quarta-feira, 15 de julho de 2009

19. Cada pote no seu lugar

A Joaquina nunca si encarnô-se cô arrumação da casa. Ô vô ti dizê, pra ti, qui ela nem liga muitcho prá isso. Entendesse? Maj, Ô nunca nô intendi é a mania qui ela tinha di comprá tapiuéri. Isso si iniciô-se lhá peloj ano 80, quanu ela i umaj amiga si ajuntavu prá fofoca i tomá um cafézinho cô mixtura, dizenu qui era “Runião do Grupe di Tapuéri”. Elas vendia i comprava potinho di prástico, uma daj otra, num inxquema qui até aparecia a “Pirâmida do Tapiuéri”. Nô tem? Tu nô imaginaj qui ela tinha tapuéri prá guardá tapuéri dentro. Cumé qui pode né, ôh! Maj o tempo passô-se, aj runião fôro ficanu insossa i o inxquema do tapuéria si acabo-se. Ô achava qui daquelaj época só tinha sobradu, la im casa, o jeito qui a Joaquina arrumava oj potinho. Mô filho, eles ficava tudo empiado naj partelera, na marra, só inxperanu prá caí. Maj, adjaôj di tardezinha, a Joaquina chegô im casa toda facera, cheia di novidadi i falanu ansim:

Joaquina: Ixtepô, tu nô sabej onde Ô tive o dia todo!
Ixtepô: Ô nô sô vidente, ná quirida! Claro que não sei, indamáj qui Ô cheguei du mar e tu já nô tavaj.
Joaquina: Então, então! A Clokirida passô aqui i nój descemo pro centro.
Ixtepô: Ó, ió, ió. Fizesse compra de certo?
Joaquina: Pió qui nô fizemo gradej compra! Maj corremo aquela Conselhero Mafra, de cima prá baxo, todinha.
Ixtepô: Como ansim?
Joaquina: Ora rapaj, entremu em tudo quantu é lojinha, fomo na casa do Artesão, no Mercado Público i na vorta, deu tempo prá nój entrá na loja Mili Dôj.
Ixtepô: Tu tenj tempo, né ôh!
Joaquina: Pôj então, i elej tinha oferta di tapuéri, num balaio! Tu sabej cô nô rezixto um potinho, né mô quiridu? Inda máj si é originali.
Ixtepô: Que qué isso! Nô váj me dizê, pra mim, qui tu comprasse tapuéri dinovo, váj?
Joaquina: Para nego! Ô só comprei dôj pote piqueno, prá guardá a sobra do pirãozinho di nailo cô vô fazê pra ti, mô quiridu.
Ixtepô: Nô vem mingambelá, cô nô sô tanso! Tu sabej qui essa missidade di pote vai inxtorvá aqui im casa. I tem máj, prástico nô é degradáv.
Joaquina: Vô ti fala, prá ti, qui o Neto chegô da inxcola, falanu dessaj côsa. Nô tem?
Ixtepô: O rapaj tá inxtudanu. Aquilo nô prega, prego, sem ixtopa!
Joaquina: Máj será qui o prástico perjudica tanto meso?
Ixtepô: O pobrema maióri é como aj pessoa joga oj prástico fora.
Joaquina: Inxprica isso rapaj, cô já tô meia neuvosa.
Ixtepô: Ô tenho vixto côsa má quirida. Já vi ilha di prástico boianu mar a fora, já tirei uma montuera di garrafa pet derretida noj coxtão i até tartaruga engaxgada cô sacolinha di sumercado Ô já vi. Essaj côsa, tudo, começa dentru daj casa da genti.
Joaquina: Tu tenj razão, mô quirido.Temo qui sê oj premero a preseuvá, afinali semo daqui. Mi ajuda a separá oj tapuéri, aj sacola i aj garrafa di prástico. Bota tudo na Kombi qui nój vamu levá prá recicrage.

Vô ti dizê, prá ti, cô fiquei todo orguioso da Joaquina. Máj quanu Ô puxei o premero potinho da partelera i oj otro cairu, tudo, im cima di mim... Ô tive qui contá até trêj, porque a minha vontadi era di dá um chute i fazê tapiuéri avuá prá tudo quantu é lado.
Inda bem qui foi a úrtma vêj!

Traduzindo.....
A Joaquina não é nehuma fanática por organização, na verdade ela não presta muito atenção nisto. Eu não entendo é a mania que ela tinha de comprar tupperware. Isto começou lá nos anos 80, quando ela e algumas amigas se juntavam para fofocar e tomar um bom café da tarde, usando como pretexto a reunião do grupo de tupperware. Elas vendiam e compravam potinhos plásticos umas das outras em um esquema que parecia a Pirâmide do Tupperware. Para tu teres uma idéia, ela tinha tupperware para guardar tupperware dentro. Os tempos passaram, as reuniões deixaram de ocorrer e o esquema de venda, boca- a-boca, de pote plástico acabou. Eu acreditava que daquela época só havia sobrado, lá em casa, a maneira de guardar os potinhos. Eles ficavam amontoados, uns sobre os outros, formando uma pilha pronta para cair a qualquer momento. Mas hoje à tardinha, a Joaquina chegou toda alegre, cheia de novidade e falando assim:

Joaquina: Ixtepô, tu nem sabes onde estive hoje o dia todo!
Ixtepô: Não sou vidente, claro que não sei! Eu cheguei do mar e tu já não estavas em casa.
Joaquina: Pois é, a Clokirida passou aqui e nós fomos ao centro.
Ixtepô: Foram comprar algo?
Joaquina: Nada especial, mas corremos aquela Conselheiro Mafra toda, para cima e para baixo.
Ixtepô: Como assim?
Joaquina: Ora, entramos em tudo que é lojinha, fomos à casa do Artesão, ao Mercado Público e na volta, ainda deu tempo
para entrar na loja Mil e Dois.
Ixtepô: Tu tens tempo mesmo!
Joaquina: E o melhor de tudo é que eles tinham oferta de tupperware, num balaio. Tu me conheces e sabes que eu não resisto a um potinho, ainda mais se for original.
Ixtepô: Esta não Joaquina, tu vais começar a comprar tupperware novamente?
Joaquina: Não meu nego! Eu só comprei estes dois potes pequenos, para guardar o que sobrar do pirão que eu estou indo preparar para ti.
Ixtepô: Não adianta me enrolar, tu sabes que esta imensidão de pote vai incomodar aqui em casa. E tem mais, o plástico não é biodegradável.
Joaquina: Vou te dizer que o Neto chegou, da escola, falando a mesma coisa.
Ixtepô: Pois o Neto está estudando e sabe o que fala!
Joaquina: Mas será que o plástico é mesmo tão prejudicial?
Ixtepô: Eu tenho visto coisa Joaquina. Já vi ilhas enormes de objetos plástico boiando mar a fora, já retirei kilos de garrafa pet
derretidas em costão e até tartaruga engasgada com sacola eu já vi. Isto tudo começa dentro das nossas casas.
Joaquina: Tu tens razão. Ainda mais que nós somos daqui, temos que ser os primeiros a preservar. Me ajuda a separar os
tupperwares e este monte de sacolas e garrafa que eu guardo em casa. Bota tudo na kombi e vamos levar para a usina de reciclagem.


Eu fiquei todo orgulhoso da Joaquina. Mas quando eu puxei o primeiro potinho da prateleira e os outros cairam, todos, em cima de mim....Eu contei até três, porque a minha vontade era de dar um chute e fazer tupperware voar para tudo que é lado.
Ainda bem que esta foi a última vez!

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