã in oví o Fabojuno, rapaj. Dava di vê aj curiózinha tudo deitadinha, suxpiranu incantada, no fundo daj gaiolha. O pióri é qui nô deu di botá oj passarinho in cria.
Máj o Fabojunu si sentiu-se o dono do pedaço, inxfregô a asinha na nuca i sortô um cantinho seco bem ansim:
- Brigaduuuuu!

Traduzindo.....

Meu Querido,

Não quero me exibir e nem contar vantagens. Mas tenho de te dizer algo importante: Existen muitos curiós bons, mas espetacular somente um. O Fabojuno! Ele é fenomenal. O pássaro canta muito e não importa aonde, pode ser lá em casa, na rua, no curiódromo. Seja onde for, ele mostra a fibra que tem.O Fabojuno já ganhou tudo que é competição em Florianópolis, São Paulo e no Rio de Janeiro. Nós já fomos a muitos lugares e sempre voltamos do mesmo jeito. Eu com a gaiola sobre a mão espalmada e ele corcunda de tanta medalha pendurada no pescoço.
Só para você ter idéia de como ele é vou te contar algo! Durante o último concurso que fomos, o Fabojuno cantou tanto, que os outros passarinhos colocaram as asas sobre a cabeça para cobrir as orelhas e não ouvir o Fabo.
Os proprietários dos pássaros ficaram encantados com o show do Curió da Barra da Lagoa. E choveu proposta pelo Fabojuno. Ofereceram uma camionete quatro por quatro, um sítio em Paratí, um apartamento na Beira Mar. Mas eu nem fiquei tentado. Recuzei todas as propostas que me fizeram, mas continuaram insistindo. Contudo, quando viram que não tinha negócio, um deles perguntou:
- E para cruzar o Fabojuno com uma fêmea, quanto você quer?
Como pode? Eu nunca havia pensado na possibilidade. Mas para vê-los desistir, falei um preço bem alto:
- Dez mil reais por cruza.
Me dei mal. Havia uns vinte e três criadores querendo um filhote do meu curió, assim mesmo. Pensei rápido e aumentei a proposta para cinqüenta mil reais. Ninguém desistiu! Então eu disse que aquela imensidão de fêmeas seria demais, até mesmo para o Fabojuno. Assim, se eles não se importassem seria bom deixar o curió escolher sua parceira do amor. Todos concordaram.
Bem, fizemos uma enorme roda com as gaiolas das fêmeas e colocamos a gaiola do Fabojuno, ainda coberta, bem no centro. No que se retirou a proteção de tecido, o curió começou a cantar de tal forma que deixamos de prestar atenção nas fêmeas. O Fabojuno tomou conta do lugar.
Foi quando uma menininha perguntou ao pai:
- Porque aquele passarinho está cantando para um monte de gaiolas vazias ao redor?
Só ai percebemos que as fêmeas haviam desmaiado de emoção em ouvir o fabojuno. Elas estavam deitadas, suspirando encantadas, no fundo das gaiolas. O ruim, nisto tudo, é que não deu para acasalar os passarinhos.
Mas o Fabojuno sentiu-se o bonzão, esfregou a asinha na nuca e soltou um canto seco bem assim:
Brigaduuuuu!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

30. A Unificação do Manezês


Mô Quiridu,

Adexpôj qui Ô dei di inxcrevê esse mô brógui, tenj qui vê a missidade di rapaj e rapariga si contatanu cumigo. Digo máj, tem unj qui até são môj seguirori. Issu tá cum cara de seita, né quiridu. Ah um relho,né oh! Máj a questã é qui a maioria delij arrixca inxcrevê im Manezêj. Intendesse? Vô ti dizê pra ti qui , qui dissu tudo, Ô arreparei qui inzéxti muitaj forma di inxcrevê o nosso indioma ilhéu, rapaj! Até Ô mesô inxcrevo uma cosa, di duaj o trêj forma deferente. Ansim, Ô quiria lançá, aqui, uma campanha prá Unificá a inxcrita do Manezêj, exta língua qui si fala di um único jeito, maj si inxcreve di deversaj manera.

MUJ - Manezêj Único Já!


Traduzindo.....

Meu querido,

Depois que comecei a escrever este meu blog, eu tenho conversado com muitas pessoas. Alguns se tornaram meus amigos, outros se dizem meus seguidores, isto até parece coisa de seita. O que importa é que muitos me escrevem e a grande maioria arrisca o Manezês, para falar comigo. O que eu tenho percebido é que existem muitas vertentes que representam a escrita do nosso Idioma Ilhéu. Mesmo eu tenho escrito uma única palavra com grafia diferente. Assim, gostaria de lançar aqui uma campanha, sem precedentes, para a Unificação da Escrita do Manezês uma vez que este é um idioma que se fala de uma única forma mas se escreve de diversas maneiras.

MUJ - Manezês Único Já

sábado, 29 de agosto de 2009

29.Perder peso é fácil

Mô quiridu!

A Joaquina véve inventanu moda, agora se incafifôsse qui tem di perdê umaj gordurinha. Ô nô sei dereito o qui aconteceu, máj ela só fala di colesteroli arto, qui aj ropa nô serve i qui ela percisa imagrecê. O pió dissu tudo é qui a comida nô tem máj nome, agora tem é um númuro, oh! Qué dizê, a comida vale ponto, quiridu. Hoji, no café da manhã, a nossa cunversa tomo esse rumo:


Joaquina: Dá dalí um quatro, dôj trêj i um sêj, nego!
Ixtepô: Adexcurpa, Ô nô intendi nada, má quirida!
Joaquina: Nô si faj di tanso, sô abobado. Ô queru, um pãozinho di trigu, duaj fatia di persuntu i uma coierada di chimia.
Ixtepô: Joaquina, oj pessoal já nô indendi o qui Ô falo in manezês, tu acha qui elej vão intendê essa missidade di númuro naj inxtória. Um pão é um pão. Um pão não é sêj.
Joaquina: Um pão não é sêj, um pão é quatro! Tem máj, aj mulherada todinha sabe que qui é um quatro, um trêj i um cinco, quiridu.
Ixtepô: Tão tá! Maj a questã é qui Ô nô veju resurtado neste tali do teu regime doj ponto. Entendesse?
Joaquina: É qui Ô perciso de regime i tu, além dissu, percisa di ócluj, rapaj. Tem máj, tu éj do tipo qui recrama, recrama i não ajuda. Que qué issu né,oh!
Ixtepô: Si arrombasse toda, quirida. Ô quero ti convidá pra fazê um regime im casali.
Joaquina: Só prô tôj córno. Tu ta é si arrianu im mim, ôh, sô abusado!
Ixtepô: Táj tola táj! Nô é bobage , quirida, Ô queru é fazê o Regime da Tainha contigu.
Joaquina: Ói,oi, oh! Quéj dizê qui só vamu cume tainha, é issu?
Ixtepô: Nô sêje tansa, vai dá di cume um pirãozinho di nailu junto.
Joaquina: Me adimiru di tu achá qui issu vai dá certo.
Ixtepô: Nega, Ô tô brincanu. Nô é um regime a base di tainha, é o regime da tainha, mêso!
Joaquina: Como é qui fonciona?
Ixtepô: É ansim, oh: Nój peguemu o onibuj aqui i desembarquemo em Tapij, no Rio Grande do Suli. Lá nój se joguemo na Lagoa doj Pato i vortemo nadanu prá Florianópij. Vamo chegá aqui quaji sem gordura. Entendesse?
Joaquina: Será si issu vai dá certo?
Ixtepô: Já faj séculuj qui fonciona caj tainha, má quirida!



Traduzindo.....

De uns tempos para cá, a Joaquina está com mania de perder peso. Eu não sei o que aconteceu, mas ela vive falando de
colesterol alto, que não cabe mais nas roupas e precisa emagrecer. Pior de tudo é que os alimentos não tem mais nome, agora eles tem um número, melhor valem pontos. Hoje, já no café da manhã, nossa conversa tomou o seguinte rumo:

Joaquina: Me alcança um quatro, mais dois três e um seis, nego!
Ixtepô: Desculpa, mas eu não entendi, minha querida.
Joaquina: Não se faz de tolo, eu quero um pãozinho de trigo, duas fatias de presunto e uma colherada de chimia.
Ixtepô: Joaquina, o pessoal já não entende o que eu escrevo em Manezês, imagina a confusão que este monte de número vai causar nas nossas histórias. Um pão é um pão. Um pão não é seis.
Joaquina: Não é seis é quatro! E além disto, tu estás muito enganado rapaz, a mulherada todinha sabe o que é um quatro, um três e um cinco.
Ixtepô:Tudo bem ! Mas tu já estas no regime dos pontos faz tempo e eu não vejo resultado.
Joaquina: É que eu preciso de regime e tu, além disso, precisas de óculos, querido. E tem mais, tu és do tipo que reclama, reclama e não sugere nada novo.
Ixtepô: Pois então! Eu quero te propor um regime em casal.
Joaquina: Tu estás de brincadeira comigo, não é querido?
Ixtepô: Claro que não! Nós vamos fazer o regime da tainha.
Joaquina: Tu queres dizer que nós iremos comer somente tainha durante algum tempo, é isto?
Ixtepô: Claro que não, dá para comer pirão de acompanhamento.
Joaquina: Isto não vai dar certo!
Ixtepô: Nega, eu to brincando, não é um regime a base de tainha. É o regime da tainha.
Joaquina: Então, como é que funciona?
Ixtepô: É assim, oh: Nós pegamos um ônibus aqui e vamos até Tapes no RS. Lá, nos jogamos na Lagoa dos Patos e voltamos nadando até Florianópolis. Vamos chegar aqui sem gordura nenhuma, querida.
Joaquina: Vai dar certo?
Ixtepô: Faz milhares de anos que isto funciona com as tainhas, minha querida.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

28. Made o que ?

Mô Quiridu!

