sábado, 21 de agosto de 2010

53. Osso duro de roer

Mô Quiridu,

Era cedinho da manhã i Ô tavu perparu o café no nosso fogão à lenha. Ovi um baruio na porta i di uma inxpiadinha pelaj flexta dajs tauba. Era o Mandrião, nosso cachorro, querenu entra. Pensei que o bicho devia tava cum fomi, perparei a cumidinha dele i deixei ali péuto do fogo, pru causo qui tava um dia muito friu, rapaj.

O guapéca entrô, maj invéj di i cumê, ele correu dereto na minha dereçã. Ô nô sô di dá confiança pra cachorro i disse pra ele i simbora. Nissu, o Mandrião inveredô dereto pra saída i começô um vai i vem sem fim.

O animarzinho corria na porta e di vorta im mim, na porta i em mim, na porta i em mim, na porta i em mim. Intendesse o quéj cô repita?

Foi ansim, até Ô atiná qui ele tavu querenu mi amoxtra arguma côsa, du lá di fora. O carculei qui divia di sê argum gatu o otro bicho morto. Ladrão Ô sabia qui nô era, já que o Capitão Tainha tinha inxpantadu elej tudo daj nossa redondeza.

Quanu Ô cheguei na porta, deu di vê uma montuera di terra qui maj parecia o Morro da Lagoa. Nô tem? Ô si inrraiveci tantu, máj tantu, qui deu vontadi di saí no pau co meseravi do papa-ovo. O Mandrião sempre cava unj buraquinho, máj dessa vêj ele tinha inzagerado. Dava di interrá um baleote drentu daquele baito buracão .

Nu cô ralhei co cahorro, ele cixpô pra traj do monte de terra i Ô corri atráj dele. Mô quiridu, tu nô acreditaj no qué cô atropeçei. Era um baita dum osso, im forma di fouquilha, qui o Mandrião tinha disinterrado ali no terreno di casa.

Ô nunca nô tinha vixto aquele tipe di osso, rapaj. Era tão, tão grande, dum bicho do mar, nô era di baleia, qui di baleia Ô conheçu deuxdi rapaj piqueno. O osso parecia uma expinha di pexe gigante. Nô tem!

Ô chamei o Crébe prá dá uma oiada. O Crébe troxe o Badejo prá confirmá. O Badejo convidô um professori da UDÉXQUI pra dizê o qui era. O professori da UDÉXQUI requisitô um Dotori da UFÉXQUI pra analisá. O Dotori da UFÉXQUI contatô uns pessoal da DIXCOVERI TIÉNEL. Máj quem chego mesu foi oj reporti da ERIBESSI. Im pocoj minute nój já tavu naj televisã do mundo todo.

Oj políticu ninguém chamô, máj sacumé mô quiridu. Im épuca di enleiçã, elej sempre arranju um jeito di aparecê i ficá péuto daj massa. Im quextã di segundoj tinha máj candidato do qui gente lá em casa. Ansim, si formo-si um banzé i quem passava, na frente, si atirava pra drentu só prá vê o que tavu acontecenu.

Do nada, uma ventania, qui máj parecia uma lextada, começô sem nehuma inxplicaçã. Era um olicótio qui aposô bem im cima do monte de terra ejcavada pelo Mandrião. Mal aj élicia do avião di roxca pararu i um senhor di idade, com uma bengala que tinha uma bola di vridu com uma moxca drentu, deceu. Ele falava meio inrolado, tarvej inglêj, alemão o inxpanhol. O que importa é cô no intendia côsa nenhuam, rapaj.

Ele devia di sê conhecido, afinali oj professorí, oj dotorii i oj reporti cercaru o coitado bem rapidinho. Oj políticu aproveitaru pra tirá umaj foto apeutanu a mão do Omi, qui fico por ali unj dej minute i pego o rumo di vorta.

Preguntei pro Crébe quem era o disinvelij, ele pregunto pro Badejo, que falô com o professori da UDÉXQUI, qui confirmô co Dotori da UFÉXQUI. O tali du omi era um parentólogo, o seje, um tipe de centixta qui inxtuda fóssio.

O inxtudiosu veiu até a Barra da Lago prá confirmá o achado arquelógio do Mandrião. Si tratava-si duma inxpinha de MUGILOSSAURUS BRASILIENSIS REX, um antepassado do Mugil Brasiliensis, a tainha. Ele até levo um pedacinho do osso pra usá num projeto qui ele tá fazendu num tali di JURASIM QUI PARQUI.

