sábado, 28 de agosto de 2010

55. Quem casa, quer casa.

Mô Quiridu,

Quanu Ô i a Joaquina casemu, nój era bem novinho i nô tinha um gato prá puxá pelu rabo. Cosa máj orrivi! A má mãe era virva i o mô pai já tinha batidu cá coçuleta. Intendesse? Ansim ela nôj convidô, oj dôj, prá morá numa casinha qui ficava noj fundu do terreno dela. Nô tem! A Joaquina nô quiria, di manera nenhuma, máj o di um jeito di convencê ela.

Ô nô perciso ti dizê, pra ti, qui a lua-di-méli foi pará nu inxpaço, rapaj. I nój passemu a noiti di núnpicia na casinha qui foi presenti da mãe. Di manhã bem cedinho, a Joaquina si levanto-si pra ariá oj denti i viu uma sombra numa daj janela. Ela arredô a coutina i viu dôj copu di suco, um cum gardanapi azuli, outro cum gardanapi cor-di-rosa.

Ela pegô oj dôj i levô prá genti bebê na cama i nój fiquemu muito facero cá atençã qui a mãe tinha noj dado. A Joaquina inda falô da sorti qui teve di arrumá uma sogra inguali essa i qui tava arrependida, di tê mi faladu qui perferia morá noj cafundó do judaj, do que no terreno da mãe.

Notro dia, lá pelaj sêj, a Joaquina si levanto-si cedo, dinovo, pegô o pinicu prá dispejá i encontrô oj copu di suco na janela outra vêj. Tomemu u suquinho na cama i drumimo máj um pocu. Nój tavu casadu há trêj dia i ainda nô tinha saído di casa, cá di quê a genti tavu muito acachapadu. Indendesse o quéj cô inxrpique?
Nój casemu numa sexta i isso já era segunda-fera di madrugada. Di repenti, uma batida forte náj tauba, oiei o relóge, i era sêj i meia. Deu di vê o vurto da mãe correndu i a sombra dôj copu, agora na janela du nossu quartu.

Tu sabij co sô pexcadori i qui nunca nô tirei féraj. Ah, para ôhí! A premera semana di casadu é sagrada i parecia cá mãe nô intendia disso, rapaj. Ela bateu lá im casa, pra intregá o mardito do suco todoj dia, até nój vortá pro trabaio, uma semana depôj.

Ô saía bem cedinho prá pexcá i a Joaquina prá fazê renda, junto caj amiga. Lá pelaj dej, nój vortava i sempre incontrava oj dôj copo di suco côj guardanapi azuli i rosa, agora im cima da mesa.

Sabi cô goxtava daquilo. Nô dá di dizê qui a Joaquina goxtava tomem, oh! Na verdadi ela odiava, inda máj qui a mãe começô a arrumá a casa, quanu ia dexá o suco. Ô nem arreparava, máj a Joaquina dizia qui tava tudo mexidu. Cheguemo a dixcuti pur causa disso i ela disse cô era um mimadu, cheiu di barda.

Um dia a Joaquina nô foi trabaiá i fico inxcondida só inxperanu a mãe chegá. Premero ela armo o engodo i trocô tudo, o que a véia tinha arrumado, di lugari. No deu outra, a mãe chego, largô oj copu na mesa i barreu a sala da casinha. Nu qui ela foi arredá o sofá, a Joaquina apareceu i gritou:

Joaquina: QUE QUI A SENHORA TÁ FAZENU AQUI?
Sogra: Quéj mi matá di suxto sua degranida? Ô só vim aqui pra deixá o suquinho di vocêj.
Joaquina: Fique sabenu co nô quero máj essa porcaria di suquinho. Nô quero máj, intendesse?
Sogra: Intendi!

Quanu cheguemu im casa no otro dia, depôj do ocorrido, em cima da mesa só tinha um copu di suco i cum guardanapi azuli. A Joaquina viro aj coxta, saiu i alugô uma pecinha na casa duma visinha. Nój moremu lá por sêj mêj, máj até hoje a Joaquina nô podi nem vê suco no café da manhã.

Traduzindo.....

Meu Querido,

Quando eu e a Joaquina casamos, eramos bem novinhos e não tínhamos um gato para puxar pelo rabo. Coisa horrível! A minha mãe era viúva e meu pai já havia morrido. Entendeste? Assim, ela nos convidou, os dois, para morar numa casinha que ficava aos fundos do terreno dela. A Joaquina não queria, de forma alguma, mas dei um jeito de convencê-la.

Eu não preciso te dizer que nossa lua-de-mel foi para o espaço, rapaz. E nós passamos a noite de núpicias na casinha que foi presente da mãe. De manhã cedo, a Joaquina se levantou para escovar os dentes e viu uma sombra em uma das janelas. Então afastou a cortina e viu dois copos de suco, um com guardanapo azul, outro com guardanapo cor-de-rosa.

Ela pegou os dois copos e levou para bebermos na cama, nós ficamos muito felizes com a atenção prestada por minha mãe. A Joaquina ainda falou da sorte que teve em conseguir uma sogra como esta e que estava arrependida, por ter falado que preferia morar isolada, do que no terreno da minha mãe.

No outro dia, perto das seis horas, a Joaquina levantou-se cedo, novamente, pegou o penico para despejar e encontrou os copos de suco, na janela, outra vez. Tomamos o suco na cama e dormimos mais um pouco. Estávamos casados há três dias e ainda não tínhamos saído de casa, porque estávamos muito cansados. Entendeste ou queres que explique?

Casamos numa sexta-feira e já era segunda de madrugada. De repente, uma batida forte nas tábuas da parede, olhei o relógio e eram seis e meia. Deu para ver o vulto da mãe correndo e a sombra dos
copos, agora na janela do nosso quarto.

Tu sabes que sou pescador e que nunca tirei férias. Mas espera ai! A primeira semana de casado é sagrada e parece que a mãe não entendia isto, rapaz. Ela bateu lá em casa para entregar o maldito do
suco todos os dias, até voltarmos para o trabalho, uma semana depois.