O Neto tá virando homi meso, já tem vój di tripa raxgada i deu di arraxtá asa práj rapariga. Entendesse? Onti aquele nabinha teve aqui in casa cuma coleguinha di alula. Era uma dessaj rapariga grandona, dunj quatorze ano, qui até parece qui já tem unj vinti i trêj o maj. A alemoa era muito bem apessoada, côsa maj linda, i falava cô sotaco assobiado lá do centro da cidade. Nô tem? A Joaquina se inciumosse um poco, maj puxô cunversa só pra conhecê a rapariga:

Joaquina: Má quirida, me dij pra mim qual é o tô nomizinho,dij.
Nete: É Zanetssi, máj pode me chamá di Netssi, tssia!
Joaquina: Baxa a crixta Janete, Ô nô sô tua tia, nega!
Nete: Não foi neste sentssido, tssia. É que a Senhora parece tão jovem que eu não quis chamar de vó. Entendesse?
Joaquina: Neto, essa tua amiguinha é um bijuzinho, tenj qui trazê ela aqui máj vêj.
Nete: Brigadu tssia!
Joaquina: Quéj argum cítrico pra tomá Nete?
Nete: A Senhora tem , tssipo assim, refrigerantssi dietssi?
Joaquina: Nô tenho quirida, aqui nój só tomemo suco naturali.
Nete: Então eu quero um suquinho dzi tomatssi, tssia.
Joaquina: Que qué issu, né ôh! Tô falanu di laranja, lima, limão. Entendesse?
Nete: Então limão, porque é máj adstringentssi, tá tssia!
Joaquina: Tão tá então, vô fazê uma limonadinha.

Quanu a Joaquina vortô, pra trazê o suco, reparô uma tatuage no purso da rapariga i nô deu di se assegurá:

Joaquina: Que rabixco é esse no teu purso má quirida? Andaj colanu na ixcola, andaj?
Nete: Não tssia, isto é uma tatuagem e está escrito MADE IN FLORIPA.
Joaquina: Meid nu que?
Nete: É, tssipo assim, FABRICADA EM FLORIANÓPOLIJ, só que em inglêj. Entendesse, tssia?
Joaquina: Ô tenho vixto cosa, ôh! Máj tu só tatuasse o braço, né quirida?
Nete: Eu sim, máj tem gentssi que tatuou a nuca, a cintura, o umbigo e aí vai. Agora é tssipo modzinha ,tssia.
Joaquina: Até qui nô ficô tão feio ansim! Máj Ô tenho uma sugestã pra ti dá pra ti.
Nete: Qual é tssia?
Joaquina: Tu éj daqui, nô éj? Então inxcrevi im Manezês, má quirida.

Que tali Fazida in Florianópij ou Fazida nôj Inglêj, quem sabe, Fazida na Barra, já penssasse, Fazida in Ratonij, nô da di sê, Fazida no Saco dôj Limonj, já sei, Fazida na Praia Mole, melhor, Fazida na Coxtera do Pirajubaé, ou ainda.......



Traduzindo.....


O Neto está crescendo, mudando a voz e começando a se interessar por namoro. Ontem ele esteve aqui em casa com uma coleguinha de aula. Era uma destas meninas de uns quatorze anos mas que parece que já tem uns vinte e três. A moça loira, muito bonita e desinibida, falava com aquele sotaque meio assoviado lá do centro da cidade. A Joaquina ficou um pouco enciumada e puxou conversa para conhecer a menina:

Joaquina: Minha querida qual é o teu nome?
Nete: É Janete, mas pode me chamar de Nete, tia.
Joaquina: Desculpa, Nete, mas eu não sou tua tia, nega!
Nete: Não foi neste sentido, tia. É que a Senhora parece tão jovem que eu não quis chamar de vó.
Joaquina: Neto, esta tua amiguinha é um doce, tens que trazê-la aqui mais vezes.
Nete: Obrigada, tia!
Joaquina: Queres tomar alguma coisa Nete?
Nete: A Senhora tem , tipo assim, refrigerante diet.
Joaquina: Não querida, aqui só tomamos suco natural.
Nete: Então eu quero um suco de tomate, tia.
Joaquina: Que isto menina! Eu estou falando de laranja, mamão, limão.
Nete: Então limão, porque é mais adstringente, tá tia!
Joaquina: Vou fazer uma limonada então.

Quando a Joaquina voltou, para trazer o suco, reparou uma tatuagem no pulso da menina e não se conteve:

Joaquina: Que rabisco é este no teu pulso querida? Andas colando na escola?
Nete: Não tia, isto é uma tatuagem e está escrito MADE IN FLORIANÓPOLIS.
Joaquina: MADE IN, o que?
Nete: É, tipo assim, FABRICADA EM FLORIANÓPOLIS, só que em inglês. Entendeste tia?
Joaquina: Eu tenho visto coisa! Mas tu só tatuastes só o braço, eu espero?
Nete: Eu sim, mas tem gente que tatuou a nuca, a cintura, as costas e aí vai. Agora é tipo modinha tia.
Joaquina: Sabe, até que não ficou tão feio assim! Mas eu tenho uma sugestão.
Nete: Qual é tia?
Joaquina: Tu és daqui não és? Então escreve em Manezês, minha querida.
Que tal Feita em Florianópolis ou Feita nos Ingleses, quem sabe, Feita na Barra, já pensaste, Feita em Ratones, não dá para ser, Feitano Saco dos Limões, já sei, Feita na Praia Mole, melhor, Feita na Costera do Pirajubaé, ou ainda......

domingo, 16 de agosto de 2009

27. Que mistério é este?


Mô Quiridu!

Ô já oví uma montuêra di inxtória di aparença, daquelas di dá cagaço em rapaj piqueno i dexá homi grandi todo abobado. Máj Ô só acredito numa delaj, quiridu, porque Ô conheci i convivi cá degranida da criatura por argunj ano. Entendesse?
Ô era rapaj, quanu otra família di pexcadori se mudôsse pro lado da nossa casa. Nô tem! O pai i a mãe fizero amizade côj maj véio i Ô se torneisse amigo do rapaj, o Gugu.
Nój brincava a trêj por dôj, nadava, pexcava, tirava marixco, ajuntava berbigão i tatuíra, pegava siri i unj camarãozinho. Pra ti vê, nój tinha uma vida de rapaj criado na bêra do mar. Côsa linda!
Máj o Gugu tinha um segredo. Nô tem? Ô só botei reparo nisso, a premera vêj cô fui armoçá na casa dele. O rapaj tinha di comê oj olho dôj pexe.
Vê só, ele nô si güentava. Era só enchergá um pexe côj olho exbugalhado i ele pulava no prato pra arrancá aj baga e enfiá guela abaxo. Ele ficava tão, tão, tão, saxtifeito qui dava di vê aquelij baita dentão branco alumiando a cara queimada do soli. Maj isso durava poco i o Gugu já tava perparado pra ataca di novo, quiridu.
Que qué isso né, oh! I tem máj, ele fazia a mesa cosa lá in casa, quanu ia armoçá o jantá. Na casa dôj nosso amigo i até naj fexta da comunidade ele si comportava inguali. Era tê pexe de olho arregalado, o rapaj avançava i comia. Tanto foi qui ele ganhô o apilido di “ Gugu papa olho di pexe”.
Dôj o trêj ano si passaro i o Gugu si sumiusse. Argunj pescadori disséro qui ele tinha aparecido lá por Gramado no Rio Grande do Suli, máj isso nunca si confirmôsse. O certo é qui a família do rapaj foi atraj dele i pió é qui nunca nô incontrô.
Aqui na Barra ainda si ove boato, qui in noite de lua cheia, oj olho doj pexe disaparece, di supetão, doj prato daj pessoa. Cumé qui pode né, ôh!
Ô nô acreditava nessaj bobage, máj adjaôj di manhã, Ô di um lance di tarrafa i peguei umaj sêj tainhota. Oj bicho era grande i pesado, unj baita pexão. Ô nunca nô tinha pegadu umaj tainhota tão grande. Máj o qui mi impressionô meso, foi qui todaj ela tava usanu tapa-olho, quiridu.
Nô dá di acreditá né,oh?
Máj ti juro pra ti, Ô vi cô essej zóio qui o Gugu nô há di cumê. Entendesse?