Pra noj homenagiá, o centixta disse co nome vurgá do Mugilossaurus Rex ia sê IXTEPOSSAURO.

Vô ti dá nome vurgá, oh! Vurgá é a mãe dele que é máj pirua. Indendesse?

Traduzindo.....

Meu Querido,

Era cedo da manhã e eu estava preparando o café em nosso fogão à lenha. Ouvi um barulho na porta e dei uma expiada pela fresta das tábuas. Era o Mandrião, nosso cachorro, querendo entrar. Pensei que o bicho devia estar com fome, preparei a comida e deixei perto do fogo, porque estava um dia muito frio, rapaz.

O vira-latas entrou, porém ao invés de comer, correu em minha direção. Eu não sou de dar confiança para cachorro e disse para ele ir embora. Nisto, o Mandrião se direcionou direto para a saída e começou um vai e vem sem fim.

O animalzinho corria da porta e voltava para mim, na porta e para mim, na porta e para mim, na porta e para mim. Entendeste ou queres que eu repita?

Foi assim, até eu entender que ele estava querendo me mostra algo, do lado de fora. Eu calculei que devia ser algum gato ou outro animal morto. Ladrão eu sabia que não era, já que o Capitão Tainha havia espantado todos eles de nossa região.

Quando eu cheguei na porta, observei um monte de terra que mais parecia o Morro da Lagoa. Fui tomado por tanta raiva, tanta raiva, que deu conta de sair na porrada com o miserável do cachorro. O Mandrião sempre cava uns buraquinhos, mas desta vez tinha exagerado. Dava para enterrar um filhote de baleia naquele imenso buraco.

No que eu gritei com o cachorro, ele escapou para trás do monte de terra e eu o segui. Meu querido, tu não acreditas no que tropecei. Era um enorme osso, em forma de forquilha, que o Mandrião tinha desenterrado no terreno de casa.

Eu nunca havia visto aquele tipo de osso, rapaz. Era imenso, de um animal do mar, mas balei não era, porque os de baleia eu conheço desde menino. O osso parecia uma espinha de peixe gigante.

Eu chamei o Crébe para dar uma olhada. O Crébe trouxe o Badejo para confirmar. O badejo convidou um professor da UDESC para dizer o que era. O Professor da UDESC requisitou um Doutor da UFSC para analisar. O Doutor contatou um pessoal da Discovery Channel. Porém quem chegou mesmo foram os repórteres da RBS. Em questão minutos nós estávamos em todas as televisões do mundo.

Os políticos ninguém chamou, mas sabe com é meu querido. Em época de eleição, eles sempre arranjam uma forma de ficar perto das massas. Em questão de segundos havia mais candidatos do que gente lá em casa. Assim, se formou uma confusão e
que passava, em frente, entrava para ver o que estava acontecendo.

De repente, uma ventania, que mais parecia vento leste, começou sem explicação. Era um helicóptero que pousou sobre o monte escavado pelo Mandrião. Mal as hélices do helicóptero pararam e um senhor de idade, com uma bengala que tinha uma bola de vidro e uma mosca dentro, desceu. Ele falava meio enrolado, talvez inglês, alemão ou espanhol. O que importa é que eu não entendia coisa nenhuma, rapaz.

Ele devia ser conhecido, afinal os professor, os doutores e os repórteres cercaram o coitado bem rápido. Os políticos aproveitaram para tirar algumas fotos apertando a mão do homem, que ficou por ali uns dez minutos e foi embora.

Perguntei para o Crébe que era o infeliz, ele perguntou para o Badejo, que falou com o professor da UDESC, que confirmou com o doutor da UFSC. O tal homem era um paleontólogo, ou seja, um tipo de cientista que estuda os fósseis.

O estudioso veio até a Barra da lagoa para confirmar o achado arqueológico do Mandrião. Se tratava de uma espinha de MUGILOSSAURUS BRASILIENSIS REX, um antepassado do Mugil Brasiliensis, a tainha. Ele até levou um pedacinho do osso para usar em um projeto que está fazendo em um tal de Jurassic Park.

Para nos homenagear, o cientista disse que o nome vulgar do Mugilossaurus Rex seria IXTEPOSSAURO.

Vou te dar nome vulgar. Vulgar é a mãe dele que é mais perua. Entendeste?

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