Eu saía bem cedo para pescar e a Joaquina para fazer renda, junto com as amigas. Perto das dez, nós voltávamos e sempre encontrávamos os dois copos de suco o guardanapo azul e rosa, agora sobre a mesa.

Sabe que eu gostava daquilo. Não da para dizer que a Joaquina gostava também. Na verdade ela
odiava, ainda mais que a mãe começou a arrumar a casa, quando ia deixar o suco.

Eu não reparava, mas a Joaquina dizia que tudo estava mexido. Chegamos a discutir por causa disto e ela disse que eu era mimado e cheio de vontades.

Um dia a Joaquina e não foi trabalhar e ficou escondida, esperando a mãe chegar. Primeiro
ela jogou a isca e trocou tudo, o que a velha havia arrumado, de lugar. Não deu outra, a mãe chegou, largou os copos sobre a mesa e varreu a sala da casinha. No que ela foi afastar o sofá, a Joaquina apareceu e gritou:

Joaquina: O QUE A SENHORA ESTÁ FAZENDO AQUI?
Sogra: Queres me matar de susto sua desgraçada? Eu só vim aqui para deixar o suco de vocês.
Joaquina: Fique sabendo que eu não quero mais esta porcaria de suco. Não quero mais, entendeste?
Sogra: Entendi!

Quando chegamos em casa no outro dia, depois do ocorrido, sobre a mesa havia só um copo de suco e com guardanapo azul. A Joaquina virou as costas, saiu e alugou uma pecinha na casa de uma vizinha. Moramos lá por seis meses, mas até hoje a Joaquina não pode ver qualquer tipo de suco no café da manhã.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

54. Pensamentos de um não-candidato

Mô Quiridu,

Domingo passadu Ô di uma intrevixta, pro Jornal do Canal, inxpricanu pruque nô sô candidato naj enleiçã 2010. O reporti fêj a matéria i dixtacô argumja daj minha frázia, qui agora divido cuntigo. Intendesse!

1. “DEPÔJ DAS REDE DE RELACIONAMENTU, VIRÃO AJ TARRAFA DE RELACIONAMENTU.”
Sobre o futuro da Internet, Orkut, Facebook e Twitter.

2. “SÓ O PIRÃO DI NAILO É 100% RECICRÁVE. INTENDESSE?”
Sobre a degradação dos plásticos na natureza.

3. “PEIXE BOM É MORTO, FRITO I COM PIRÃO.”
Sobre a proliferação da cozinha oriental em Florianópolis.

4. “ ONODI,ONODI,ONODI . QUÉJ CÔ REPITA?”
Sobre a questão de ter dado apoio a determinado candidato político.

5. “PEXCO, LOGO INZIXTU!”
Sobre a sua filosofia de vida.

6. “PARECIA UM TAINHA OVADA. CREDO!”
Sobre menino com verminose no Sul da Ilha.

7. “UMA CANOA DUM PAU SÓ, UMA KOMBI, UM CURIÓ E UM CACHORRO PAPA-OVU.”
Sobre a sua lista de bens.

8. “SI PREGUNTÁ DINOVO, DÔ-TI CÁ CHUMBADA DA TARRAFA NOJ BEIÇU.”
Sobre a hipótese de sua candidatura.

9. “ PEXCADORI NÔ MENTE, QUIRIDU! SÓ OMENTA UM POQUINHU.”
Sobre a relação da mentira com a pescaria.

10. “ Ô TENHU MÁJ O QUI FAZÊ. TU TENJ TEMPO NÉ,ÔH!”
Sobre a possibilidade de alongar a entrevista.
Traduzindo.....

Meu Querido,


Domingo passado fui entrevistado pelo Jornal do Canal e expliquei porque não sou candidato nas eleições 2010. O repórter fez a matéria e destacou algumas frases, de minha autoria, as quais divido contigo agora.

1. “DEPOIS DAS REDES DE RELACIONAMENTO, VIRÃO AS TARRAFAS DE RELACIONAMENTO.”
Sobre o futuro da Internet, Orkut, Facebook e Twitter.

2. “SÓ PIRÃO DE NAYLON É 100% RECICLÁVEL. ENTENDESTE?”
Sobre a degradação dos plásticos na natureza.

3. “PEIXE BOM É MORTO, FRITO E COM PIRÃO.”
Sobre a proliferação da cozinha oriental em Florianópolis.

4. “ EU NÃO DEI, NÃO DEI, NÃO DEI. QUERES QUE EU REPITA?”
Sobre a questão de ter dado apoio a determinado candidato político.

5. “PESCO, LOGO EXISTO.”
Sobre a sua filosofia de vida.

6. “PARECIA UM TAINHA COM OVA. CREDO!”
Sobre menino com verminose no Sul da Ilha.

7. “UMA CANOA DE UM PAU SÓ, UMA KOMBI, UM CURIÓ E UM CACHORRO VIRA-LATAS.”
Sobre a sua lista de bens.

8. “ SE PERGUNTAR NOVAMENTE, TE BATO COM A CHUMBADA DA TARRAFA NA BOCA.”
Sobre a hipótese de sua candidatura.

9. “ PESCADOR NÃO MENTE, QUERIDO! SÓ AUMENTA UM POUCO”
Sobre a relação da mentira com a pescaria.

10. “ TENHO MAIS O QUE FAZER. TU TENS TEMPO!”
Sobre a possibilidade de alongar a entrevista.

sábado, 21 de agosto de 2010

53. Osso duro de roer

Mô Quiridu,

Era cedinho da manhã i Ô tavu perparu o café no nosso fogão à lenha. Ovi um baruio na porta i di uma inxpiadinha pelaj flexta dajs tauba. Era o Mandrião, nosso cachorro, querenu entra. Pensei que o bicho devia tava cum fomi, perparei a cumidinha dele i deixei ali péuto do fogo, pru causo qui tava um dia muito friu, rapaj.