Traduzindo.....

Eu já ouvi muitas histórias de assombração que apavoram e aterrorizam a vida de crianças, jovens e adultos. Devo dizer que só acredito em uma delas porque conheci e convivi com a criatura durante algum tempo.
Eu ainda era menino quando outra família de pescadores mudou-se para próximo de nossa casa. Meu pai e minha mãe logo fizeram amizades com os pais e eu tornei-me muito amigo do menino, o Gugu.
Nós brincávamos juntos todos os dias, nadávamos, pescávamos, tirávamos marisco do costão, pegávamos camarão e siris
juntos. Enfim, tínhamos uma vida de meninos criados à beira mar.
Porém, o Gugu escondia um segredo que só descobri, a primeira vez que fui almoçar em sua casa. Ele tinha o costume de comer os olhos dos peixes.
Aquele comportamento, incontrolável, tirava o menino da razão. Bastava ver um peixe com os olhos arregalados, para ele avançar sobre o prato, arrancá-los e jogá-los rapidamente à boca em um único golpe. Tão logo seu desejo era satisfeito, um ar de satisfação surgia em seu rosto queimado pelo sol. Mas isto durava pouco e o Gugu já estava pronto a atacar novamente.
Esta situação aconteceu inúmeras vezes, inclusive quando eu o convidava para almoçar ou jantar lá em casa. Outros amigos passaram pelo mesmo que eu e, ainda, nas festas da comunidade ele se comportava da mesma maneira. Se tinha peixe com olho arregalado, ele avançava e comia. Isto rendeu a ele o apelido de “Gugu papa olho de peixe”.
Passaram-se dois ou três anos e o Gugu sumiu. Alguns pescadores trouxeram notícias dizendo que ele havia aparecido lá por Gramado no Rio Grande do Sul, mas isto nunca foi confirmado. O certo é que a família partiu atrás dele e não o encontrou.
Por aqui, ainda correm boatos que nos jantares em noite lua cheia os olhos dos peixes costumam desaparecer misteriosamente dos partos das pessoas.
Eu não acreditava em nada disto, mas nesta manhã, eu dei um lance de tarrafa e peguei umas seis tainhotas. Os bichos eram grandes, pesados mesmo, na verdade eu nunca havia pego tainhotas tão grandes. Mas o que me impressionou mesmo, foi que todas elas estavam usando tapa-olho.
Vou te jurar que eu que vi isto tudo com estes olhos que o Gugu não há de comer.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

25. Eu falo manezês


Mô Quiridu!

O Neto tem mi insinadu uma montuêra di côsa qui Ô nunca nô pensei qui ia conhecê. Entendesse? Ô tenho aprendido a trêj por dôj co rapaj i hoje, no café da manhã, lá tava ele dinovo:

Neto: Bom dia vô, tudo bem carinha?
Ixtepô: Tudo bem,rapaj!
Neto: Vô, me passa o cacetinho e a geléia, por favor?
Ixtepô: Tu quéj dizê o pão de trigo e a chimia. É issu qui tu quéj dizê, quiridu?
Neto: Ãããhã! Mãs, me fala uma coisa índio velho: O que tu achas do Orkut?
Ixtepô: Vou ti dizê, pra ti, qui pra mim nô fede nem chêra!
Neto: Mãs porque vô?
Ixtepô: Aquilo é meio azedinho, nô tem?
Neto: Azedo???
Ixtepô: Na verdadi, o Orkut de morangue té qui é passavi!
Neto: Não viaja na maionegs, vô. Orkut é um site de relacionamento na internet.
Ixtepô: Ô sô um tanso nessas côsa de enternet né, oh!
Neto: Que nada vô, isto tudo é trinovo para ti.
Ixtepô: Máj cumé qui ixto fonciona?
Neto: Bá, é assim oh:Tu te inscreve, fala sobre ti, o que tu gosta de fazer , pode coloca umas foto, uns depoimento, uns recado, procura os velhos amigos e pode fazer outros novos.
Ixtepô: Que qui elej nô inventu né. oh! Vamu si inxcrevê então, quiridu.
Neto: Tchê, na verdade a gente já está lá, temos até uma nova comunidade.
Ixtepô: Adixcurpa quirido! Ô nô troco a comunidade da Barra da Lagoa por nada nesse mundo. Entendesse?
Neto: Eu sei disto vô.
Ixtepô: Máj mi fala, pra mim: Qual é o nome dexta tali comunidade?
Neto: “ EU FALO MANEZÊS”.
Ixtepô: Ô tomém falo i dêj di piquininho, mô quiridu!

Traduzindo.....

O Neto tem me ensinado cada coisa que eu nunca imaginei que conheceria. Eu tenho aprendido muito com ele e hoje, no café da manhã, lá estava ele novamente:

Neto: Bom dia vô tudo bem?
Ixtepô: Tudo bem,rapaz!
Neto: Vô me passa a geléia e o cacetinho, por favor?
Ixtepô: Tu queres dizer a chimia e o pãozinho!
Neto: Sim. Mas me diz uma coisa vô: O que você acha do Orkut?
Ixtepô: Vou te dizer que, para mim, é um pouco sem graça!
Neto: Mas porque vô?
Ixtepô: Aquilo é meio azedo, querido?
Neto: Azedo???
Ixtepô: Na verdade, o Orkut de morango até da para encarar!
Neto: Não viaja vô. Orkut é um site de relacionamento na internet.
Ixtepô: Eu sou um bobalhão com estas coisas de internet.
Neto: Que nada vô, isto tudo é novo para ti.
Ixtepô: Mas como é que isto funciona?
Neto: Tu te inscreve, fala sobre ti, o que gosta de fazer , pode colocar fotos, depoimentos, recados, procura os velhos amigos e pode fazer outros novos.
Ixtepô: Vamos nos inscrever então.
Neto: Na verdade a gente já está lá, temos até uma nova comunidade.
Ixtepô: Desculpa querido, mas eu não troco a comunidade da Barra da Lagoa por nada.
Neto: Eu sei disto vô.
Ixtepô: Mas me diz: Qual é o nome da tal comunidade?
Neto: “ EU FALO MANEZÊS”.
Ixtepô: Eu também falo, desde pequeninho.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

22. O Rodízio


Mô Quiridu,

Adjaôj, Ô i o Crébe passemo a tardi todinha joganu dominó lhá na Praça XV, ôh. Ele é o mô baita amigo, máj o pióri parcero qui arguém podi di tê no dominó. Nô tem? Máj dissu tudo, o qui importa meso é qui esse foi o dia di sorte do Crébe i nój ganhemo a nossa premera partida junto. Na verdadi nój abafemo no jogo, rapaj. Ele si emociono-se todo i mi convidô pra fextejá, nossa vitória, num rodizo de pizza. Ô nem sabia o que era o tali do rodizo dereito, máj fui cheio do orguio...

Ixtepô: Só tu meso para me trazê num rextorante chiqui desse, mô quiridu!
Crébe: Ãh-ãh-ãh! Tu me desse a alegria máj grandi da minha vida! Ô tinha qui ti trazê num lugari di categoria, quiridu.
Ixtepô: Tu váj deixá unj pila aqui, isso deve di se caro. Vê só, essej baita quejão dipindurado no teto, aj carni adefumada, aj toaia xadreza náj mesa. Qui finura é essa, rapaj!
Crébe: Tu nô visse nada, aqui elej seve prá máj di duzentaj e trinta e sete qualidade de pizza.
Ixtepô: Táj dizenu qui dá di cume a miguéli, é isso que tu ta dizenu?
Crébe: Então, então! Si cabê, tu podij cumê um pedaço ou máj, di cada uma delaj. Dá di si impanziná. Entendesse?
Ixtepô: Côsa linda!
Crébe: Ixtepô! Pára di botá reparu in tudo, rapaj.
Ixtepô: É ca agora cô intendi, qué côj garçom ando arrodiando pela aí, ôh. Issu qui é o tali do rodizo!
Crébe: Então, pronto prá começá?
Ixtepô: Qué cô faço?
Crébe: É só virá esta bolachinha de prástico pro lado verdi. Isto qué dizê qui nój queremo cumê. Se virá pro lado vermeio é sinali qui já tamo cheio. Entendesse?
Ixtepô: Côsa fina meso, Crébe! Vô dá o sinali então...

