domingo, 16 de agosto de 2009

27. Que mistério é este?


Mô Quiridu!

Ô já oví uma montuêra di inxtória di aparença, daquelas di dá cagaço em rapaj piqueno i dexá homi grandi todo abobado. Máj Ô só acredito numa delaj, quiridu, porque Ô conheci i convivi cá degranida da criatura por argunj ano. Entendesse?
Ô era rapaj, quanu otra família di pexcadori se mudôsse pro lado da nossa casa. Nô tem! O pai i a mãe fizero amizade côj maj véio i Ô se torneisse amigo do rapaj, o Gugu.
Nój brincava a trêj por dôj, nadava, pexcava, tirava marixco, ajuntava berbigão i tatuíra, pegava siri i unj camarãozinho. Pra ti vê, nój tinha uma vida de rapaj criado na bêra do mar. Côsa linda!
Máj o Gugu tinha um segredo. Nô tem? Ô só botei reparo nisso, a premera vêj cô fui armoçá na casa dele. O rapaj tinha di comê oj olho dôj pexe.
Vê só, ele nô si güentava. Era só enchergá um pexe côj olho exbugalhado i ele pulava no prato pra arrancá aj baga e enfiá guela abaxo. Ele ficava tão, tão, tão, saxtifeito qui dava di vê aquelij baita dentão branco alumiando a cara queimada do soli. Maj isso durava poco i o Gugu já tava perparado pra ataca di novo, quiridu.
Que qué isso né, oh! I tem máj, ele fazia a mesa cosa lá in casa, quanu ia armoçá o jantá. Na casa dôj nosso amigo i até naj fexta da comunidade ele si comportava inguali. Era tê pexe de olho arregalado, o rapaj avançava i comia. Tanto foi qui ele ganhô o apilido di “ Gugu papa olho di pexe”.
Dôj o trêj ano si passaro i o Gugu si sumiusse. Argunj pescadori disséro qui ele tinha aparecido lá por Gramado no Rio Grande do Suli, máj isso nunca si confirmôsse. O certo é qui a família do rapaj foi atraj dele i pió é qui nunca nô incontrô.
Aqui na Barra ainda si ove boato, qui in noite de lua cheia, oj olho doj pexe disaparece, di supetão, doj prato daj pessoa. Cumé qui pode né, ôh!
Ô nô acreditava nessaj bobage, máj adjaôj di manhã, Ô di um lance di tarrafa i peguei umaj sêj tainhota. Oj bicho era grande i pesado, unj baita pexão. Ô nunca nô tinha pegadu umaj tainhota tão grande. Máj o qui mi impressionô meso, foi qui todaj ela tava usanu tapa-olho, quiridu.
Nô dá di acreditá né,oh?
Máj ti juro pra ti, Ô vi cô essej zóio qui o Gugu nô há di cumê. Entendesse?

Traduzindo.....

Eu já ouvi muitas histórias de assombração que apavoram e aterrorizam a vida de crianças, jovens e adultos. Devo dizer que só acredito em uma delas porque conheci e convivi com a criatura durante algum tempo.
Eu ainda era menino quando outra família de pescadores mudou-se para próximo de nossa casa. Meu pai e minha mãe logo fizeram amizades com os pais e eu tornei-me muito amigo do menino, o Gugu.
Nós brincávamos juntos todos os dias, nadávamos, pescávamos, tirávamos marisco do costão, pegávamos camarão e siris
juntos. Enfim, tínhamos uma vida de meninos criados à beira mar.
Porém, o Gugu escondia um segredo que só descobri, a primeira vez que fui almoçar em sua casa. Ele tinha o costume de comer os olhos dos peixes.
Aquele comportamento, incontrolável, tirava o menino da razão. Bastava ver um peixe com os olhos arregalados, para ele avançar sobre o prato, arrancá-los e jogá-los rapidamente à boca em um único golpe. Tão logo seu desejo era satisfeito, um ar de satisfação surgia em seu rosto queimado pelo sol. Mas isto durava pouco e o Gugu já estava pronto a atacar novamente.
Esta situação aconteceu inúmeras vezes, inclusive quando eu o convidava para almoçar ou jantar lá em casa. Outros amigos passaram pelo mesmo que eu e, ainda, nas festas da comunidade ele se comportava da mesma maneira. Se tinha peixe com olho arregalado, ele avançava e comia. Isto rendeu a ele o apelido de “Gugu papa olho de peixe”.
Passaram-se dois ou três anos e o Gugu sumiu. Alguns pescadores trouxeram notícias dizendo que ele havia aparecido lá por Gramado no Rio Grande do Sul, mas isto nunca foi confirmado. O certo é que a família partiu atrás dele e não o encontrou.
Por aqui, ainda correm boatos que nos jantares em noite lua cheia os olhos dos peixes costumam desaparecer misteriosamente dos partos das pessoas.
Eu não acreditava em nada disto, mas nesta manhã, eu dei um lance de tarrafa e peguei umas seis tainhotas. Os bichos eram grandes, pesados mesmo, na verdade eu nunca havia pego tainhotas tão grandes. Mas o que me impressionou mesmo, foi que todas elas estavam usando tapa-olho.
Vou te jurar que eu que vi isto tudo com estes olhos que o Gugu não há de comer.

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