O guapéca entrô, maj invéj di i cumê, ele correu dereto na minha dereçã. Ô nô sô di dá confiança pra cachorro i disse pra ele i simbora. Nissu, o Mandrião inveredô dereto pra saída i começô um vai i vem sem fim.

O animarzinho corria na porta e di vorta im mim, na porta i em mim, na porta i em mim, na porta i em mim. Intendesse o quéj cô repita?

Foi ansim, até Ô atiná qui ele tavu querenu mi amoxtra arguma côsa, du lá di fora. O carculei qui divia di sê argum gatu o otro bicho morto. Ladrão Ô sabia qui nô era, já que o Capitão Tainha tinha inxpantadu elej tudo daj nossa redondeza.

Quanu Ô cheguei na porta, deu di vê uma montuera di terra qui maj parecia o Morro da Lagoa. Nô tem? Ô si inrraiveci tantu, máj tantu, qui deu vontadi di saí no pau co meseravi do papa-ovo. O Mandrião sempre cava unj buraquinho, máj dessa vêj ele tinha inzagerado. Dava di interrá um baleote drentu daquele baito buracão .

Nu cô ralhei co cahorro, ele cixpô pra traj do monte de terra i Ô corri atráj dele. Mô quiridu, tu nô acreditaj no qué cô atropeçei. Era um baita dum osso, im forma di fouquilha, qui o Mandrião tinha disinterrado ali no terreno di casa.

Ô nunca nô tinha vixto aquele tipe di osso, rapaj. Era tão, tão grande, dum bicho do mar, nô era di baleia, qui di baleia Ô conheçu deuxdi rapaj piqueno. O osso parecia uma expinha di pexe gigante. Nô tem!

Ô chamei o Crébe prá dá uma oiada. O Crébe troxe o Badejo prá confirmá. O Badejo convidô um professori da UDÉXQUI pra dizê o qui era. O professori da UDÉXQUI requisitô um Dotori da UFÉXQUI pra analisá. O Dotori da UFÉXQUI contatô uns pessoal da DIXCOVERI TIÉNEL. Máj quem chego mesu foi oj reporti da ERIBESSI. Im pocoj minute nój já tavu naj televisã do mundo todo.

Oj políticu ninguém chamô, máj sacumé mô quiridu. Im épuca di enleiçã, elej sempre arranju um jeito di aparecê i ficá péuto daj massa. Im quextã di segundoj tinha máj candidato do qui gente lá em casa. Ansim, si formo-si um banzé i quem passava, na frente, si atirava pra drentu só prá vê o que tavu acontecenu.

Do nada, uma ventania, qui máj parecia uma lextada, começô sem nehuma inxplicaçã. Era um olicótio qui aposô bem im cima do monte de terra ejcavada pelo Mandrião. Mal aj élicia do avião di roxca pararu i um senhor di idade, com uma bengala que tinha uma bola di vridu com uma moxca drentu, deceu. Ele falava meio inrolado, tarvej inglêj, alemão o inxpanhol. O que importa é cô no intendia côsa nenhuam, rapaj.

Ele devia di sê conhecido, afinali oj professorí, oj dotorii i oj reporti cercaru o coitado bem rapidinho. Oj políticu aproveitaru pra tirá umaj foto apeutanu a mão do Omi, qui fico por ali unj dej minute i pego o rumo di vorta.

Preguntei pro Crébe quem era o disinvelij, ele pregunto pro Badejo, que falô com o professori da UDÉXQUI, qui confirmô co Dotori da UFÉXQUI. O tali du omi era um parentólogo, o seje, um tipe de centixta qui inxtuda fóssio.

O inxtudiosu veiu até a Barra da Lago prá confirmá o achado arquelógio do Mandrião. Si tratava-si duma inxpinha de MUGILOSSAURUS BRASILIENSIS REX, um antepassado do Mugil Brasiliensis, a tainha. Ele até levo um pedacinho do osso pra usá num projeto qui ele tá fazendu num tali di JURASIM QUI PARQUI.

Pra noj homenagiá, o centixta disse co nome vurgá do Mugilossaurus Rex ia sê IXTEPOSSAURO.

Vô ti dá nome vurgá, oh! Vurgá é a mãe dele que é máj pirua. Indendesse?

Traduzindo.....

Meu Querido,

Era cedo da manhã e eu estava preparando o café em nosso fogão à lenha. Ouvi um barulho na porta e dei uma expiada pela fresta das tábuas. Era o Mandrião, nosso cachorro, querendo entrar. Pensei que o bicho devia estar com fome, preparei a comida e deixei perto do fogo, porque estava um dia muito frio, rapaz.

O vira-latas entrou, porém ao invés de comer, correu em minha direção. Eu não sou de dar confiança para cachorro e disse para ele ir embora. Nisto, o Mandrião se direcionou direto para a saída e começou um vai e vem sem fim.

O animalzinho corria da porta e voltava para mim, na porta e para mim, na porta e para mim, na porta e para mim. Entendeste ou queres que eu repita?

Foi assim, até eu entender que ele estava querendo me mostra algo, do lado de fora. Eu calculei que devia ser algum gato ou outro animal morto. Ladrão eu sabia que não era, já que o Capitão Tainha havia espantado todos eles de nossa região.

Quando eu cheguei na porta, observei um monte de terra que mais parecia o Morro da Lagoa. Fui tomado por tanta raiva, tanta raiva, que deu conta de sair na porrada com o miserável do cachorro. O Mandrião sempre cava uns buraquinhos, mas desta vez tinha exagerado. Dava para enterrar um filhote de baleia naquele imenso buraco.

No que eu gritei com o cachorro, ele escapou para trás do monte de terra e eu o segui. Meu querido, tu não acreditas no que tropecei. Era um enorme osso, em forma de forquilha, que o Mandrião tinha desenterrado no terreno de casa.