Foi Ô virá a bolachinha i oj garçon começaru a chegá inguali pexe no engodo. Aquilo era um cardumo preto i branco i cada um delej quiria largá um pedacinho nu mô prato. No deu cinco minute i Ô já tinha comido dizoito fatia di pizza. Ô pensei qui tinha qui aceitá tudo qui elej mi oferecia, né ôh! Máj ô ví qui o Crébe tava deixanu passá argumaj, daí perguntei prá ele:

Ixtepô: Crébe, tu nô mi dissésse ,prá mim, virá a bolachinha si nô quizesse cumê, mô quiridu?
Crébe: Disse.
Ixtepô: Máj tu táj neganu argumaj i nô vira o sinali.
Crébe: Nô é ansim, sô tanso! Só si muda o sinali pro vermeio quanu acabá di cume.
Ixtepô: Rapaj, Ô sô um abobado meso, né ôh! Ô tava achanu qui issu era inguali sinalera: Verde-quero, vermeio –nô quero, verde-quero, vermeio –nô quero....
Crébe: Daí era bom di tê um sinali amarelinho, ansin : ATENÇÃ, mô quiridu, tô quagi empanzinado.
Ixtepo: Éj um atentado né ôh! Vamu pará de ixtória i continuá cumenu.
Crébe: Tá bom. Qui tali uma ceuvejinha prá acompanhá?
Ixtepo: Adiscurpa, máj Ô queru um daquelej refrigeranti qui derrete tudo qui encontra pelaj frenti.
Crébe: Vamo de Soda Cola, então?
Ixtepô: Máj da normali i cum limão galego! Nô mi vem co aquelaj coisa meia alambicada di laiti o zéru!

Rapaj, no qui engoli a Soda Cola, si abriu-se um buracu no mô inxtâmagu i Ô cumi máj setenta i trêj pedaço. Foi pizza di presunto, tomato, palmitu, brócoli, champinhão, lingüiça, portuguesa, quatro quejo, cinco quejo, sêj quejo, i óia cô ainda nô ti falei, pra ti, dáj doce. Tinha di chocolate cô morangue, melância cô melado i di souveti . A cumilança foi tão grandi cô fiquei cum ixtremiliqui i tive di virá a bolachinha. O Crébe viu cô tava numa situaçã difíci i si arriô-se em mim:

Crébe: Azulasse mô quiridu!
Ixtepô: Isso é farinha poca pro mô pirão, sô abobado! Ô até cumia máj unj cinco o sêj pedaçu só qui nô tem do sabori cô goxto.
Crébe: Tenj tempo né, oh! Duzentaj e trinta e sete qualidadi deferente de pizza e nô tem a qui tu goxtaj.
Ixtepô: Então dá só uma oiadinha no cardápe. Se tu achá pizza de tainha, Ô continuo cumeno, até amanhã, mô quiridu.

Traduzindo.....

Meu Querido,

Hoje, eu e o Kléber passamos a tarde jogando dominó lá na Praça XV. Ele é o meu melhor amigo, mas o pior parceiro que alguém pode ter no dominó. O que importa mesmo é que este foi o dia de sorte do Kléber e, pela primeira vez, nós ganhamos uma partida juntos. Na realidade nós jogamos muito. Ele ficou todo emocionado e me convidou para comemorar, nossa grande vitória, em um rodízio de pizzas. Eu não sabia direito o que era o tal rodízio, mas aceitei o convite muito satisfeito......

Ixtepô: Só tu mesmo para me trazer num restaurante chique destes, meu querido!
Kléber: Ixtepô , hoje tu me destes a maior alegria da vida! Eu tinha que te trazer num lugar de categoria.
Ixtepô: Tu vais gastar um nota preta aqui. Olha só, estes queijos enormes pendurados no teto, carne defumada, as toalhas xadrezes, o que é isto?
Kléber: Tu não vistes nada, aqui eles servem duzentas e trinta e sete variedades de pizzas. Se tu conseguires, podes comer um pedaço , ou mais, de cada uma delas.
Ixtepô: Então eu posso comer muito mesmo?
Crébe: Se couber pode comer um ou mais pedaços de cada uma. Dá para se empanzinar comendo.
Ixtepô: Maravilha!
Crébe: Ixtepô, tu não para de olhar para tudo, rapaz!
Ixtepô: Agora entendi o que os garçons estão fazendo rodando por ai. Isto é o tal do rodízio.
Kléber: Vamos começar?
Ixtepô: Como é que eu faço?
Kléber: É só virar esta bolachinha de plástico para o lado verde. Isto significa que a gente está comendo. Quando virarmos para o lado vermelho indica que não queremos mais.
Ixtepô: A coisa é fina mesmo, meu querido. Vou dar o sinal então...

Foi eu virar a bolachinha e os garçons começaram a chegar igual peixe na isca. Era um cardume preto e branco e cada um queria deixar um pedaço no meu prato. Em menos de cinco minutos eu já tinha comido dezoito fatias de pizza. Eu pensei que tinha que aceitar todo o sabor que eles ofereciam mas, percebi que o Kléber estava recusando alguns e perguntei:

Ixtepô: Kléber tu não disseste que quando nós não quiséssemos mais, deveríamos virar a bolachinha?
Kléber: Disse.
Ixtepô: Mas você está recusando algumas e não vira o sinal.
Kleber: Não é assim! A gente só muda o sinal para vermelho quando acabar.
Ixtepô: Rapaz, eu sou tolo mesmo, achei que o negócio funcionava igual semáforo: Verde-quero, vermelho–não quero, verde-quero, vermelho –não quero....
Kleber: Daí era bom um amarelo dizendo: Atenção já estou quase cheio.
Ixtepo: Bobalhão! Vamos continuar comendo.
Kleber: Tá bom. Que tal uma cervejinha para acompanhar?
Ixtepo: Desculpa meu querido, mas eu quero um daqueles refrigerantes que derrete tudo que encontra pela frente.
Kléber: Vamo de Soda Cola, então?
Ixtepô: Mas da normal e com limão galego! Não me vem com aquelas frescuradas de Light ou Zero!

No que tomei a Soda Cola, abriu-se um espaço no meu estômago e eu comi mais setenta e três pedaços. Foi pizza de presunto, tomate, palmito, brócolis, champignon, calabresa, portuguesa, mignom, 4 queijos, 5 queijos, 6 queijos, sem falar das doces. Tinha até de chocolate com morango, melancia com melado e de sorvete . A comilança foi tamanha que me deu um tremor e eu tive de virar a bolachinha. O Kléber que ainda estava comendo, me olhou, riu e soltou outra piadinha:

Kléber: Se entregou meu querido!
Ixtepô: Isto não é nada para mim! Eu até comia mais uns cinco ou seis pedaços, mas não tem do sabor que eu gosto.
Kléber: Tu estás brincando! Duzentas e trinta e sete qualidades diferentes de pizza e não tem o sabor que tu gostas.
Ixtepô: Então dá uma olhadinha no cardápio, querido. Se tu encontrares pizza de tainha, eu continuo comendo até amanhã.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

21. O Boi-de-Matisse

Mô quiridu!

A Joaquina sempre gostô muitcho de cunversá i agora, cô Neto moranu cá gente, ela tem quem azucriná caj ixtória dela. Ô já conheço todaj bem dereitinho, de tráj prá frente i no guento máj. Bom, onti nój tava sentado na frente di casa, depôj da janta, quanu o Neto se atraco-se a falá qui tava inxtudanu oj grande Pintori da Humanidade. Aquilo é otro qui parece qui tem cósca na língua, ôh! Ele disse qui percisava fazê um trabaio da inxcola, contanu arguma côsa deferente da vida dum delej. A Joaquina nô se aguento-se e tomô conta do assunto:

Joaquina: Neto, tu táj inxtudano oj grande Pintori, nô táj? Pelum acauso tu já ouvisse falá do Victor Meirelles, mô quiridu?
Neto: Bah, claro que sim, vó! Ele é um grande ícone.
Joaquina: Íncuni, táj tolo táj? Ele era um manézinho, isso é qui ele era, sô tanso! Na verdadi ele nasceu aqui, quanu Florianópoij inda si chamava Nossa Senhora do Desterro.
Neto: Vó, esta foi triboa. Eu quero dizer que o Victor Meirelles é um símbolo da arte de Florianópolis, do Brasil e do Mundo.
Joaquina: Agora intendi ! Entendesse?
Neto: E daí vó, tu conhece algum fato especial da vida dele? Tô triafim de saber. Conta aí, enquanto eu tomo este chima.
Joaquina: Então nô sei! Maj Ô vô ti contá, pra ti, otra hora. Agora tu váj sabê é da temporada qui o Matisse passô aqui in Florianópij.
Neto: Bah, tchê! Tu tá falando do Henri Matisse, o famosos pintor francês, vó?
Joaquina: É claro rapaj! Di quem havéra di sê?
Neto: E quando foi que o Matisse visitou Florianópolis?
Joaquina: Pôj então! Foi na épuca da segunda guerra mundiali.
Neto: Bah, vó tu não é fácil. Eu também li que o Matisse pensou em vir morar no Brasil, durante a guerra. Inclusive ele tava pronto para a viagem, já tinha até passaporte o carinha. Mãs, espera um pouco. Como tu sabe disto, andaste lendo a respeito?
Joaquina: Nô sêje abobado, rapaj! Foi a minha mãe qui me contô, pra mim, quando Ô ainda era rapariga piquena.
Neto: Este é do tempo do epa, vó! Mãs eu to pronto para ouvir o causo todo.
Joaquina: Tu ta mi danu linha, né oh! Bom, disse a mãe qui ele chegô por aqui muitcho intristecido i só ca roupa do corpo.
Neto: Mãs, onde ele ficou em Florianópolis?
Joaquina: Aquilo andô por aqui e por ali, máj si encantou-se com a luj do soli i da lua na nossa Lagoa da Conceição. Então, decidiu morar aqui na Barra da Lagoa por um tempo.
Neto: Conta mais vó, to tricurioso.
Joaquina: Ele nô era di muitcha falaçã, tinha um sotaqui meio inxtranhu i goxtava de saí pro mar côj pexcadô. Máj ninguém nô sabia nem o nomi do degranido. Todo mundo chamava ele di “O Francêj”.
Neto: E ele pintou muito, enquanto esteve aqui?
Joaquina: Vô ti dizê qui não. A mãe disse que só ficaru sabenu qui ele era artista na úrtma semana, poco antij dele vortá pra França.
Neto: Como assim?
Joaquina: Tava na épuca do folguedo de boi-de-mamão e o meu pai convidô o Francêj pra assisti a apresentaçã do grupe dele.
Neto: Bah, nada a vê vó! Matisse em festa de Boi-de-mamão?
Joaquina: Nô impomba, deixa Ô falá, rapaj ! O Francêj foi na fexta, goxtô daj música, daj cori i doj movimento. Si encanto-se i toda hora sortava um tali di “ Cefantastic”.
Neto: Vó, teu causo ta tribom, mãs eu ainda não consegui entender como descobriram que ele era o artista plástico Henri Matisse.
Joaquina: O cô sei é qui ele tava ali, todo atolexmado assistino o boi, sentado numa cadeira de paia. Bem do ladinho dele, tinha uma menininha brincanu cunj pedaço de papeli, uma tesourinha i unj vrido di tinta guache. Ele nô si aguanto-se i pegô unj papeli, pintô di guache e começô a corta i colá umaj figura.
Neto: Vai me dizer que ele criou alguma obra com recorte aqui em Floripa.
Joaquina: Uma obra, tu quéj dizê um quadro? Qui nada, rapaj! Ele fêj foi a séria “ boi-de-Matisse” todinha. I tem máj, deu aj obra tudo di presente pro pessoali qui organizô a fexta. Aqueles trêj quadro lá na sala são dele. Nô tem?
Neto: Valeu vó, meu trabalho vai ficá tri bagual! Vou até tirar umas fotos dos quadros.
Joaquina: Tu anotasse tudo o qui Ô falei, no bróco, nô anotasse?
Neto: Claro! Mãs me conta a verdade, a criancinha brincando com a tinta, a tesourinha e os papéis era tu, não era vó?
Joaquina: Sêje bobo rapaj, Ô nô vô dizê pra ti. Tu querej é sabê a minha idade,né sô confiado?

Traduzindo.....

A Joaquina sempre gostou muito de conversar e agora, com o Neto morando com a gente, ela tem para quem cotar e recontar as velhas histórias, das quais, eu conheço a grande maioria. Ontem, nós estávamos sentados em frente a nossa casa, depois do jantar, quando o Neto resolveu falar que estava estudando os grandes pintores da humanidade. Aquele é outro que fala sem
parar. Disse, ainda, que precisava fazer um trabalho, para a escola, tratando de um fato inusitado na vida de um deles. Neste ponto, a Joaquina tomou as rédeas da conversa e começou a tagarelar:

Joaquina: Neto, meu querido! Se tu estás estudando os grandes pintores, provavelmente já ouviste falar no Victor Meirelles.
Neto: Claro que sim, vó! Ele é um grandes ícone.
Joaquina: Que ícone, menino? Ele é um manézinho, isto sim. Na verdade nasceu aqui, quando Florianópolis ainda se chamava Nossa Senhora do Desterro.
Neto: Eu sei disto, vó. Eu quero dizer que ele simboliza a arte de Florianópolis, do Brasil e do Mundo.
Joaquina: Agora entendi!
Neto: E daí vó, tu sabes algum fato diferente sobre a vida dele. Conta ai, enquanto eu tomo este chimarrão.
Joaquina: Então não sei! Mas eu te conto outra hora. Hoje eu quero te falar sobre a estada do Matisse em florianópolis. Quer fato mais inusitado que este?
Neto: Vó, tu estas falando do Henri Matisse, o famosos pintor francês?
Joaquina: É claro que estou! Que outro seria?
Neto: E quando foi que o Matisse visitou Florianópolis?
Joaquina: Pois então! Foi na época da segunda guerra mundial.
Neto: Tu não és fácil, vó. Eu também li que o Matisse pensou em vir morar no Brasil, durante a guerra. Inclusive ele já tinha até passaporte pronto para a viagem. Mas, espera um pouco. Como tu sabes disto, andaste lendo a respeito?
Joaquina: Claro que não. Foi minha mãe quem me contou, tudinho, quando eu ainda era menina.
Neto: Mas agora és tu quem vai me contar esta história toda, vó.
Joaquina: Disse a mãe, que ele chegou por aqui muito entristecido só com a roupa do corpo.
Neto: E onde ele ficou em Florianópolis?
Joaquina: Ele andou por aqui e por ali, mas se encantou com a luz do sol e da lua, relfetidas em nossa Lagoa da Conceição.
Então, decidiu morar aqui na Barra da Lagoa, por um tempo.
Neto: Conta mais vó.
Joaquina: Ele falava pouco, com um sotaque meio estranho e gostava de sair para o mar com os pescadores. Mas nem o nome dele as pessoas sabiam, todos o tratavam como “ O Francês”.
Neto: E ele pindou muito, enquanto esteve aqui?
Joaquina: Pois tu sabes que não. A mãe disse que só ficou sabendo que ele era artista na última semana, ates dele partir.
Neto: Como assim?
Joaquina: Era época de folguedo de boi-de-mamão e o meu pai convidou o Francês para assistir a apresentação de seu grupo. Neto: Nada a ver vó. Matisse em festa de Boi-de-mamão?
Joaquina: Calma menino, deixa eu falar! O Francês foi à festa, gostou muito da música, das cores e do movimento. Ficou
maravilhado e a todo momento soltava um tal de “ C’est Fantastique”.
Neto: Vó, tá muito boa a sua história, mas ainda não consegui entender como descobriram que ele era o artista plástico Henri Matisse.
Joaquina: Dizem que ele estava ali maravilhado, assistindo o boi, sentado em uma cadeira de palha. Ao seu lado, uma menininha brincava com pedaços de papel, uma tesourinha e alguns vidros com tinta guache. Certo momento ele pediu parte do papel, pintou com guache e começou a recortar e a colar figuras.
Neto: Vai me dizer que ele criou alguma obra aqui!
Joaquina: Que nada! Ele fez foi a série “ boi-de-Matisse” todinha e pesenteou os organizadores do folguedo. Aqueles três
quadros lá na sala são dele.
Neto: Valeu vó, o meu trabalho vai ficar muito bom! Vou até tirar umas fotos dos quadros.
Joaquina: Anotastes o que eu falei?
Neto: Claro. Mas me conta a verdade. A criancinha brincando com a tinta, a tesourinha e os papéis era tu, não era?
Joaquina: Não vou dizer. Tu queres é saber a minha idade,não é seu abusado?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

20. Se pode, pode...

Mô Quiridu!