Eu nunca havia visto aquele tipo de osso, rapaz. Era imenso, de um animal do mar, mas balei não era, porque os de baleia eu conheço desde menino. O osso parecia uma espinha de peixe gigante.

Eu chamei o Crébe para dar uma olhada. O Crébe trouxe o Badejo para confirmar. O badejo convidou um professor da UDESC para dizer o que era. O Professor da UDESC requisitou um Doutor da UFSC para analisar. O Doutor contatou um pessoal da Discovery Channel. Porém quem chegou mesmo foram os repórteres da RBS. Em questão minutos nós estávamos em todas as televisões do mundo.

Os políticos ninguém chamou, mas sabe com é meu querido. Em época de eleição, eles sempre arranjam uma forma de ficar perto das massas. Em questão de segundos havia mais candidatos do que gente lá em casa. Assim, se formou uma confusão e
que passava, em frente, entrava para ver o que estava acontecendo.

De repente, uma ventania, que mais parecia vento leste, começou sem explicação. Era um helicóptero que pousou sobre o monte escavado pelo Mandrião. Mal as hélices do helicóptero pararam e um senhor de idade, com uma bengala que tinha uma bola de vidro e uma mosca dentro, desceu. Ele falava meio enrolado, talvez inglês, alemão ou espanhol. O que importa é que eu não entendia coisa nenhuma, rapaz.

Ele devia ser conhecido, afinal os professor, os doutores e os repórteres cercaram o coitado bem rápido. Os políticos aproveitaram para tirar algumas fotos apertando a mão do homem, que ficou por ali uns dez minutos e foi embora.

Perguntei para o Crébe que era o infeliz, ele perguntou para o Badejo, que falou com o professor da UDESC, que confirmou com o doutor da UFSC. O tal homem era um paleontólogo, ou seja, um tipo de cientista que estuda os fósseis.

O estudioso veio até a Barra da lagoa para confirmar o achado arqueológico do Mandrião. Se tratava de uma espinha de MUGILOSSAURUS BRASILIENSIS REX, um antepassado do Mugil Brasiliensis, a tainha. Ele até levou um pedacinho do osso para usar em um projeto que está fazendo em um tal de Jurassic Park.

Para nos homenagear, o cientista disse que o nome vulgar do Mugilossaurus Rex seria IXTEPOSSAURO.

Vou te dar nome vulgar. Vulgar é a mãe dele que é mais perua. Entendeste?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

52. Faltou pouco


Mô Quiridu,

A Joaquina si deitou-se, na cama, i mi acutucô. Ô achei qui ela tava querenu cosa i si assanhei mi todo, máj a degranida queria só cunversá antij di drumi:

Joaquina: Táj acordadu, nego?
Ixtepô: Acordado i numa dixposiçã!
Joaquina: Adixcurpa quiridu , máj Ô posso incoxtá a cabeça nu tô ombro só prá nój cunveusá um poquinho.?
Ixtepô: Ai tem! Ô ti conheçu bem, que qui tu quéj me dizê pra mim?
Joaquina: Nego, Ô quaji qui ti traí.
Ixtepô: Ô nô intendí dereito. Tu podij me repeti pra mim?
Joaquina: Ô quaji qui ti traí, maj foi só im pensamentu. Intendesse!
Ixtepô: Ô NÔ INTENDI DINOVO I FAÇO QUEXTÃ DI NÔ INTENDE OTRA VÊJ. INTENDESSE?
Joaquina: Baxa a bola i dexa di gritaria, sô tanso. Oj vizinho já tão tudo ovinu!
Ixtepô: Dexa elej tudo sabê o que tu quaji fizesse cumigo. O mô coraçã tá im tira sua ingrata.
Joaquina: Foi só um sonho, sô abobado. Ô ia até ti conta pra ti, agora nô vô máj.
Ixtepô: Apura, apura, dizinbucha tudo bem dereitinho!
Joaquina: Essa foi a premera, única e úrtma vêj , máj Ô tô si sintinu curpada. Mesu cô no tenha avançado a sinalera no sonho.
Ixtepô: Lá venj tu cum essaj inxtória di Fabo Juno.
Joaquina: Fabo Juno? Quem ti falô pra ti cô sonhei co Fabo Juno?
Ixtepô: Cum quem havéra di se? Si incantasse cum otro, é issu?
Joaquina: Pió qui foi.
Ixtepô: I ele é daj nossa redondeza?
Joaquina: Pió qui é.
Ixtepô: Ô conheçu o naba?
Joaquina: Pió qui já ouvisse falá.
Ixtepô: I quem é o traxti?
Joaquina: É o Capitão Tainha.
Ixtepô: Ói-ói-ó! Vô ti dizê, pra ti, qui si Ô fossi uma rapariga, também ia si incantá cum ele, ôh! Afinali, o Tainha é bem apessoado, é um Omi adimiravi i um herói aqui na Barra da Lagoa.
Joaquina: Ô devu di tá cá faixa atrasada. É issu?
Ixtepô: Ãh-ãh-ãh! Continua a tua confissã cô já to meio acachapado.
Joaquina: Pôj Intão! Ô sonhei qui ele tavu aqui im casa, dipinduradu num paranho, côj corno viradu pra baxo, inguali o Omi Aranha. Ô si sinti a Méry Jeini, si aproximei me dele i quaji sapequei um bejo na boca do degranido. Só nô chegeui noj finarmente pruque, até no sonho, Ô sô fieli a ti, mô quiridu.
Ixtepô: Ah para, ôh! Agora ô intendi pruque tu nô beijasse o Tainha.
Joaquina: Fala sô abobado.
Ixtepô: Ele deve ti tê si sortado du paranho. Si fosse numa tarrafa o coitado tava frito i Ô tomém né, ôh!

Traduzindo......

Meu Querido,

A Joaquina deitou-se me cutucou. Eu achei que ela estava querendo algo e me assanhei todo, mas ela queria somente conversar um pouco antes de dormir:

Joaquina: Estás acordado, nego?
Ixtepô: Acordado e disposto!
Joaquina: Desculpa querido, mas eu posso encostar a cabeça no teu ombro para conversar um pouco? Ixtepô: Ai tem! Eu te conheço, o que tu queres me dizer?
Joaquina: Nego, eu quase te traí.
Ixtepô: Eu não entendi direito. Podes repetir?
Joaquina: Eu quase te traí, mas foi só em pensamento. Entendestes?
Ixtepô: EU NÃO ENTENDI NOVAMENTE E FAÇO QUESTÃO DE NÃO ENTENDER OUTRA VEZ. ENTENDESTES?
Joaquina: Calma e deixa de gritaria, seu tolo. Os vizinhos já estão ouvindo!
Ixtepô: Deixe todos saber o que tu quase fizestes comigo. Meu coração está despedaçado, sua ingrata.
Joaquina: Foi só um sonho,
bobalhão. Eu ia até te contar, agora não vou mais.
Ixtepô: Apressa, apressa, conta tudo direitinho!
Joaquina: Essa foi a primeira, única e última vez, porém estou me sentindo culpada. Ainda que não tenha avançado o sinal no sonho.
Ixtepô: Lá vens tu com estas histórias de Fábio Júnior.
Joaquina: Fábio Júnior? Quem te falou que eu sonhei com o Fábio Júior?
Ixtepô: Quem haveria de ser? Te encantastes com outro, é isto?
Joaquina: Pior que foi.
Ixtepô: Ele é da nossa área?
Joaquina: Pior que é.
Ixtepô: Conheço o cara?
Joaquina: Pior que já ouviste falar.
Ixtepô: Quem é o impretável?
Joaquina: É o Capitão Tainha.
Ixtepô: Olha só! Vou te dizer que seu eu fosse mulher também me encantaria com ele. Afinal o Tainha é bonitão, homem admirável e um herói aqui na Barra da Lagoa.
Joaquina: Eu não estou acompanhando o que tu estás falando. É isto?
Ixtepô: Deixa pra lá! Continue a tua confissão que eu já estou cansado.
Joaquina: Pois então! Eu sonhei que ele estava aqui em casa, pendurado em uma teia, com a cabeça para baixo, igual ao Homem Aranha. Me senti a Mary Jane, aproximei-me dele e quase apliquei um beijo ma boca do desgraçado. Só não fui até o final porque sou fiel a ti mesmo em sonho, querido.
Ixtepô: Para com isto! Agora entendi porque não beijaste o Tainha.
Joaquina: Fala seu abobado.
Ixtepô: Ele deve ter escapado da teia. Se fosse em uma tarrafa o coitado estaria frito e eu também!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

51. A Correria

Mô Quiridu,

Ô tavu im casa, inxcutanu umaj marca no mô trêj im um, quanu o Crébe entra correnu porta a drento, gritanu:

- Arreda, arreda, Ixtepô! Tô num aguacero qui nô mi guento máj im pé,rapaj!

Ele cruzô a sala, qui era um raio, i só deu di oví o baruio do degranido si joganu no baciu, prá dá uma largada di suxtança, nô tem!. O tanso fico sentado por lá uma meia hora, gaxtô uma caxa di fóxfri, prá acabá co fedori i vortô branco qui é um papéli, prá mi contá prá mim, o que qui tava acontecenu.

Crébe: Ixtepô, faj trêj dia qui nô mi para nada no bucho, quiridu! É uma sultura qui nô dá di acreditá.
Ixtepô: Táj bom pro fogo! Que qui tu andaj aprontanu? Comesse dimáj dinovo sô tanso, é issu qui tu fizesse?
Crébe: Aiô, táj tolo táj? Ô no fij nada de deferente, só fui na fexta di neversário du tio Badejo i mi passei-me um poquinho. Intendesse?
Ixtepô: Ah, para cum issu né oh! Ô ti cunheço Crébe, tu pintasse o caneco, comesse que é um morto da fome, si impanzinasse todo. Quéj u que, rapaj?
Crébe: Sô abobado, dá um tempinho qui o bacio tá mi chamanu di vorta. Inquantu issu, mi arruma um remedinho pra cortá exta cagança toda, quiridu.
Ixtepô: Fica tranqüilo, vô apercurá uma baguinha prá aresorvê essa tua correria.

Vinte e sêj minute i trêj caxa di fóxfri depôj..........

Crébe: Quaji dexei aj tripa tudo no banhero, nô tem!
Ixtepô: Credo!
Crébe: I o remédinho, me arumasse arguma côsa?
Ixtepô: Toma esse comprimido. Ele vai te ajudá.
Crébe: Comé qui pode né ôh! Fo i Ô ingulí a baguinha i si senti bem, deve di sê psicológi.
Ixtepô: Tu táj bem mesu?
Crébe: Dazumbanho! Me curasse Ixtepô.
Ixtepô: Tão tá então!
Crébe: Bom, Ô vô prá casa dá uma dexcansadinha, mô filhu.
Ixtepô: Si vemo amanhã, lá na barra.

O Crébe foi imbora i Ô fui guardá oj remédio qui ficaru inxpalhado pru cima da mesa. Nô sei prá que a Joaquina ajunta aquela muntuera de medicamento, máj começei a contá os deversoj tipe i vi que tinha cárcio, ormonho, relaxantio, antiaço, diuréto, onargésico, i o diabo aquático. Nisso, arreparei na embalaja do remédio que tinha dado pro Crébe. O desinfelij tinha tomado um carmante, doj poderoso, injéj dum segura tripa, mô quiridu. Peguei o celulari i liguei pro degranido:

Ixtepô: Crébe, comé qui tu táj, rapaj?
Crébe: Todo cagado, máj carminho, carminho, mô quiridu!

Traduzindo......