Despôj di cinco ano, o Deca está de vorta a Florianópij. Ele é o filho máj novo do Badejo i si criô-se aqui, na Barra da Lagoa. Ô mi a lembro qui ele nô goxtava di pexcá i vivia cum livro dibaxo du braço. Nô é qui o rapaj inxtudo, si formo-se, viajô i vortô Dotô, lhá do Avaí. Entendesse? Onti ele teve, cá família dele, jantanu lhá em casa. Nój falemo muitcho máj, Ô tenho que ti contá, pra ti, o menuj uma parte da cunversa:

Deca: ... Eu estava com saudades desta comidinha gostosa da Dona Joaquina.
Joaquina: Brigada, nego! Máj tá tão,tão,tão simprizinha!
Ixtepô: Nô sêje tansa, má quirida! Ô vô ti dize, pra ti, qui nô inzixti uma tainha no feijão, inguali a tua, im nehum otro lugari do mundo.
Joaquina: Goxtasse meso, Deca?
Ixtepô: Nô percisa mem priguntá, o rapaj já tá empanzinado di tanto qui comeu, ôh!
Deca: E esta farinha, fina e saborosa, então.
Ixtepô: Isso é herança açoriana, mô quiridu.
Deca: Por falar em açorianos. Vocês sabem que eles tiveram presentes no Hawaii e deixaram suas marcas por lá?
Ixtepô: O rapaj atentado! Dexa di dizê bobage, Deca.
Deca: Eu não estou brincando com vocês. Eles estiveram por lá sim.
Ixtepô: Então, então! Elej deixaro muitchas marcas?
Deca: Nem tanto, quanto aqui. Mas a frase estampada na camiseta que trouxemos, só pode ser açoriana.
Ixtepô: Dexa Ô lê! IF CAN, CAN. IF NO CAN, NO CAN.
Deca: E então?
Ixtepô: Deve di sê arguma côsa do tipe: Quéj, Quéj. No quéj, dij!
Deca: É mais ou menos por ai.
Ixtepô: Côsa linda, quiridu! Arrombassi com esse presente,ôh.

Nisso, o Neto se alevantou-se e foi correndo oiá a frase, na enternet. O rapaj é ligero qui é uma côsa. Em dôj toque achô até um saiti vendeno aj tali daj camiseta . Pra tu nô dizê qui é mentira, mô quiridu, vêje no indereço:

http://store.localkinehawaii.com/ifcacaifnoca.html
Quéj, Quéj. No quéj, dij! ou,
Se pode, pode. Se nô pode, nô pode!

Traduzindo.....

Passaram-se cinco anos e o Deca está de volta a Florianópolis. Ele é o filho mais novo do Badejo e cresceu aqui, na Barra da Lagoa. Eu lembro que ele não gostava muito de pescar com o pai e vivia sempre com um livro na mão. Pois o rapaj estudou, formou-se, viajou e voltou Doutor, lá do Hawaii. Ele e a família foram jantar, em nossa casa, ontem. Nós conversamos bastante e eu tenho que te contar parde desta conversa :

Deca: ... Eu estava com saudades desta comidinha gostosa da Dona Joaquina!
Joaquina: Mas é tão simples!
Ixtepô: Não sejas boba
Joaquina. Uma tainha no feijão não se encontra em qualquer lugar não.
Deca: E esta farinha, fina e saborosa, então.
Ixtepô: Isto é herança açoriana, meu querido.
Deca: Por falar em açorianos. Vocês sabem que eles tiveram presentes no Hawaii e deixaram suas marcas por lá?
Ixtepô: Tu é um gozador! Para de brincadeira, meu querido.
Deca: Eu não estou brincando com vocês. Eles estiveram por lá sim.
Ixtepô: E a influência deles na cultura foi muito grande?
Deca: Não foi tão marcante, quanto aqui. Mas a frase estampada na camiseta que trouxemos, para vocês, só pode ser
açoriana.
Ixtepô: Deixa eu ler! IF CAN, CAN. IF NO CAN, NO CAN.
Deca: E então?
Ixtepô: Deve ser o equivalente ao nosso: Quéj,
Quéj. No quéj, dij!
Deca: É mais ou menos por ai.
Ixtepô: Adorei meu querido, eu não podia ganhar nada melhor.

Nisso, o Neto levantou-se e foi correndo verificar a frase, na internet. O rapaz é ligeiro! Até encontrou um site vendendo as tais camisetas . Para tu não dizeres que esta, também, é história de pescador. Dê uma olhadinha no site:

http://store.localkinehawaii.com/ifcacaifnoca.html

Se queres, queres. Se não queres, diz!
Se pode, pode. Se não pode, não pode!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

19. Cada pote no seu lugar

A Joaquina nunca si encarnô-se cô arrumação da casa. Ô vô ti dizê, pra ti, qui ela nem liga muitcho prá isso. Entendesse? Maj, Ô nunca nô intendi é a mania qui ela tinha di comprá tapiuéri. Isso si iniciô-se lhá peloj ano 80, quanu ela i umaj amiga si ajuntavu prá fofoca i tomá um cafézinho cô mixtura, dizenu qui era “Runião do Grupe di Tapuéri”. Elas vendia i comprava potinho di prástico, uma daj otra, num inxquema qui até aparecia a “Pirâmida do Tapiuéri”. Nô tem? Tu nô imaginaj qui ela tinha tapuéri prá guardá tapuéri dentro. Cumé qui pode né, ôh! Maj o tempo passô-se, aj runião fôro ficanu insossa i o inxquema do tapuéria si acabo-se. Ô achava qui daquelaj época só tinha sobradu, la im casa, o jeito qui a Joaquina arrumava oj potinho. Mô filho, eles ficava tudo empiado naj partelera, na marra, só inxperanu prá caí. Maj, adjaôj di tardezinha, a Joaquina chegô im casa toda facera, cheia di novidadi i falanu ansim:

Joaquina: Ixtepô, tu nô sabej onde Ô tive o dia todo!
Ixtepô: Ô nô sô vidente, ná quirida! Claro que não sei, indamáj qui Ô cheguei du mar e tu já nô tavaj.
Joaquina: Então, então! A Clokirida passô aqui i nój descemo pro centro.
Ixtepô: Ó, ió, ió. Fizesse compra de certo?
Joaquina: Pió qui nô fizemo gradej compra! Maj corremo aquela Conselhero Mafra, de cima prá baxo, todinha.
Ixtepô: Como ansim?
Joaquina: Ora rapaj, entremu em tudo quantu é lojinha, fomo na casa do Artesão, no Mercado Público i na vorta, deu tempo prá nój entrá na loja Mili Dôj.
Ixtepô: Tu tenj tempo, né ôh!
Joaquina: Pôj então, i elej tinha oferta di tapuéri, num balaio! Tu sabej cô nô rezixto um potinho, né mô quiridu? Inda máj si é originali.
Ixtepô: Que qué isso! Nô váj me dizê, pra mim, qui tu comprasse tapuéri dinovo, váj?
Joaquina: Para nego! Ô só comprei dôj pote piqueno, prá guardá a sobra do pirãozinho di nailo cô vô fazê pra ti, mô quiridu.
Ixtepô: Nô vem mingambelá, cô nô sô tanso! Tu sabej qui essa missidade di pote vai inxtorvá aqui im casa. I tem máj, prástico nô é degradáv.
Joaquina: Vô ti fala, prá ti, qui o Neto chegô da inxcola, falanu dessaj côsa. Nô tem?
Ixtepô: O rapaj tá inxtudanu. Aquilo nô prega, prego, sem ixtopa!
Joaquina: Máj será qui o prástico perjudica tanto meso?
Ixtepô: O pobrema maióri é como aj pessoa joga oj prástico fora.
Joaquina: Inxprica isso rapaj, cô já tô meia neuvosa.
Ixtepô: Ô tenho vixto côsa má quirida. Já vi ilha di prástico boianu mar a fora, já tirei uma montuera di garrafa pet derretida noj coxtão i até tartaruga engaxgada cô sacolinha di sumercado Ô já vi. Essaj côsa, tudo, começa dentru daj casa da genti.
Joaquina: Tu tenj razão, mô quirido.Temo qui sê oj premero a preseuvá, afinali semo daqui. Mi ajuda a separá oj tapuéri, aj sacola i aj garrafa di prástico. Bota tudo na Kombi qui nój vamu levá prá recicrage.

Vô ti dizê, prá ti, cô fiquei todo orguioso da Joaquina. Máj quanu Ô puxei o premero potinho da partelera i oj otro cairu, tudo, im cima di mim... Ô tive qui contá até trêj, porque a minha vontadi era di dá um chute i fazê tapiuéri avuá prá tudo quantu é lado.
Inda bem qui foi a úrtma vêj!