Meu Querido,

Estava eu, em casa, escutando algumas músicas no meu som, quando o Crébe entra correndo e gritando:

- Afasta, afasta, Ixtepô! Estou com uma diarréia e não me aguento em pé. Ele cruzou a sala, como se fosse um raio, e só deu para ouvir o barulho do infeliz se jogando na privada, para largar um cocô poderoso. Ele ficou sentado durante uma meia hora, gastou uma caixa de fósforos, para acabar com o fedor, e voltou branco que é um papel, para me contar o que estava acontecendo.

Crébe: Ixtepô, faz três dias que não me para nada na barriga! É uma soltura que não dá para acreditar.
Ixtepô: Tá que não vale nada! O que tu andas aprontando? Comeste demais outra vez, bobalhão, é isto que fizeste?
Crébe: Tá louco? Eu não fiz nada diferente, só fui à festa de aniversário do tio Badejo e me passei um pouquinho.
Ixtepô: Para com isto! Eu te conheço Crébe, tu detonaste, comeste como um morto de fome e te entupiste. Queres o que?
Crébe: Seu abobado, dá um tempo que a privada está me chamando novamente. Enquanto isto, me arranja um remédio para cortar esta dor de barriga.

Ixtepô: Fica tranqüilo, vou procurar um comprimido para resolver o teu problema.

Vinte e seis minutos e três caixas de fósforos depois......

Crébe: Quase deixei o intestino no banheiro.
Ixtepô: Que é isto!
Crébe: E o remédio, encontraste algo?
Ixtepô: Toma esse comprimido. Ele vai te ajudar

Crébe: Como pode! Foi eu engolir o comprimido e me sentir bem, deve ser psicológico.
Ixtepô: Estás bem, mesmo?
Crébe: Tu és demais! Me curaste Ixtepô.
Ixtepô: Então tá!
Crébe: Bom, eu vou para casa dar uma descansada.
Ixtepô: Nos vemos amanhã, lá na barra.

O Crébe foi embora e eu fui guardar os remédios que ficaram espalhados por cima da mesa. Não sei porque a Joaquina junta aquela quantidade de medicamentos, mas comecei a contar os diversos tipos e observei que tinha cálcio, hormônio, relaxante, antiácido, diurético, analgésico e o diabo a quatro. Nisto reparei a embalagem do remédio que dei ao Crébe. O coitado havia tomado um calmante dos fortes, ao invés de um antiespasmódico . Peguei o celular e liguei para ele:

Ixtepô: Crébe, como tu estás, rapaz?
Crébe: Todo cagado, mas calminho, calminho, meu querido!

domingo, 8 de agosto de 2010

50. O Cachorro do Crébe - Parte II

Mô Quiridu,

Ô tavu inu drumi quanu o celulari tocô. Adivinha quem era,rapaj?

Crébe: Ôjadi, ôjadi, ôjadi!
Ixtepô: Que qui tu tá dizenu, sô tanso?
Crébe: Mô cachorrinho já tem nome, Ôjadi!
Ixtepô: Desse nome pro purguento?
Crébe: Sim, Ôjadi.
Ixtepô: Ôjadi é o nome do coitadinho do disinfelij?
Crébe: Nô, Ô já di nome pra ele, sô abobado!
Ixtepô: Mi conta pra mim o nome do bicho, então.
Crébe: Ônodi.
Ixtepô: Nô mi confundi, sô tanso. Desse o nô desse?
Crébe: Ô Já di ! Ele vai si chamar-se ÔNODI.

Traduzindo.....

Meu Querido,

Eu estava dormindo quando o celular tocou. Adivinha quem era, rapaz?

Crébe: Eujadei, eujadei, eujadei!
Ixtepô: O que tu estás dizendo, seu tolo?
Crébe: Meu cachorrinho já tem nome, Eujadei!
Ixtepô: Deste nome para o pulguento?
Crébe: Sim, Eujadei.
Ixtepô: Eujadei é o nome do coitado do infeliz?
Crébe: Não, eu já dei nome para ele, seu abobado!
Ixtepô: Me conta o nome, então.
Mi conta pra mim o nome, então?
Crébe: Eunãodei.
Ixtepô: Não me confunde. Deste ou não deste?
Crébe: Eu já dei! Ele vai chamar-se EUNÃODEI.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

49. O Cachorro do Crébe - Parte I


Mô Quiridu,

Foi a Joaquina ganhá o tal do Mandrião, qui o Crébe saiu a pecurá um cachorrinho pra ele tamém,ôh! No qui ele botô oj zóio no nosso bicho, ficô num baita invejume, o godera. Ele nem nunca goxtô muito de cachorro, máj não sussegô o facho inquantu nô arranjo um . Que qué isso né, ôh!

Onti ele teve aqui in casa i contô vantagi a noiti intera:

Crébe: Ixtepô, quero ti amoxtrá o mô cachorrinho pra ti.
Ixtepô: Tu deixasse o bichinho lá fora, cum frio desse, rapaj?
Crébe: Claro qui nô dexei. Ele tá aqui no mô borso.
Ixtepô: Tu éj um malino heim,ôh! Andaj pela ai com um filhotinho a tira colo, sô tanso.
Crébe: Ãh-ãh-ãh! Dexa di sê abobado, Ô comprei um cachorro da raça Xi-au-aua e já tá adurto.
Ixtepô: Xi o que?
Crébe: Xi-auuuuu-auaaaaaaaaa! Váj dizê qui nunca ovisse falá? Cachorro tamém é curtura, quirido i tem máj, é a úrtma moda im bicho di inxtimaçâ.
Ixtepô: Pára co aratório i amoxtra logo o bicho, sô abobado!

O Crébe infiô a mão no borso, do casaco, i tirô uma caxa di fróxfi lá di drentu. Quanu o degranido abriu , apareceu um cachorrinho cabano, virado im zóio. Era tão, tão piquininho qui ficava arodianu na parma da mão do malino. Ele aproveitô a situaçã i si insibiu-se um poquinho dinovo:

Crébe: Ixtepô, me dij pra mim si argum dia tu já visse um cachorrinho máj lindo qui esse, rapaj.
Ixtepô: Nem máj lindo, nem máj feio, muito pelo contráriu.
Crébe: Tá si mordenu pruquê o Mandrião nem si compara-se a ele.
Ixtepô: Ele, qui ele? Me dij pra mim, cumé qui é o nomi do mini papa-ovo.
Crébe: Ônodi!
Ixtepô: Cumé?
Crébe: Ônodi!
Ixtepô: Ônodi? Qui nome máj orrivi tu desse pro coiso, heim ôh!
Crébe: Quridu, o nome dele nô é Ônodi. Aconteci qui Ô nô di nome, pro cachorro, ainda. Intendesse agora?

Traduzindo......

Meu Querido,

Foi a Joaquina ganhar o tal do Mandrião, que o Crébe saiu a procurar um cachorrinho para ele também! Assim que ele viu nosso bicho, ficou louco de ciúme, o invejoso. Ele nunca gostou muito de cachorros, mas não sossegou enquanto não arrumou um. Que é isto!

Ontem ele esteve lá em casa e contou vantagens a noite toda:
Crébe: Ixtepo, quero te mostrar meu cachorrinho.
Ixtepô: Tu deixaste o bichinho lá fora, com este frio, rapaz?
Crébe: Claro que não deixei. Ele está aqui no meu bolso.
Ixtepô: Tu és um malvado heim! Andas por aí com um filhotinho a tira colo.
Crébe: deixa de ser bobo, eu comprei um cachorro da raça Chiuaua e já está adulto.
Ixtepô: Chi o que?
Crébe: Chiiiiiiiiiiii uuuuuuuuuuuu auaaaaaaaaaaa! Vais deizer que nunca ouviste falar!
Cachorro também é cultura, querido e tem mais, é a última moda em bicho de estimação.
Ixtepô: Pára com a falação e mostra o logo o bicho, seu abobado.

O Crébe enfiou a mão no bolso do casado e tirou uma caixa de fósforos lá de dentro. Quando o degranido abriu, apareceu um cachorrinho orelhudo, virado em olhos. Era tão pequenino que ficava rodando na palma da mão do malvado. Ele aproveitou a situação e se exibiu mais um pouco, novamente:

Crébe:Ixtepô, me diga se algum dia tu já viste um cachorrinho mais lindo que este, rapaz.
Ixtepô: Nem mais lindo, nem mais feio, muito pelo contrário.
Crébe: Tu estás te mordendo porque o Mandrião nem se compara a ele.
Ixtepô: Ele, que ele? Me fla como é o nome deste mini vira-latas.
Crébe: Eunãodei!
Ixtepô: Como?
Crébe: Eunãodei!
Ixtepô: Eunãodei? Que nome horrível tu destes pro bichinho.

Crébe: Querido, o nome dele não é Eunãodei.
Acontece que Eu não dei nome, pro cachorro, ainda. Entendeste agora?

domingo, 1 de agosto de 2010

48. A Gaivota Malabarista


Mô Quiridu,

No finali di semana, a Joaquina foi viajá, numa inxcursã, junto com a Clokirida. Ô i u Netu fiquemu in casa sozinho, nô tem. Prum lado até qui foi bom, já que Ô tava percisanu tê unj momento só co rapaj. Côsa di avô i neto, intendesse?

No sábado, convidei o nabinha pra armoça num doj rextorante do canali da Lagoa. Aj onze i trinta nój já tava sendadinho num trapiche, côj cardapi na mão, oianu aquela água limpinha, sentinu o sóli i o ventu no roxto. Nô tem!

Como tu sabej, o Neto parô di cume carne i tinha virado vegetarianicu máj, ôj poço, fumo convencenu o rapaj a cume, o menuj, um pexinho. Ele ainda nô si incantosse,di todo ,cáj nossa inguaria máj, vorta i meia, o intojadinho come arguma cosinha do mar.

O gauchinho virava o cardapi daqui prali, dilá prá cá i nô inxcolia nada. Ficava cáquele jeitinho meio misurento i cheio di nojo. Então, tive qui mi intrometê e ralhá cô Neto:

Ixtepô: Desse jeito, mofas com a pomba na balaia, rapaj! Dexa qui o vô pedi o conduto i tu oj aperitivu, queridu.
Neto: Bah,carinha! Dá um tempo né vô, eu não estou com nenhuma pressa. Vamos curtir o visu, coroa.
Ixtepô: Ah! Para oh! Tu sabej cô goxto di armoçá meio dia in ponto. Tem máj, ô já tô varado da fomi.
Neto: Não extressa, vô! Eu vou pedir uns bolinho de siri, umas batata frita e uma salada mista.
Ixtepô: Tão tá então! Depôj pedimu uma tainha inxcalada com um pirãozinho e, prá bebê, laranjinha água da serra.
Neto: Tá tri!

Fizemu o pedidu i no qui o gauçom troxe oj pratu, uma nuvi di gaviota si arpoximo-se da nossa mesa. Nexta hora, o rextoranti já tava intupidu i uma missidade de guri piqueno pulava, gritava e curria no trapiche. Hoje em dia, o qui máj tem por aí é essaj criança sem limite.
No qui aj criançada viru aj gaviota, nô deu otra, correru no pratu doj paij, si agarraru naj batata frita i começaru a jogá tudo ná agua. Quantu máj batatinha caia no canali, máj gaviota aparecia.
O Neto si impressiono-se e inxclamo:

Neto: Bah! Tri massa vô, as gaivotas são vegetariana.
Ixtepô: Vegetarianica i gorda, tamém, oh! Tu achaj qui issu tá correto?
Neto: Hum!
Ixtepô: Credo, que, qué issu, né oh! Gaviota tem é qui si alimentar-se de pexe.
Neto: Pior é que, tipo assim, tu tá tri certo né carinha.
Ixtepô: Si tu observá bem dereitinho, dessaj gaviota tudo, só a qui nô tá cumenu batatinha é essa gordinha qui aposô na ponta da nossa mesa.
Neto: Assim, oh! Parece que a gaivota tá querendo alguma coisa vô. Na verdade ela tá de olho nestes tomatinho.
Ixtepô: Então, então. Oj tomate acho qui dá di jogá prá ela.