Traduzindo.....
A Joaquina não é nehuma fanática por organização, na verdade ela não presta muito atenção nisto. Eu não entendo é a mania que ela tinha de comprar tupperware. Isto começou lá nos anos 80, quando ela e algumas amigas se juntavam para fofocar e tomar um bom café da tarde, usando como pretexto a reunião do grupo de tupperware. Elas vendiam e compravam potinhos plásticos umas das outras em um esquema que parecia a Pirâmide do Tupperware. Para tu teres uma idéia, ela tinha tupperware para guardar tupperware dentro. Os tempos passaram, as reuniões deixaram de ocorrer e o esquema de venda, boca- a-boca, de pote plástico acabou. Eu acreditava que daquela época só havia sobrado, lá em casa, a maneira de guardar os potinhos. Eles ficavam amontoados, uns sobre os outros, formando uma pilha pronta para cair a qualquer momento. Mas hoje à tardinha, a Joaquina chegou toda alegre, cheia de novidade e falando assim:

Joaquina: Ixtepô, tu nem sabes onde estive hoje o dia todo!
Ixtepô: Não sou vidente, claro que não sei! Eu cheguei do mar e tu já não estavas em casa.
Joaquina: Pois é, a Clokirida passou aqui e nós fomos ao centro.
Ixtepô: Foram comprar algo?
Joaquina: Nada especial, mas corremos aquela Conselheiro Mafra toda, para cima e para baixo.
Ixtepô: Como assim?
Joaquina: Ora, entramos em tudo que é lojinha, fomos à casa do Artesão, ao Mercado Público e na volta, ainda deu tempo
para entrar na loja Mil e Dois.
Ixtepô: Tu tens tempo mesmo!
Joaquina: E o melhor de tudo é que eles tinham oferta de tupperware, num balaio. Tu me conheces e sabes que eu não resisto a um potinho, ainda mais se for original.
Ixtepô: Esta não Joaquina, tu vais começar a comprar tupperware novamente?
Joaquina: Não meu nego! Eu só comprei estes dois potes pequenos, para guardar o que sobrar do pirão que eu estou indo preparar para ti.
Ixtepô: Não adianta me enrolar, tu sabes que esta imensidão de pote vai incomodar aqui em casa. E tem mais, o plástico não é biodegradável.
Joaquina: Vou te dizer que o Neto chegou, da escola, falando a mesma coisa.
Ixtepô: Pois o Neto está estudando e sabe o que fala!
Joaquina: Mas será que o plástico é mesmo tão prejudicial?
Ixtepô: Eu tenho visto coisa Joaquina. Já vi ilhas enormes de objetos plástico boiando mar a fora, já retirei kilos de garrafa pet
derretidas em costão e até tartaruga engasgada com sacola eu já vi. Isto tudo começa dentro das nossas casas.
Joaquina: Tu tens razão. Ainda mais que nós somos daqui, temos que ser os primeiros a preservar. Me ajuda a separar os
tupperwares e este monte de sacolas e garrafa que eu guardo em casa. Bota tudo na kombi e vamos levar para a usina de reciclagem.


Eu fiquei todo orgulhoso da Joaquina. Mas quando eu puxei o primeiro potinho da prateleira e os outros cairam, todos, em cima de mim....Eu contei até três, porque a minha vontade era de dar um chute e fazer tupperware voar para tudo que é lado.
Ainda bem que esta foi a última vez!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

18. A chegada na lua

Mô quiridu.

Ô inxpiei pela janela i vi o Neto arriado na areia da praia oiando pro céu. Aquela image mi fej alembrá di quanu Ô era raraj piqueno i mi assentava ali co mô pai. Ele me insinava, pra mim, tudo que sabia do mar, do vento, do céu, da lua i da vida. Ô me mocionei-me todo i fui lhá, na berinha d’água, falá co ele.
Ixtepô: Ó, ió, ió! Que táj fazenu aqui, mô quiridu?
Neto: Oi vô! Tô aqui observando este céu tri maravilhoso que Deus criou.
Ixtepô: Côsa linda mejmo né Neto?
Neto: Bah, carinha! É tri lindo.
Ixtepô: Então, então! Vêje esse ancho céu, o brio daj ixtrela, essa lua alumiando a noite, côsa máj linda.
Neto: Bah! E dizer que o homem já esteve lá, carinha.
Ixtepô: Lá naondi, quiridu?
Neto: Ora aonde, vô! Na lua.
Ixtepô: Nô sêje abobado, rapaj! O homem nunca teve na lua, isso é tudo uma baita duma balela.
Neto: Dá um tempo né vô! Todo mundo sabe que o homem chegou na lua dia 20 de julho de 1969. Inclusive, agora em 2009, estamos comemorando os 40 anos daquele “ grande passo para a humanidade”.
Ixtepô: Ô vô tê qui ti pedi descurpa pra ti, maj neste mejmo dia, Ô tô comemoranu 40 ano cô nô acredito nessa bobage.
Neto: Vô tu é tri radical, carinha! E se eu te disser que não acredito que tu és descendente dos primeiros açorianos a chegarem aqui na Ilha.
Ixtepô: Pópara ai rapaj, nô mixtura aj côsa! O avô do mô trisavô chegô aqui em 06 de Janeiro de 1748. Ele foi o premero açoriano a deixá oj péj marcado naj areia da Ilha de Santa Catariana. Então respeito, porque tu já éj a oitava geraçã açoriana aqui em Florianópij. Si bem qui nój temos qui adixcontá essa tua parte meia agauchada.
Neto: Na boa vô, eu tô brincando.Vamos voltá pro começo.
Ixtepô: Disimbucha, sô nabinha!
Neto: Carinha, tu aprendeu um monte com a vida, só de olho na natureza e nas pessoas. Mas não dá para negá o que a ciência e a tecnologia têm feito em nossa sociedade. Dá uma olhada no motor do teu barco, o remédio da tua pressão alta, o celular da vó, e aí vai.
Ixtepô: Nô mi alembra daquele celurari.
Neto: Vô, tu tem que te lembrá que, tipo assim, a mãe também é cientista, tche! Se formou na UFSC, tem Doutorado pela UCLA e Pós-Doc. pela URGS.
Ixtepô: Ô lembro i tenho um baita orguio daquela rapariga. Então vamo dizê qui tu tenj razão i o homi foi a lua di verdade.
Neto: Fala vô!
Ixtepô: Em qui fase da lua ele chegou lá?
Neto: Nada a vê, vô! O que isto importa?
Ixtepô: Ô vo te dizê uma côsa pra ti, si o homi chegô lá, só pode tê sido na lua cheia, rapaj.
Neto: Porque vô?
Ixtepô: A minguante é tão piquena qui nô ia dá nem di inxtacioná o fuguete!


Traduzindo.....

Eu olhei pela janela e vi o Neto sentado na areia da praia contemplando o céu. Aquela cena me fez voltar à infância, quando eu sentava ali mesmo com o meu pai e ele me ensinava o que sabia sobre o mar, o vento, o céu, a lua e a vida. Eu me emocionei e fui à beira do mar, falar com o menino.
Ixtepô: Oi ! Que tu estás fazendo aqui meu querido?
Neto: Oi vô! Eu estou aqui observando esta maravilha de céu que Deus criou.
Ixtepô: Que lindo não é Neto?
Neto: Bah, vô ! É super lindo.
Ixtepô: Pois é, veja a enormidade do céu, o brilho das estrelas a beleza da lua iluminando a noite!
Neto: Muito legal! E dizer que o homem já esteve lá.
Ixtepô: Lá aonde?
Neto: Ora aonde, vô! Na lua.
Ixtepô: Não sejas bobo, menino! O homem nunca chegou na lua, é tudo mentira.
Neto: Assim não dá né vô! Todo mundo sabe que o homem chegou na lua dia 20 de julho de 1969. Inclusive, agora em
2009, estamos comemorando os 40 anos daquele “ grande passo para a humanidade”.
Ixtepô: Desculpa Neto , mas neste mesmo dia estou comemorando os 40 anos que eu não acredito nisto.
Neto: Vô tu és muito radical! Eu se eu te disser que não acredito que tu és descendente dos primeiros açorianos a chegarem aqui na Ilha.
Ixtepô: Degavar ai rapaz, não mistura as coisas! O avô do meu trisavô chegou aqui em 06 de Janeiro de 1748. Ele foi o primeiro açoriano a deixar os pés marcados nas areias da Ilha de Santa Catariana. Então respeita isto menino, porque tu já és a oitava geração açoriana aqui em Florianópolis. Se bem que nós temos que considerar esta tua parte meio agauchada.
Neto: Tá certo vô, eu estou brincando. Mas vamos voltar à conversa inicial.
Ixtepô: Diga!
Neto: Vô, tu aprendestes muito com a vida, observando a natureza e as pessoas. Mas não dá para negar o que a ciência e a tecnologia têm feito em nossa sociedade. Veja o motor do teu barco, o remédio para tua pressão alta, o celular
da vó, e aí vai.
Ixtepô: Nem me fala daquele celurar!
Neto: Além de tudo, a mãe também é cientista, tche! Se formou na UFSC, tem Doutorado pela UCLA e Pós-Doc. pela URGS.
Ixtepô: Isso é verdade e eu tenho muito orgulho dela. Então vamos supor que tu tenhas razão e o homem, realmente, foi a lua.
Neto: Fala vô!
Ixtepô: Em que fase da lua tu achas que ele chegou lá?
Neto: O que isto importa, vô?
Ixtepô: Eu vou te dizer que se ele realmente chegaram lá, só pode ter sido em lua cheia.
Neto: Porque vô?
Ixtepô: Por que na minguante não daria nem para estacionar o foguete.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