O Neto jogô trêj tomatinho cereja, prá gaviota, um atráj du otro. Invéj da bicha comê aj frutinha, ela começô a fazê labarismu. Vô ti dizê pra ti , a gaviota dava um banho, parecia até essej pessoal qui fica enchenu o saco naj sinalera, aqui im Florianópij.

Percisava di vê o show que a bichinha apresentô. Depôj di acaba a apresentaçã , ela devorveu oj tomate, abaixou a cabecinha, agradeceu i extendeu a asinha pro nosso lado. No dava di acreditá máj ela táva querenu recompensa pelo trabaio.

Contrariado, indiquei a batata frita, máj pru sorti ela fez sinali que não i apontou pra minha carteira, qui tava im cima da mesa. Pode sê qui tu nô acredite no qui o vô ti dizê, agora inquantu Ô nô dei dèj reau pra gaviota, ela nô avuô imbora.

Como o dia tava bunitu, nój fiquemo ali no canali até umaj trêj hora, cuversanu da vida, tomanu umaj laranjinha i aprecianu a paisagi.

Pedimu a conta i, antej de pagá, vi que sobre um pau, dentro do canali, extava a gaviota labarixta. Com uma asa a inxpertinha treinava oj truque doj tomatinho. Maj, adivinha o qui inzibida carregava ca outra?

Um pacote di batatinha do Maquidonis. Que qué isso, né oh!



Traduzindo......

Meu Querido,

No final de semana, a Joaquina foi viajar, em excursão, com a Clokirida. Eu e o Neto ficamos em casa sozinhos. Por um lado até que foi bom, já que eu estava precisando ter alguns momentos a sós com o rapaz. Coisa de avô e neto, entendeste?
No sábado, convidei o porcaria para almoçar em um dos restaurantes do canal da Lagoa. As onze e meia, nós estávamos sentados no trapiche, com os cardápios em mãos, olhando aquela água límpida, sentindo o sol e o vento no rosto.
Como tu sabes, o Neto parou de comer carne e tornou-se vegetariano mas, aos poucos, fomos convencendo o rapaz a comer, ao menos, um peixinho. Ele ainda não se encantou, de todo, com nossas iguarias mas, volta e meia, come algum fruto do mar.

O gauchinho virava o cardápio para cá e para lá e não escolhia nada. Estava com aquele jeito, fazendo careta e cheio de nojo. Então tive de intervir e advertir o Neto:

Ixtepô: Desse jeito não vai dar em nada, rapaz! Deixa que escolho o prato principal e tu o aperetivo, querido.
Neto: Bah! Dá um tempo né vô, eu não estou com nenhuma pressa. Vamos curtir o visual, coroa.
Ixtepô: Para aí! Tu sabes que gosto de almoçar ao meio-dia em ponto. Tem mais, estou com muita fome.
Neto: Não extressa, vô! Eu vou pedir uns bolinhos de siri, umas batatas fritas e uma salada mista.
Ixtepô: Tá bom! Depois pedimos uma tainha escalada com pirão e, para beber, laranjinha água da serra.
Neto: Tá tri!

Fizemos o pedido e, no que o garçom trouxe o prato, uma núvem de gaivotas aproximou-se da nossa mesa. Nesta hora, o restaurante já estava lotado e uma criançada pulava, gritava e corria no trapiche. Hoje em dia, o que mais existe por ai é criança sem limites.
No que os meninos viram as gaivotas, não deu outra, correram para o prato dos pais, agarraram as batatas fritas e começaram a jogar tudo na água. Quanto mais as batatinhas caiam no canal, mais gaivotas apareciam.
O Neto impressionou-se e exclamou:

Neto: Bah! Tri massa vô, as gaviotas são vegetarianas.
Ixtepô: Vegetarianas e gordas também! Tu achas que isto está certo?
Neto: Hum!
Ixtepô: O que é isto! Gaivota tem é que se alimentar de peixe.
Neto: Pior é que tu está tri certo.
Ixtepô: Se tu observares direitinho, de todas estas gaivotas, a única que não come batatinha é esta gordinha que pousou no canto de nossa mesa.
Neto: Olha só! Parece que a a gaivota está querendo alguma coisa vô. Na verdade ela está de olho nestes tomatinhos.
Ixtepô: Então, tomates acho que podes dar a ela.

O Neto jogou três tomatinhos cereja, para a gaivota, um atrás do outro. Ao invés de comer as frutinhas, ela começou a fazer malabarismo. Vou te dizer, a gaivota arrasou, parecia até aquelas pessoas que
ficam incomodando nos semáforos de Florianópolis.

Precisava ver o show que ela apresentou. Depois de acabar a apresentação, a gaivota devolveu os tomates, baixou a cabecinha, agradeceu e estendeu a asinha para nosso lado. Não dava para acreditar mas ela estava querendo recompensa pelo trabalho.

Contrariado, indiquei a batata frita, por sorte ela fez sinal que não e apontou para minha carteira, que estava sobre a mesa. Pode ser que tu não acredites no que vou dizer, porém enquanto não dei dez reais a ela, a gaivota não voou embora.

Como o dia estava bonito, ficamos ali no canal por umas três horas, conversando, bebendo laranjinhas e apreciando a paisagem.

Antes de pagar, observei sobre um pau, dentro do canal, a gaivota malabarista. Com uma asa a espertinha treinava os truques com dois tomatinhos. Mas adivinha o que a exibida carregava na outra?

Um pacote de batatinhas do Mac Donalds. Que é isto!