16. Enlata a Velha


Mô Quiridu!
Tu sabej cô nô gojto de oiá televisã, não tem! A Joaquina é qui véve assistinu os pograminha i aj novelinha dela. Quéj vê si o Fabo Juno tá, então, aí quéla vê. Entendesse? Um sábado desse, ela tava oianu um pograma qui amojtrava a reforma duma Kombi se raigando de véia. Uma côsa medonha! Ô nô quij dá confiança e nem si assentá prá oiá o pograma cô ela, máj Ô disfaucei i puxei cunversa:

Ixtepô: Antij que má li prigunte, Jaoquina! Que qué issu qui tá danu na televisa, ôh?
Joaquina: Ãh, ãh, ãh! Váj mi dizê qui tu nô sabej? É o Panelão do Incrive Luciano Ruqui.
Ixtepô: Me dij uma cosa pra mim, má quirida: Qué qui Panelão tem a vê cum Kombi?
Joaquina: Sô tanso, este é o quadru Enlata a Véia!
Ixtepô: Enlata a Véia? Côsa Tola!
Joaquina: Nô ixtróva, oh! Dexa Ô oiá o pograma, rapaj.
Ixtepô: Táj ca macaca, má quirida? Ô só quiria sabê como fonciona o quadru. Entendesse?
Joaquina: É ansin oh! O Incrive Luciano Ruqui, manda botá lataria nova no teu carro véio e ele fica cosa máj linda.
Ixtepô: Aí tem! Ele faj issu di graça?
Joaquina: Então, Então! É claro qui é di graça, rapaj. Tu só tenj qui mandá uma carta e adejpôj, pagá uma prenda, o vivo, no pograma.
Ixtepô: Que tipo de prenda?
Joaquina: No úrtmo Enlata a Vèia, o rapaj qui ganhô a reforma dum Opala, teve de imitá o Sidney Mingau, cantanu e se arrebolando-se todo. O rapaj deu um banho, ôh!
Ixtepô: Eles invento cada côsa!

Cumé qui póde né ôh! Ô comecei a sonhá acordado e de repente tava lá, o vivo, no Enlata a Véia. Dava di vê a minha Kombi toda ajeitada, um biju, do jeitinho qui Ô quiria, não tem! Os pineu novinho, os ário cromadu, capa de veludo no volante, mãozinha qui dá tchau no parabriso. I vô ti contá prá ti! Tava toda pintadinha e inxcrita com poesia de amor prá Florianópij, inguali fazia o sô Frankolino CajCaj. Daí, o Incrive Luciano Ruqui me chamo no parco i mi amostro a Kombi bem di pertinho. Foi quanu uma luj se acendeu-se, bem em cima de mim ,e ele falô ansim oh:

Incrível Luciano Hulk: Loucura! Loucura! Loucura! Ixtepô, e agora, prá levá a Kombi novinha pra casa é só tu imitá o Fabo Juno.
Ixtepô: Imitá o Fabo Juno, ai não dá né ! Perdi minha Kombi!!!
Foi ansim que o meu “ Sonho se Acabô-se”.

Traduzindo.....

Tu sabes que eu nunca fui muito de assistir televisão. A Joaquina é que gosta de ver alguns programas e novelas, principalmente se o Fabio Júnior estiver presente. Más um sábado destes, ela estava assistindo um programa que tratava da reforma de uma Kombi muito velha, horrível. Eu não quis dar o braço a torcer e nem sentar para assistir com ela, mas disfarcei e puxei conversa:

Ixtepô: Joaquina, que programa é este?
Joaquina: Vais dizer que tu não sabes! É o panelão do incrível Luciano Hulk.
Ixtepô: Me diz uma coisa: O que o panelão tem a ver com esta Kombi?
Joaquina: Este é o quadro Enlata a Velha!
Ixtepo: Enlata a velha? Que sem graça!
Joaquina: Não incomoda, me deixa ver o programa!
Ixtêpo: Estás nervosa? Me conta como funciona o programa.
Joaquina: É assim oh! O incrível Luciano Hulk manda colocar lataria nova no teu carro velho e deixa ele novinho. Entendeu?
Ixtepô: Não sei não! E ele faz isto de graça?
Joaquina: Sim! É claro que ele faz de graça. Tu só tens que enviar uma carta e depois cumprir um desafio, ao vivo, no programa.
Ixtepo: Que tipo de desafio?
Joaquina: No último Enlata a Velha, o rapaz que ganhou a reforma do carro teve que imitar o Sidney Mingau, cantando e rebolando. Ele foi muito bem.
Ixtepô: Eles inventam coisa!

De repente, eu comecei a sonhar acordado e estava lá, ao vivo no Enlata a velha. Dava para ver a minha Kombi toda reformadinha, do jeito que eu queira. Pneus novos, aros cromados, proteção de veludo no volante, mãozinha que dá tchau no pára-brisas. E o melhor, ela estava inteiramente pintada com letreiros e poesias exaltando Florianópolis, como fazia o seu Franklin Cascaes. Então, o Incrível Luciano Hulk me chamou no palco, me mostrou a Kombi bem de perto, uma luz foi acesa sobre mim e ele me propôs o desafio:

Incrível Luciano Hulk: Loucura! Loucura! Loucura! Ixtepô, e agora, para você levar a Kombi novinha para casa, é só imitar o Fábio Júnior.
Ixtepô: Imitar o Fabo Júnior, ai não dá né oh! Perdi a Kombi !!!
Foi aí que o meu sonho acabou.

15. Celular ao mar

Mô quiridu!
A Joaquina me incomodô tantu qui o di um celulari pra ela. Ô nô sabia é qui tava arrumanu pra minha cabeça. Ela vivia mi liganu, rapaj. Até quanu Ô tava in casa ela me ligava pra mim, não tem! Máj o pióri aconteçô um dia cô tava ali, sentado no bacio, i ela me ligô prá sabê sô percisava de papeli hingênico. Ai não dá né oh! Ô fiquei todo infezado, peguei o mô barco, caniço, linha di nailo, anzóli, ijca i saí pra matá um pexinho. Deu unj minutinho e ela ligô:


Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô Ixtepô, tu táj naondi, mô quiridu?
Ixtepô: Joaquina, má quirida, eu tô pexcanu e tu váj inxpantá os pexinho. Tchau!
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Tá danu pêxe nego?
Ixtepô: Só cocoroca!Joaquina, para de azucriná, adejpôj te ligo.
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô, adivinha quem é?
Ixtepô: Quem havéra de sê? Joaquina não força ôh! Tchau!
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Ixtepô: Que tu quéj Joaquina?
Joaquina: Sô malcriado! Só ti telefonei pra ti avisá qui Ô vô ti ligar, pra ti, daqui unj déj minuto, não tem! Até máj, mô quiridu.
Deu déj minuto cravado e lhá tava ela:
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........

Ô minervei todinho, agarrei o celulari i antij qui ela falassi, Ô disse premero:

Ixtepô: Má quirida para di enchê o saco e vai lhá falá cáj bolhinha, vai.
Nisso, “ sem querê “, o mô celulari caiu na água e só deu di ovi: glub, glub, glub, glub,glub.........



Traduzindo.....

A Joaquina insistiu tanto que eu acabei comprando um celular para ela. Eu não sabia é que isto iria me causar o maior incomodo da minha vida. A todo o momento ela me ligava, até mesmo em casa eu recebia ligações da Joaquina. Mas a pior situação ocorreu em um dia que eu estava no banheiro e ela me ligou para saber se eu precisava papel higiênico. Não agüentei, peguei meu barco, um caniço, linha, anzóis, isca e sai para pescar.

Demorou pouco e ela estava me ligando novamente.
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô Ixtepô! Onde tu estás meu querido?
Ixtepô: Jôaquina, minha querida, eu estou pescando e tu vais espantar os peixes. Tchau!
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô. Está dando peixe?
Ixtepô: Só cocoroca! Máj, me deixa em paz. Depois te ligo.
Tlim tlim, tlim tlim tlim, tlim tlim tlim........
Joaquina: Alô, adivinha quem é?
Ixtepô: Ora quem é! Joaquina não incomoda. Tchau!
Tlim tlim, tlim tlim ,lim, tlim tlim tlim........
Ixtepô: O que tu queres Joaquina?
Joaquina: Mal educado. Só liguei para te avisar que eu vou te ligar daqui há uns dez minutos! Tchau querido.
Deu dez minutos cravados e lá eu ouvi:
Tlim tlim, tlim,tlim tlim, tlim tlim tlim........

Fiquei nervoso, peguei o telefone e antes que ela falasse qualquer coisa eu disse:

Ixtepô: Minha querida deixa de encher o saco e vai falar com as bolhinhas.
Nisto o meu telefone caiu “ sem querer “ na água. Só deu para ouvir os: glub, glub, glub, glub,glub.........